Na rede

quarta-feira, agosto 22, 2007

Comentando o 'post' do Estadão

[Eu juro que tentei postar estas linhas como comentário na matéria que o estadão publicou em seu 'portal' sobre o imbroglio com a campanha publicitária, mas o tal novo portal'ão' apesar de apresentar boas soluções de customização para usuários com base em tags, é uma lástima em termos de acessibilidade inter-browsers. Não consegui logar para comentar com o Firefox, e no IE6 o site simplesmente não funciona (assim fica fácil de implementar, né galera?). Portanto o recado é direto para o Estadãoão, e agora vai em hipertexto ;-) ]

"Olá,

Interessante e louvável a proposta de debater o tema aqui no portal.

Sou editor de língua portuguesa do Global Voices Online, e assino o post de onde foi retirada a citação do último parágrafo. Cabe esclarecer que a missão do GVO é realizar o bridge-blogging, cabendo a editores e colaboradores fornecer o contexto para que um público internacional possa acessar as 'vozes' locais. Nossa contribuição é retratar este contexto através de reportagens na blogosfera local sobre temas de interesse global, traduzindo citações de blogs nos diversos idiomas para o inglês.

Sob o tema do post em questão, devo dizer que considero que as peças da campanha são de alta qualidade em seu aspecto de comicidade, e acredito ser este o principal motivo do efeito viral. Um sinal claro disto é o fato do vídeo do anúncio do macaco , que publiquei no dotsub para legendar em inglês, já haver sido a esta altura traduzido para outros 5 idiomas -- alemão, holandês, espanhol, esperanto, e interlíngua(!) --, e figurar como destaque principal do site desde o dia em que foi postado. Ou seja, a criatividade embutida na peça em si já é o viral, independentemente da campanha.

Quero destacar aqui que, diferente do que publiquei então, não me parece agora tão óbvio que o efeito viral na rede tenha sido previsto e desejado pela Talent - principalmente pelo fato de não haver peças produzidas para a web. O comentário da Teca no Alex Primo (via Deak) a meu ver acerta em cheio na avaliação. Por outro lado, é incrível que os executivos do jornal responsáveis pela aprovação das peças não tenham detectado o alto grau de provocação à blogosfera contido na mensagem da campanha, e as repercussões possíveis.

O resultado final soou inapelavelmente como uma desqualificação generalizada dos blogs, e a proliferação de interpretações na blogosfera sobre as verdadeiras intenções da campanha são, no mínimo, compreensíveis. Principalmente neste momento em que os blogs ocupam de forma legítima os territórios de livre conversa proporcionados pela rede, e conquistam espaços importantes no olimpo dos formadores de opinião, o que há muito era exclusividade dos grandes veículos e seus luminares.

Mas já que a conversa está aberta, e até que está boa, vou aqui sintonizar o caboclo blogueiro e passar 3 dicas quentes para o colega estadão (olha a intimidade!):

  1. A rede são os links e os links são a rede, como bem lembrado pelo colega wainermartins, e portanto falar da blogosfera sem linkar é falta de respeito. E lembre-se que blogueiros redigem em hipertexto, portanto, seção de comentários sem links trata-se de interface defeituosa.

  2. Esqueça a web 2.0 e se ligue na web ao vivo. Esta é a rede que pode ser descrita através de verbos como escrever, ler, atualizar, postar, editar, assinar, taguear, sindicar, xemelizar e linkar. A web ao vivo está sendo construída por sobre a web estática, a qual se traduz em substantivos como website, endereço, localização, tráfego, arquitetura e construção. A web ao vivo é esta acontecendo agora, de forma dinâmica, e compreende o conteúdo que pode ser encontrado via Technorati e Google BlogSearch (esqueça o google padrão), máquinas que irão indexar em minutos o que estou postando aqui, e o que outros postarão sobre estes meus 'dois palitos' nesta conversa.

  3. Esta vem do Código Aberto: "A notícia está deixando de ser um produto para se transformar no ponto de partida de um processo, que começa com os jornalistas, que depois cedem o papel principal para os leitores. Os profissionais deixam de ser os donos da notícia." Eu diria: não pense em blogueiros como produtores de 'conteúdo'. Não encaro o meu ato de blogar como produção de informação para ser consumida por outros, e sim como escritos que podem vir a informar outros interessados. Digo 'informar' neste sentido mais básico de 'formar', alargar o espaço interno que define a minha humanidade: aquilo que eu sei. Autoridade na blogosfera é o direito que eu concedo a outros de me informar, de alargar os horizontes do que conheço. Nesta ecologia, reputação é tudo. E o 'Bruno' é bemvindo.
Para terminar, fechando o comentário, saúdo os 60 anos de Doc Searls (agora em novo blog), agradecendo por tanta generosidade, e pela (in)formação de qualidade.

