Na rede

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Lembrando Dpadua

Desde que o DPadua nos disse 'tchau' -- ou 'aloha' -- há exatos 2 meses atrás, venho querendo registrar em um post alguma coisa do que vivemos juntos. A efervescência criativa do DP impulsionou muitas das idéias que hoje estão se transformando em realidade no âmbito da Cultura Digital Brasileira, e a convivência que tivemos, desde o primeiro contato na blogosfera em 2002, resulta em inúmeras lembranças, fotos e links. Para o meu colega, amigo e irmão, vale reunir (agregar) mais este fluxo, para quem o conheceu, ou não, recordar DPadua.

Logo que lancei este blog (Ecologia Digital) em 2002, fui bem recebido na rede com um comentário do 'D'. O post dele já não está mais no ar, já que seu nomadismo se manifesta também em links efêmeros. Mas a minha resposta à sua saudação, referenciando toda a movimentação 'Metafórica' da época, é uma boa lembrança do que ele já aprontava no início do século:

Teve também muito significado ser citado nos fluxos do Daniel Pádua, a quem já havia anteriormente declarado meu reconhecimento devido à sua especial presença neste admirável espaço novo. O Blogchalking já é um fenômeno consagrado, mas o cara manda bem também em outras investidas como o GASLI (Grupo de Argumentação para o Software Livre) que está formulando colaborativamente um guia técnico para respaldar a Bancada do Software Livre no Congresso a criar problemas para Bill Gates aqui na Microsoftlândia, e o PROVOS, que propõe ações descentralizadas de mídia tática (entre elas o ZineProvos, em Wiki, onde já meti minha colher). É dele também o manifesto do Projeto Metáfora, e foi sua citação o impulso necessário para que eu pudesse me apresentar melhor à galera metafórica.
Agradecimento à comunidade: testmunho da calorosa acolhida do universo do blog-ativismo - Ecologia Digital (07/11/2002)
Segui acompanhando o 'Artesão de Redes' (nartisan) no ano seguinte, e quando no final de 2003 fui contactado por Claudio Prado (através deste blog) para ingressar no MinC de Gilberto Gil e plugar a então 'nova' reflexão sobre 'cultura digital' na web, não pude deixar de pensar em Daniel Pádua para compor a equipe. O convite foi feito em um comentário no seu blog, e a resposta foi pronta. Pronto! Dpadua estava em Brasília, vindo morar em minha casa, para trabalhar no MinC juntamente com o codeiro metaleiro Marcelo Metal. Estava formado o bunker do 'artesanato ecológico da cultura digitalizada' em Brasília, em plena comunidade Céu do Planalto.

O 'Sapo Crocante' passava então a fazer parte da família, junto com meu irmão (Daniel Duende) e meus filhos -- foto ao lado com Miguel, Luiza e Gabi. Um coletivo, uma irmandade, uma festa. Um ótimo contexto enfim para pensar tecnologia em termos humanos, pois como bem dizia o Sapão, "tecnologia é mato, o importante são as pessoas". Lá estávamos nós, morando no mato, e delirando sobre as possibilidades que a inspiração de Gil viabilizava sob o guarda-chuva temático da cultura digital no MinC.

Pádua nos acordava saltitante para mostrar desenhos intrincados, descrições de possibilidades vislumbradas no sonho. No dia seguinte, o plano poderia ser completamente outro, sem que isso implicasse em qualquer traço de contradição. Por vezes, ficava cantando o mesmo trecho de uma mesma música sem parar.. e frente à irritação do bando, sorria. Dizia que, no fundo, ele era 'uma ficção para os nossos sentidos'. Meu irmão (Duende) recentemente descobriu um sentido mais apropriado para este personagem fictício: Pádua encarnava o mito do imaginante, o 'sátiro pulapulante', e nos soprava o frescor de quem veio aqui para se divertir e divertir quem esteja por perto. O auto-divertido.

Enquanto isso, no MinC entre 2004 e 2005, juntamente com o Metal (ainda com cabelo), formávamos uma trinca para desafiar as limitações do serviço público em compreender a revolução da rede. O trampo básico era gerenciar a estratégia web do ministério, mas o fluxo criativo e o clima inspirado da gestão Gil nos colocava em outras 'viagens'. Junto com Alfredo Manevy (ainda menino) e Ronaldo Lemos (ainda com topete), bolamos o 1. Concurso de Idéias Originais e Demos de Jogos Eletrônicos, que promoveu o modelo de narrativas emergentes para a criação colaborativa de games baseados em idéias originais de jovens brasileiros. Um projeto muito louco. Além disso, a ativação de possibilidades interativas da rede nos eventos presenciais do MinC foi outra frente 'divertida' na qual pusemos a mão.

A percepção de que toda a movimentação ativada nos pontos de cultura e demais ações arrojadas do MinC merecia uma plataforma agregadora aberta na rede nos mobilizou nos últimos meses em que trabalhamos juntos, em 2006. Era a incorporação do conceito Xemelê em uma tecnologia apropriada -- um banco de dados quântico.

Não alcançamos o que desejávamos. Talvez não houvesse na época tecnologia madura o suficiente para acompanhar a criatividade saltitante do DPádua. A equipe se desfez ao final de 2006, mas é inegável que tudo o que fizemos no MinC desde então, culminando com a rede social (aberta e agregadora) CulturaDigital.br, tem nítidas influências do sapo.

DPádua então seguiu semeando cenários imaginantes, até que 'quase' conseguiu hackear a presidência da república com o que veio a se chamar 'blog do planalto'. Ao mesmo tempo, dançava, cantava e batucava maracatu no Seu Estrelo, reafirmando a alegria que pautava o seu dia. Conectados à distância, sempre trocávamos idéias sobre as novidades e novas possibilidades da rede.

Recentemente havíamos acertado seu retorno ao MinC, para compor a equipe da coordenação de cultura digital. Não deu tempo. A vida tinha outros planos. Mas em sua generosidade infinita, deixou para nós muitos presentes, dentre eles, seu sorriso.

Há 2 meses atrás o brother Duende disse: "espero que o DPadua dentro de todos vocês possa novamente cantar e dançar em breve." Amém.

DPadua Vive!


The Nartisan Manifesto: o artesão (de redes) não é movido pela destruição da autoridade, mas pelo vislumbre da liberdade de agir a seu modo.