Na rede

terça-feira, dezembro 25, 2007

David Byrne: estratégias de sobrevivência para artistas emergentes - e megastars

David Byrne - Wiredtradução de artigo de DAVID BYRNE na Wired

Esclarecimento:
Eu já fui proprietário de um selo (gravadora). Este selo, Luaka Bop, ainda existe, mas eu não estou mais envolvido em sua administração. Meu último disco saiu pela Nonesuch, uma subsidiária do império Warner Music Group. Eu também já publiquei música através de gravadoras independentes como Thrill Jockey, e imprimi CDs para venda em tours. Eu faço tours regularmente, e não vejo isto como uma forma de promover a venda de CDs. Portanto, eu experimentei este negócio de ambos os lados. Ganhei dinheiro, e também fui explorado. Tive liberdade para criar, e também fui pressionado para gerar hits. Tive que lidar com ‘divas’ do mundo da música, e vi discos geniais de artistas maravilhosos serem completamente ignorados. Eu amo a música. Eu sempre amarei. A música salvou a minha vida, e eu aposto que não sou o único a dizer isto.

O que chamamos de música hoje, entretanto, não é o negócio da produção musical. Em um certo momento se tornou o negócio de vender CDs em estojos plásticos, e esta indústria estará acabada em breve. Mas isto não é uma má notícia para a música, e certamente não é má notícia para os músicos. De fato, com todas estas novas formas de acesso a audiências, nunca antes tantas oportunidades estiveram disponíveis para os artistas.

Qual o fim disso? Bem, alguns mapas mostram tendências inexoráveis:

Indústria da Música - Wired

O fato do Radiohead haver lançado seu último álbum online, e de Madonna debandar da Warner Bros. para a Live Nation, uma empresa que promove concertos, é visto como um sinal do fim do negócio da música como o conhecemos. De fato, estes são apenas dois exemplos de como os músicos estão cada vez mais em condições de trabalhar fora do tradicional relacionamento com as gravadoras. Não há um caminho único para se fazer negócio estes dias. Pelas minhas contas, existem pelo menos seis modelos viáveis. Esta variedade é positiva para os artistas, pois promove novas formas de recompensa ao trabalho dos músicos. E á bom também para os diversos públicos, que terão maior quantidade — e qualidade — musical disponível. Vamos dar um passo atrás para termos uma melhor perspectiva.

O que é música?

Primeiramente, uma definição dos termos. De que afinal estamos falando? O que exatamente está sendo comprado e vendido? No passado, música foi algo que você escutava e vivenciava — era um evento social além do puramente musical. Antes do advento da tecnologia de gravação, você não podia separar a música de seu contexto social. Canções e baladas épícas, trovadores, espetáculos para a corte, musica em igrejas, cantos xamânicos, cantorias em pubs, música ceremonial, música militar, música para dança — estavam todas de alguma forma ligadas a funções sociais específicas. Era uma atividade comunitária, e quase sempre cumprindo uma função. Você não podia levar a música para casa, copiá-la, vendê-la como uma commodity (a não ser como partitura, mas isto não é música), ou mesmo ouvi-la novamente. Música era uma experiência, intimamente casada com a sua vida. Você poderia pagar para ouvir música, mas depois de pagar, já era, foi — tornou-se uma memória.

A tecnologia mudou tudo isto no século 20. A música — ou, pelo menos, seu artefato de gravação — tornou-se um produto, algo que poderia ser comprado, vendido, trocado, e tocado infinitamente em qualquer contexto. Isto transformou a economia da música, mas nossos instintos humanos permaneceram intactos. Eu passo muito tempo com fones nos ouvidos escutando música gravada, mas ainda curto poder estar no meio do público em um concerto. Eu canto para mim mesmo, e, sim, eu toco um instrumento (nem sempre bem).

Sempre iremos querer utilizar a música como parte de nosso tecido social: para nos reunir em concertos e em bares, mesmo que o som esteja uma droga; para transmitir música de mão em mão (ou pela Internet) como uma forma de moeda social; para construir locais onde ‘a nossa gente’ possa escutar música (teatros para óperas e sinfonias); para saber mais sobre os nossos ‘bardos’ favoritos — sua vida amorosa, suas roupas, suas crenças políticas. Tais contextos revelam um impulso inato para um cenário além do artefato plástico. Pode-se dizer que este impulso faz parte de nossa estrutura genética.