Na rede

terça-feira, agosto 02, 2016

Aos que choram pelo Yahoo!

Doc nos lembra que as principais vítimas da implosão do Yahoo, seus usuários, não merecem qualquer atenção da mídia especializada. Toda ênfase é colocada na venda para a Verizon, gigante telecom dos EUA, por US$ 4,8 bilhões, ou no que restou -- US$ 41 bilhões em participação na chinesa AliBaba, no Yahoo Japan e em um pequeno portfólio de patentes.
O subtítulo da matéria de Maya Kosoff na Vanity Fair, "Não chore pelo Yahoo", é indicativo: "Quando grandes empresas de tecnologia falham, têm apenas a si mesmas para culpar". A abordagem pressupõe que a única coisa que interessa no caso Yahoo para o público é a própria empresa, e Marissa Mayer, 'celebridade ex-Google' e CEO fatal da empresa. Ignora-se os milhões de usuários e clientes pagantes que confiaram em Yahoo para o seu e-mail, seus grupos, suas listas, suas fotos.
Como usuário do Flickr, estou mobilizado. Trata-se de serviço que teria considerável valor de mercado como uma empresa ou serviço autônomo, se o Yahoo não tivesse insistido em se livrar de namespace do Flickr para cada membro, substituindo pelo login Yahoo. 
Doc sintetiza apontando um fato que vem passando desapercebido na mídia: nenhuma empresa é mais importante do que o que ele faz para seus usuários e clientes. E de fato, não há quase nada na cobertura da crise do Yahoo a explorar essa dimensão óbvia -- aquilo pelo qual realmente devemos chorar em toda esta tragédia do Yahoo.
A matéria de David Gelles no NYTimes, "Yahoo e o Universo Online conforme a Verizon", traz outro subtítulo revelador: "Ao comprar o Yahoo, a Verizon está se preparando para o dia em que seus clientes mais importantes serão os anunciantes, e não os usuários". Gelles demonstra que o objetivo da compra é competir com Google e Facebook em publicidade digital, através do compartilhamento de dados sobre os seus clientes online com os anunciantes.
Em tempo: A falência do Flickr / Yahoo nos lembra o quanto estamos defasados em termos de uma política pública para a memória digital. São muitos os casos de instituições de memória que utilizam o Flickr para divulgar suas coleções de imagens, e vou mencionar aqui apenas dois ícones: a British Library (1.023.714 imagens) e a Nasa (com suas inúmeras contas). Entretanto, com tamanho risco colocado ao nosso direito à memória pelo atual cenário das plataformas digitais corporativas, políticas digitais de cultura não são do interesse do governo interino.
Linkania:



Uber desiste da China (!!!)

Apesar da intensa concorrência local, o mercado chinês era dos maiores para o Uber no número total de corridas. A operação chinesa era projeto pessoal do co-fundador Travis Kalanick, que viajava regularmente para o país e fazia discursos onde figurava jargão dos funcionários do Partido Comunista Chinês. Seu interesse foi reforçado por milhares de milhões de dólares em investimentos.
Mas na segunda-feira, o Uber, conhecido mundialmente por atos de competição impiedosa, acenou a bandeira branca. Em um forte sinal do quão difícil é para as empresas de tecnologia americanas prosperar na China, o Uber China anuncia a venda para a Didi Chuxing, seu rival local mais feroz.
Com o negócio, a empresa vai se juntar às fileiras de pares americanos, como Google e eBay, que foram incapazes de consolidar presença na China apesar dos investimentos e do foco aplicados. O EBay foi atropelado pelo Alibaba, enquanto o Google deixou a China após ver-se alvo de ataques cibernéticos patrocinados pelo governo.
Ainda assim, o negócio está longe de ser uma catástrofe financeira para o Uber, que por cerca de US $ 2 bilhões em investimentos no mercado chinês recebe uma parte de $ 7 bilhões em uma empresa que deve crescer. Dessa forma, o Uber economiza recursos para competir em outros projetos.
Em tempo: À salvo de políticas neoliberais desregulamentadoras e concentradoras, a China é "ironicamente o país que mais se desenvolveu nas últimas décadas e que melhor resistiu à crise". Logo a China, que tem o que a The Economist chama de “capital confinado”.
Veja: