Na rede

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Em 2008: redes sociais abertas para todos

Muito se tem falado do choque de gerações que está acontecendo, entre a galera que está entrando no mercado de trabalho tendo convivido intimamente com a Internet e explorado as possibilidades das redes sociais durante toda a adolescência, e a turma mais velha, os que ainda se escandalizam com a "despudorada" exposição que enxergam nos perfis de seus filhos no orkut.

Tenho lidado com a capacitação para o uso corporativo das ferramentas web, e portanto venho observando o fenômeno. O resultado prático é que, hoje, fica muito mais fácil contratar uns 'meninos' para as funções que precisam ser desempenhadas do que 'convencer' os mais velhos a se apropriarem das ferramentas de comunicação e colaboração disponíveis. A solução têm sido juntar um especialista experiente (curador) com um 'blogueiro', um 'menino' que saiba publicar e fazer uso das redes sociais e das múltiplas possibilidades de comunicação em tempo real. É bom frisar que estes desta galerinha se apresentam não só familiarizados com a tecnologia, mas também dispondo de uma habilidade de composição editorial multimídia 'em tempo real' que torna-se um diferencial.

Hoje li um artigo -- 'The Rediscovery of Discretion', na ótima edição da Economist (The World in 2008) -- que me chamou a atenção. Entre as previsões para o próximo ano está a aproximação desta turma dos mais velhos às possibilidades das redes sociais, e o autor afirma que isto será fruto de evoluções na tecnologia. Alguns trechos me pareceram bem interessantes:

Durante os primeiros 200 milênios das espécies, as redes sociais humanas permaneceram tecnologicamente estáveis. As pessoas se sentavam em círculo em torno a fogueiras, contavam estórias e cultivavam relações. A literatura e as cartas, e mais tarde o telefone, ajudaram a extender esta possibilidade à distância. Mas a questão mais complicada sempre foi encontrar o equilíbrio certo entre divulgar de mais ou de menos à rede, e entre ser demasiado arrojado ou tímido na busca de novas amizades, parcerias e alianças.

Então, durante a primeira década do século 21, a internet pareceu resolver temporariamente esta dificuldade ao gerar as várias redes sociais online -- trazendo nomes como MySpace e Facebook -- que tiveram forte apelo junto às psiques frágeis de uma geração, denominada "Y", e deixaram a geração precedente, chamada "X", perplexa e horrorizada.

O que atraiu os "Y"s foi a trementa escalabilidade do meio (promovendo enormes ganhos de eficiência na busca de relacionamentos amorosos), sua vocação para a propaganda pessoal (com fotos 'selvagens' para, digamos, anunciar popularidade), e acima de tudo, a suspensão temporária das dificuldades que surgem no trato das relações sociais na vida real. Os velhos escrúpulos em questões de discreção pareceram tecnologicamente obsoletos. Entretanto, foi exatamente o uso relaxado destas 'funcionalidades' pelos "Y"s que deixaram os "X"s perplexos, e depois horrorizados, ao aterrisarem nestas redes no papel de 'pais e/ou responsáveis' realizando jornadas inquisidoras...

... Isto vai mudar em 2008, na medida em que a tecnologia das redes sociais se adapte à natureza humana, ao invés de forçar a natureza humana a se adaptar à tecnologia. Os líderes da indústria em 2007 foram estes antiquados 'walled gardens' (jardins murados). Eles surgiram com templates genéricos, com os aspectos sociais cruciais -- qual informação fornecer em um perfil, etc. -- pre-determinados por programadores. Sim, eles permitiram que os usuários customizasem suas páginas iniciais, mas isto já era possível nos 'walled gardens' do início dos anos 90, em serviços online como AOL ou Compuserve.

Estes serviços fechados faliram e deram espaço, após a revolução do Netscape e seus emuladores, à Web aberta e polivalente. A mesma coisa irá acontecer em 2008 no mundo das redes sociais. No lugar dos 'jardim murados' para incapacitados, irão surgir kits de ferramentas abertas que permitirão a qualquer um, com alguns poucos e simples clicks, criar sua própria rede social, que será uma extensão das relações existentes na vida real.
No final do artigo o autor menciona o Ning como um exemplo destes kits de ferramentas, e nós poderíamos falar também que a iniciativa Open Social do Google vai na mesma direção, e talvez mencionar o artigo no GigaOm que fala das possibilidades do Wordpress como plataforma para redes sociais. Ou seja, várias indicações de um movimento forte na direção das plataformas abertas 'centradas-na-pessoa', customizáveis para atender às perspectivas particulares de como interagir na rede e passíves de se conectar de variadas formas a outras redes e plataformas.

Troque seu Orkut por um Blog


Neste clima de otimismo para o próximo ano, e buscando traduzir estas tendências globais em uma mensagem pertinente para o público local, só posso relembrar a campanha lançada pelo meu amigo Roberto Taddei em abril de 2006, e que a cada dia se torna mais atual.
  • Pelo uso inteligente do tempo online.
  • Pela (re)afirmação da cultura.
  • Pela interatividade real.
  • Pela inteligência colaborativa.
  • Pela conquista do espaço virtual aberto e livre.
  • Pela manutenção e recriação do português.
  • Pelo não ao voyeurismo tímido.
  • Pela cara a tapa.
  • Pela contribuição milionária de todos os pontos de vista.
  • Pelo mundo ao contrário.
  • Participe você também da campanha “Troque seu orkut por um blog”.