Saudações,
José Murilo"

terça-feira, agosto 14, 2007

Metaversos: o 'hype', a bolha, e o futuro

A wikipedia nos diz que o termo METAVERSO surge pela primeira vez na ficção do Neal Stephenson, Snow Crash (1992). Devidamente disseminado na rede, o termo hoje serve para nomear o conceito de 'espaços 3D virtuais totalmente imersivos'. Metaversos são ambientes onde humanos interagem (como avatares) entre si (socialmente e economicamente) e com personagens-software, em um ciberespaço. Ou seja, trata-se de um universo virtual moldado em metáforas do mundo real, mas que ignora as limitações físicas deste.

De nossa parte, sempre estivemos atentos ao desenvolvimento do conceito metaverso. Afinal, metaversos virtuais são intuitivamente conexos à idéia de uma ecologia digital. O exemplo mais presente é sem dúvida o Second Life do Linden Labs, que surfou uma onda alta de hype -- com filial local e tudo... -- e hoje parece estar passando por uma reavaliação de suas premissas básicas. No último fim de semana o tema esteve presente em vários artigos nos principais veículos da grande mídia, e a maioria menciona o fracasso do projeto em realizar as expectativas geradas pelo entusiasmo dos 'early adopters' na época do lançamento. Veja abaixo:

Devo dizer que chegamos a discutir as possibilidades de exercitar os conceitos do metaverso no âmbito das ações de cultura digital do MinC. Afinal, o projeto Second Life apresentou algumas propostas inovadoras em relação ao gerenciamento da propriedade intelectual do conteúdo criado em seus servidores, ao contrário de outros jogos famosos na rede como por exemplo o World of Warcraft. Entretanto, ao tempo em que detectamos um esforço de seus criadores em ajustar a proposta do Second Life aos princípios de liberdade e flexibilidade da rede -- chegando a disponibilizar o cliente como 'open source' e formular estratégias para também 'abrir' a aplicação do servidor --, até o momento são evidentes as características monopolistas do 'business model' definido pelo Linden Labs para a implementação global da idéia.

Exemplo 01: todos os usuários do SL assinaram um termo de uso que concede à empresa grande poder de avaliação sobre o que constitui "comportamento aceitável". Caso você esteja do lado errado das leis do Linden Labs, não há a quem recorrer -- seus avatares e objetos não poderão, neste momento, ser transportados para outro mundo que funcione com outros governantes ou com um conjunto de regras diferente.

O que podemos observar neste momento, do ponto de vista da 'ecologia digital', é que o processo de reavaliação das premissas de um projeto de metaverso em escala global como o Second Life pode proporcionar insights interessantes sobre as possibilidades reais do conceito. No rastro da tarefa de 'desconstrução do hype' ora assumida pela big media, blogs estão mergulhando mais fundo na discussão do presente cenário e de futuros possíveis. Os links abaixo fornecem bom combustível para o pensamento e o debate, especialmente o post "Morte à 'Snow Crash'", que sugere que ultrapassemos a perspectiva ideal de um metaverso unificado na web. Explore os links:

Em síntese
, a visão conceitual de um metaverso 3D unificado na web está calcada no passado, no século XX. As inovações trazidas pela web 2.0 demonstram que a visão da rede como 'algo singular' é uma continuidade equivocada de estratégias centralizadoras. O futuro aponta para uma descentralização flexível, e portanto é muito mais interessante pensar em uma rede constituída de muitos 'mundos' distribuídos, alguns interativos em 3D e outros para leitura 2D. Nossa tarefa é desenvolver aplicações e modelos de negócio que possam combinar tais mundos em um mosaico de items, sites e lugares independentes mas potencialmente interligados.

Exemplo 02: eu acharia o máximo ter no meu blog uma aplicação que disponibilizasse uma sala de estar virtual particular, de preferência com vista para o mar -- ou melhor ainda, vista customizável conforme os humores do dia --, onde os visitantes pudessem entrar com seu próprio avatar e fosse possível rolar um bate-papo em 3D imersivo, com som ambiente direcional. Cá entre nós... tal aplicação poderia significar um definitivo adeus à confusão analógica causada pelas interfaces de video-conferência que utilizamos hoje.