Na rede

terça-feira, dezembro 05, 2006

Ciclo de Debates "A Cultura Além do Digital" em WebCast

O Programa Cultura e Pensamento transmitirá, ao vivo, através da internet, o ciclo de debates 'A Cultura Além do Digital', projeto selecionado na edição 2006. Serão abordados os sub-temas 'Inovação Tecnológica, Mídia e Processos Culturais', 'Cultura Digital é Cultura Livre?', 'Redefinindo públicos e novos sentidos das culturas', 'Diálogos entre diferenças', 'Bastidores e políticas' e 'O horizonte da Cibercultura'. Nomes como Seth David Schoen (EFF), Mário Teza, Ronaldo Lemos, H. D. Mabuse, André Lemos, Gustavo Gindre, Silvio Meira e Claudio Prado estarão presentes nas várias mesas de debate.

Realizado pelo tangolomango e com curadoria de Heloisa Buarque de Hollanda (UFRJ), o seminário, "A Cultura Além do Digital" procura apreender os processos de transformação desencadeados pela difusão pelas novas tecnologias digitais de comunicação no plano das relações políticas, econômicas e sociais e seu impacto no contexto da cultura.

Para além do debate, no entanto, o objetivo maior é propor políticas e ações que possam tornar efetivo o potencial emancipatório e democratizante desses processos. Vale à pena conferir, acompanhar, blogar, e ampliar o alcance do debate.

Se liga! De 05 a 08/12 e de 12 a 14/12, entre no webcast pelo link abaixo, sempre às 18 horas.
O link é: http://gtvd.rnp.br/d-webtv.jsp?id=digital

PROGRAMAÇÃO dos DEBATES >>>

Outros ciclos de debates do Cultura e Pensamento 2006:

quinta-feira, novembro 23, 2006

Sobre o Partido Pirata

Aqui vão alguns links que comporiam um dossiê sobre o Partido Pirata:

Pirate Party - Wikipedia
Aqui está a informação mais atualizada e completa sobre o Partido Pirata na Suécia. Não tem ainda representação no parlamento, mas já é hoje o segundo maior partido em termos de membros inscritos.

O Partido Pirata sueco obteve 39.918 votos nas eleições realizadas em Setembro, alcançando 0,36% dos votos em sua primeira participação em uma eleição desde a sua fundação há dez meses atrás. Torna-se assim o décimo maior partido entre 40 que disputaram o voto, e o terceiro maior entre os partidos ausentes no parlamento.
O mapa abaixo apresenta a situação do Partido Pirata no mundo:
O Partido Pirata está oficialmente registrado na Espanha, Austria e Alemanha, e é ativo mas ainda não registrado nos EUA, Reino Unido, Australia, França, Polônia, Itália, Russia e Bélgica. Além disso, existem debates em curso no âmbito do Partido Pirata Internacional sobre a formação de núcleos na Holanda, Brasil, Canadá, Suiça, Nova Zelândia, Sérvia, Romenia, na Republica da Irlanda, e uma carta de notificação sobre a formação do partido no Peru.


  • Pirate Party with elected representatives
  • PP with notable election result (>0.1%)
  • Pirate Party ready for elections
  • PP registering and organizing
  • Pirate Party initiative exists
  • Discussions on Pirate Party International
  • No Pirate Party
  • Defunct Pirate Party

Recentemente houve o lançamento do site do Partido Pirata na Espanha, e consta link para um Forum do Partido Pirata Internacional , onde em um tópico foi iniciada a gestação do Partido Pirata brasileiro.


Segue abaixo conjunto de links interessantes sobre o tema:

Pirate Party Launches High-Capacity Darknet
(Darknet = serviço que permite troca
dearquivos e informação na rede sem o risco de monitoração)
14 Aug 2006

The Swedish Pirate Party has launched a commercial, high-capacity darknet, on
an unprecedented scale and bandwidth. This service lets anybody send and receive
files anonymously without being tracked or traced, and can pump data well ...

the swedish pirate party presents their election manifesto
29 Aug 2006

on august 28, the pirate party of sweden made their election program official.
an introduction stating the ideas and ideology behind their program, the party
stated their program for the election in a number of concrete points. ...

emergent democracy and viral marketing: the pirate party
23 Sep 2006

an example of such a disruptive flash politics is the pirate party (swedish:
piratpartiet). the party has gained wide support without institutional or financial
backing. the idea that has enthused so many is to re-balance the power of ...

sweden's pirate party targets eu parliament
29 Sep 2006

sweden's pirate party has announced plans to coordinate copycat parties around
europe in an attempt to win seats in the eu parliament in the 2009 elections.
"it is a realistic goal," the party's vice chairman tells the local.

assim se vê a força do pirata!
25 Oct 2006
by Miguel Caetano
através de um link do hernani dimantas no comunix, cheguei a uma entrevista com
dois responsáveis do recém-formado partido pirata espanhol publicada no site da
comunidade chilena de software livre que mostra que, a par com os estados ...

entrevista al partido pirata español
17 Oct 2006
natsu y ninher, ella y él, son responsables de prensa del partido pirata, iniciativa
española que sigue al resto de países europeos donde el sentimiento de menosprecio
al internauta ha puesto la semilla para que vea la luz un proyecto ...

Saudações Piratas!

UPDATE via FF: Universidade Pirata!!

  • Vemos a educação e a pesquisa como condição fundamental para a desconstrução de padrões de pensamento e comportamento que nos mantém em estado de perpétua repetição;
  • Queremos prover a nós mesmos as habilidades que nos permitam analisar e responder à realidade que nos cerca;
  • Queremos inaugurar o espaço aberto onde seja possível aplicar tratamento 'acadêmico' rigoroso a temas ignorados pelas instituições por falta de valor de mercado;
  • Precisamos de um espaço autônomo para pesquisa e educação em profundidade...

terça-feira, novembro 07, 2006

Lei Azeredo: pior do que na China!

Nesta quarta-feira (amanhã), a Comissão de Constituição e Justiça do Senado estará apreciando...

...um projeto de lei que obriga a identificação dos usuários da internet antes de iniciarem qualquer operação que envolva interatividade, como envio de e-mails, conversas em salas de bate-papo, criação de blogs, captura de dados (como baixar músicas, filmes, imagens), entre outros.O acesso sem identificação prévia seria punido com reclusão de dois a quatro anos. Os provedores ficariam responsáveis pela veracidade dos dados cadastrais dos usuários e seriam sujeitos à mesma pena (reclusão de dois a quatro anos) se permitissem o acesso de usuários não-cadastrados. O texto é defendido pelos bancos e criticado por ONGs (Organizações Não-Governamentais), por provedores de acesso à internet e por advogados. Os usuários teriam de fornecer nome, endereço, número de telefone, da carteira de identidade e do CPF às companhias provedoras de acesso à internet, às quais caberia a tarefa de confirmar a veracidade das informações.O acesso só seria liberado após o provedor confirmar a identidade do usuário. Para isso, precisaria de cópias dos documentos dos internautas.

Projeto quer controlar acesso à internet - ELVIRA LOBATO - da Folha de S.Paulo, no Rio
Ou seja, enquanto o mundo livre discute formas de facilitar a entrada na rede com o intuito de proporcionar indistintamente a todos as vantagens da livre comunicação e do acesso irrestrito à informação e serviços disponíveis na Internet, o congresso brasileiro está avaliando a possibilidade de estabelecer um tipo de controle que só encontra paralelo na China. Conhecido como 'Real Name blog system', a iniciativa do governo chinês (ainda não implementada) está direcionada apenas para os blogs, e mesmo assim vem encontrando grande resistência (!):
'Em sua edição da semana passada, o 21st Century Business Herald da China reportou que representantes da indústria da tecnologia da informação teriam formado um 'grupo de pesquisa sobre Weblogs' para explorar a possibilidade de criação de um sistema de identificação para a população blogueira no país, requerendo todos os usuários a registrarem-se com seus nomes verdadeiros. A notícia causou revolta na mídia comercial e entre os usuários da Internet, impulsionando o debate sobre privacidade, anonimidade e liberdade de expressão.'

Chinese media criticize proposed "identification system" for Weblogs in China - China Media Project
Os blogueiros chineses estiveram recentemente reunidos no CnBloggercon e o 'real name system', como não poderia ser diferente, esteve na pauta. Me parece bem ilustrativa a defesa que o blogueiro Lian Yue apresenta para a manutenção da anonimidade na rede:
"As pessoas precisam aprender a expressar suas opiniões. A Internet serve a esta função de fomentar o desenvolvimento da auto-determinação. Apesar de uma linguagem rude expressar uma opinião, em geral não será persuasiva para outros. Quando alguém percebe que este tipo de expressão é ineficaz, ele irá gradualmente abandonar este caminho e buscará métodos mais lógicos de persuasão. Uma criança inicialmente usa o choro para expressar seus pontos de vista. Se quer leite, chora; se quer fazer cocô, chora; é dífícil a comunicação com ele e não se pode simplesmente mandá-lo calar dizendo: 'Você é um ignorante. Você não sabe como falar. Qual o sentido de ficar aí chorando?' Mas depois de muito chorar, ele eventualmente aprende a falar para articular suas necessidades... A natureza anônima da Internet não é benéfica somente no sentido de uma maior harmonia social, é também uma universidade para o discurso cívico. Este é o 'almoço grátis' que a Internet nos provê. Se queremos nos livrar disto, então somos mesmo muito ignorantes. É tão difícil avaliar a opinião pública em um contexto onde o discurso público é contrangido -- o discurso anônimo na Internet funciona como um polimento que ajuda as pessoas a entenderem melhor a sociedade.

The Anonymous Internet is the Citizens' University. By Lian Yue.
O tema me recorda também de um debate recente impulsionado por um post do David Weinberger onde ele apresentava a anonimidade como default na rede. Re-encontrei o link em um post que publiquei no Global Voices sobre transparência, e me parece interessante apresentar aqui a argumentação do Joho. Afinal, instituições e indivíduos não estão sempre sobre as mesmas regras no mundo real, e a web é o lugar onde 'avatares' de diversas procedências e contextos se misturam. Queremos realmente interromper esta dinâmica interativa que se desenvolve na rede global?
Então, Viva a Transparência... exceto...
Exceto que é importante que preservemos algumas sombras. A opacidade é a forma de anonimidade que protege os dissidentes, as mulheres que apanham dos maridos, as meninas procurando por informações sobre aborto, as pessoas que encaram sentimentos de vergonha sobre quem são, e muito mais. Anonimidade e pseudonimidade permitem a pessoas que não possuem níveis razoáveis de auto-confiança participar da web da mesma forma que as vozes mais poderosas lá presentes... Da mesma forma, algumas reuniões devem acontecer de portas fechadas. A privacidade pode ser libertadora. Existem algumas coisas que não devemos saber, e algumas atividades funcionam melhor com as luzes apagadas. É claro que ocorrem abusos, mas a anonimidade pessoal é default no mundo real -- se você vive em uma cidade grande, não somente você não conhece todo mundo que encontra, como também você não está autorizado a solicitar que se identifiquem -- e este deve ser o default no mundo online. A exigência 'de cima para baixo' por uma estrita identificação digital, que pode até parecer uma boa idéia no papel, tende a transformar o default e colocar em perigo as liberdades políticas, o crescimento de novas formas de interação social, e sentido liberador da performance pessoal. Transparência é à priori um bem para instituições, mas nós indivíduos somos mais complexos do que isso. Portanto, a onda de transparência varrendo as empresas (e governos) é saudável e importante. Diferentemente da justiça, transparência não é um bem em si mesmo. Precisamos utilizá-la de olhos bem abertos.

Transparency and Shadows By David Weinberger - Strumpette
Ainda sobre o tema, vale conferir a reportagem do IDGNow sobre implicações concretas da 'Lei de Crimes Digitais' do senador tucano. A InfoOnline montou um formulário para manifestações diretamente ao senador. Nesta hora, colegas, vamos fazer barulho pois o que está lá sendo apreciado é o típico absurdo federal.

UPDATE: o Projeto de Lei foi retirado da pauta da CCJ, ao que parece, em função do grande barulho que mídia e blogs (de direita e esquerda) fizeram sobre o tema. Mas o debate continua pois o tema certamente voltará à pauta e, seguindo a sugestão do leitor Rafa, apresento links para o parecer do relator (Sen. Eduardo Azeredo) e a íntegra do PL, e também para uma apresentação sobre as especificidades da proposta.

  • Leia a íntegra do projeto
  • Apresentação resumida do projeto
  • quarta-feira, novembro 01, 2006

    IGF - Atenas: Respondendo à Carta Maior

    Na correria absoluta que é um evento como o IGF em Atenas, fica difícil achar tempo para organizar as anotações e blogar. Sem falar que me propus a blogar também em inglês para experimentar o diálogo com a blogosfera participante. O fato é que o Carlos Augusto Yoda, da Carta Maior, me mandou umas perguntas sobre o que está rolando no IGF, e para respondê-lo acabei conseguindo parar e registrar algumas observações que achei interessante postar aqui. Seguem abaixo minhas respostas às perguntas do Yoda:

    - quais medidas democratizantes estão sendo debatidas nesta reunião do fórum? quais os principais embates com os estados unidos? como está formada a correlação de forças?

    Esta é a primeira reunião do Forum, que se apresenta como um 'processo', e cuja continuidade está marcada para o Rio de Janeiro em 2007. O evento apresenta muitas novidades em sua configuração, e é denominado 'multi-stakeholder policy dialogue', o que na prática significa um forum aberto, heterogêneo e não-hierarquizado para o debate sobre políticas públicas para a rede. De fato, todos os aspectos da Internet estão sendo debatidos aqui. A atividade é muito intensa, com uma plenária principal e 3 workshops acontecendo ao mesmo tempo, e portanto não há condição de acompanhar tudo o que acontece. Pela própria constituição do fórum, os temas são em geral debatidos sob óticas democratizantes e inclusivas, mas é importante que se diga que nenhuma decisão será tomada em Atenas. Aqui tem se falado de custos de conexão, spam, multilingualismo, censura, cybercrime, cybersegurança, questões de gênero na rede, privacidade e proteção de dados, padrões abertos, liberdade de expressão, direitos humanos, direitos autorais, ufa...

    Os EUA ocupam uma posição interessante na questão. São os 'pais' da Internet, e a maioria dos que aqui se encontram são ativistas das causas democráticas da rede. A questão que não quer calar é o papel central da norte-americana Icann em uma rede que tende cada vez mais à internacionalização. Processos decisórios importantes que afetam a todos precisam de maior representatividade e transparência, e os esforços da entidade neste sentido não conseguiram apaziguar demandas pela internacionalização do serviço manifestadas na Cúpula de Tunis por vários países - entre eles o Brasil. Mas este tema não está exatamente na pauta do IGF-Atenas (!). Quem sabe no Rio?

    Registre-se que grande parte da comunidade norte-americana na rede, como a maioria dos blogs, ignora solenemente o evento. Para os geeks, que de certa forma se sentem meio 'donos' do brinquedo, governos (inclusive o deles) só podem atrapalhar o que está dando certo. O que dizer de um um coletivo de governos liderados por uma cada vez mais desacreditada ONU? Como você pode ver, a Internet detona mesmo com as fronteiras, e neste caso nem podemos ver a posição norte-americana como um bloco homogêneo.

    - qual o papel do brasil, estado e sociedade civil, dentro do fórum e em outros espaços na governança da internet?

    O Brasil segue tendo presença em muitas frentes. O Carlos Afonso da Rits acompanha esta questão da Icann há muito tempo -- juntamente com o Zé Alexandre Bicalho --, e introduziu o tema no Openness Panel (para desagrado de alguns). O Rogério Santana do Ministério do Planejamento tem participação relevante no workshop sobre Open Standards, que desta vez conta com o apoio direto da Sun. Será formada uma 'dynamic coalition' (outro conceito novo do IGF - seriam os verdadeiros resultados esperados para o forum) para difusão dos padrões abertos de documentos para governos. E ainda não falamos no Demi Getschko e na Vanda Scartezini que são membros do board da Icann.

    Pelo MinC lá está eu, e hoje aconteceu o Workshop por uma 'Carta dos Direitos da Internet'. A idéia surgiu em Tunis tendo entre os patrocinadores o Lessig, o Stallman e o Gil, além de membros do parlamento italiano e a ong IPJustice.org. Como ele não pôde estar dessa vez, vim representá-lo, e trouxe basicamente a reivindicação espontânea que nasce nos 'pontos de cultura', pelo direito de REMIXAR cultura digitalmente. Em um forum onde tantos assuntos são tratados especificamente e nenhum consenso é alcançado parece fazer sentido pensar em um conjunto de direitos e deveres fundamentais orientadores, e o Workshop foi bem concorrido (deu na BBC!). Mais uma 'dynamic coalition'...

    - desde a criação do fórum, houve algum tipo de avanço em discussões? o Icann perdeu forças nesse tempo ou acabou se fechando ainda mais para controlar a grande rede?

    Como disse, o caso (internacionalização do) Icann não está na pauta do IGF-Atenas. O que está se discutindo neste nível é a utilização de outros alfabetos na formação de domínios, que é uma reinvidicação importante dos países asiáticos -- cada vez mais fortes na rede. Trata-se de pauta do multilingualismo que é tema de destaque no forum, e me parece que o Icann está empenhado em apresentar soluções rapidamente.

    Acredito que o grande mérito do IGF está sendo a oportunidade de encontro pessoal e livre troca de idéias e informações entre 'usuários' e 'admins' da grande rede, o que tem sido facilitado pela estrutura mais horizontal e participativa do evento. A Internet está chegando em todos os lugares mas não da mesma forma e a desinformação ainda é muito grande, por exemplo, nos países africanos. Para muitas delegações, a grande descoberta neste forum foram os kits anti-spam. Relatam por exemplo que no pouco tempo de conexão (lenta) de que dispõem para acessar seus e-mails (praticamente o único recurso que usam na web), os minutos preciosos que perdem baixando spam praticamente inviabiliza o uso. Parece que as tais 'dynamic coalitions' compostas por este novo contingente de usuários globais da rede podem começar a funcionar, da mesma forma como as amizades virtuais que só se concretizam mesmo depois de um encontro frente a frente, analógico.

    Pode ser interessante começar a pensar no IGF-Rio desde já!

    - em Tunis chegaram a discutir o que chamaram de e-lac - governo eletrônico para América Latina e Caribe. essa questão avançou de alguma maneira?

    Rapaz, sobre isso não tenho informação. O Rogério Santana deve ser a pessoa certa para lhe dizer.

    No meio da correria, tu conseguiu me fazer parar para escrever o que estava na ponta da língua... Vou aproveitar e blogar pois ficou bem ilustrativo.

    Valeu.
    Abraço,
    Murilo.

    UPDATE: veja a íntegra da matéria publicada na Agência Carta Maior em 07/11/2006

    quarta-feira, outubro 25, 2006

    Rumo ao Fórum de Governança da Internet - IGF / Atenas 2006

    Estou neste momento me preparando para embarcar para Atenas, Grécia, para o Fórum de Governança da Internet. A impossibilidade do Ministro Gil em se ausentar do País no momento determinou que a incumbência de participar deste evento que inaugura o IGF caísse por sobre este blogueiro. Não vou poder votar no Lula no domingo, mas espero bem cumprir minha missão e conto com o apoio da blogosfera.

    O evento marcará a inauguração do Fórum de Governança da Internet, que é uma iniciativa da ONU em resposta às demandas de maior participação global nos assuntos que dizem respeito às diretrizes e políticas que determinam o funcionamento da grande rede mundial. Até hoje esta tarefa foi tocada pelo ICAAN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, ou Corporação da Internet para Nomes e Números Designados), entidade sem fins lucrativos ligada ao Departamento de Comércio americano. Tal configuração institucional, apesar de ter realizado até agora um trabalho digno de reconhecimento, começa a experimentar dificuldades em responder às atuais demandas de representatividade e transparência na formulação e condução das políticas de uso e também nas definições técnicas de infra-estrutura que afetam a todos os usuários de forma compulsória.

    Há que se considerar que a rede tornou-se instrumento imprescindível para a prestação de serviços públicos por governos e um exemplo que ilustra bem a situação é a declaração de imposto de renda pela Internet, que no Brasil chega a atender a mais de 80% dos casos. Por outro lado é perceptível a tendência da rede em ser 'formatada' por organizações e empresas que atuam na vanguarda da tecnologia, em muitos casos movimentando enormes volumes de capital. É portanto justificável a preocupação da sociedade civil -- e dos indivíduos, governos, e organizações intergovernamentais -- em checar se esta formatação está sendo conduzida de acordo com o bem comum e a universalização dos benefícios trazidos pela hiperconexão.

    O coordenador do comitê da ONU que assessora a realização do IGF, o indiano Nitin Desai, em seminário preparatório recentemente ocorrido em Londres (mp3) afirmou que existem tensões sobre a regulação da rede no futuro e também na questão do gerenciamento dos domínios. Em cinco anos existirão muito mais usuários da rede na Ásia do que na Europa ou América, mais páginas em chinês do que em inglês, e o uso da rede nestes locais pode diferir bastante do que hoje ocorre nos países ocidentais. É justo, por exemplo, que estas culturas desejem grafar seus domínios nos caracteres das línguas locais, e no entanto, ao mesmo tempo, parece ser importante para todos que não haja uma balcanização da Internet. Por outro lado, o ataque das teles ao princípio de neutralidade da rede (net neutrality) nos EUA põe em risco a integridade da Internet que nos acostumamos a usar.

    É certo que os geeks norte-americanos, aqueles que realmente colocaram a rede para funcionar, temem que a Internet possa algum dia estar subordinada à lógica de governos, e talvez por isso o IGF enquanto evento da ONU seja solenemente ignorado pelos blogosfera nos EUA. Entretanto, para nós aqui no hemisfério sul e ainda toda a turma do continente asiático, não tem a menor graça ter a governança da Internet nossa de cada dia subordinada ao cenário político norte-americano. Especialmente em função da influência exacerbada que o lobby das teles e da indústria cultural (hollywood) tem operado sobre o congresso, de onde saem sérios ataques aos princípios de liberdade da rede.

    Nitin Desai avisa que o IGF é um exercício para os atores (stakeholders) deste novíssimo cenário de convergência, e que o evento é "uma porta aberta, uma assembléia onde todas as visões são bemvindas", mas que não se trata de um fórum de decisões. Me parece uma aposta na possibilidade de se criar um modelo de desenolvimento de consensos sobre normas legais para a Internet atraves de um processo deliberativo aberto e informal, no qual o papel da socieade civil não está subordinado a governos. De fato, trata-se de um evento aberto que não privilegia a presença de autoridades governamentais.

    Minha missão em Atenas é representar o Gil na Oficina de criação da "Carta dos Direitos da Internet". Trata-se de um movimento iniciado na Cúpula da Sociedade da Informação (WSIS) em Tunis pelo senador 'verde' italiano Fiorello Cortiana que contou com o apoio direto de Gil, além de Lawrence Lessig e Richard Stallman. Ao propor uma abordagem ao nível de princípios e conceitos, a reflexão sobre a 'Carta' pode facilitar o exercicio de consensos sobre o que seria desejável em termos de direitos e obrigações para os usuários do ambiente web.

    O site da oficina (tem também um wiki) apresenta algumas questões estruturantes para orientar o debate sobre direitos e obrigações dos usuários da rede, e o site do MinC convida interessados a manifestarem suas apreciações sobre o tema. Estarei reportando direto de Atenas sempre que possível, aqui no ecodigital ou na seção específica no Cultura Digital. Aos interessados vale checar os links e referências sobre o tema.

    quarta-feira, agosto 23, 2006

    A TV digital do Brasil, e outras TVs possíveis

    Tv digitalEm meio a tanto trabalho e absoluta falta de tempo, tenho que voltar ao ecodigital para desovar um post que está encruado faz tempo. Desde a assinatura do decreto da TV digital (29/Jun) que os colegas de ativismo estiveram me contactando para que eu postasse algo aqui sobre o tema, e aí na época comecei este post com o objetivo de compor uma comunicação pertinente ao momento. E ficou no rascunho até hoje... e o momento se transformou. O que segue é o rascunho adaptado e atualizado, que me fez refletir sobre tudo o que pode acontecer em apenas 2 meses nesta fantástica rede global.

    Várias podem ser as razões que dificultaram a finalização deste post no final de junho, mas o fato é que não consegui elaborar um posicionamento sobre o debate local específico, e traduzo esta falta de inspiração como decorrente do descompasso que observo entre a discussão da TV digital no país, e a movimentação global decorrente da explosão do vídeo na rede. Esta revolução e seus efeitos colaterais me parecem muito mais pertinentes e conseqüentes à formulação do futuro digital brasileiro do que propriamente a escolha do padrão de modulação.

    No médio prazo, não consigo deixar de ver a TV Digital como suporte e infraestrutura à dinâmica que hoje acontece na web, que na prática já permite ao usuário definir a própria 'grade de programação' através de playlists. No entanto, observo que todo o debate relativo à implementação da TV digital no Brasil está centrado na perspectiva da TV como a conhecemos hoje, segundo a ótica de 'canais' que acabam adquirindo grande poder e influência na cultura local exatamente pela concessão que têm em 'programar' o que vai ser assistido. Esta abordagem, a meu ver, não tem levado em consideração a transformação que os efeitos do paradigma digitalização / hiper-conectividade tem operado na ecologia da mídia audiovisual. Estamos assistindo (pela Internet) a revolução da auto-determinação dos usuários / cidadãos.

    É fácil enxergar o motivo das operadoras (incumbents) de TV formatarem a discussão em torno do padrão de modulação -- de certa forma mantém o debate em terreno conhecido. Mais difícil é perceber qual o ativismo efetivo para o ambientalismo digital, neste momento em que as principais referências no tema sofrem evoluções conceituais radicais em questão de semanas.

    Uma dica interessante pode estar na recente criação do Partido Pirata na Suécia, em resposta ao ataque do governo local ao Pirate Bay -- os reis do Bittorrent na rede. Vale à pena se inteirar dessa história, e para isso nada melhor que ver este vídeo (via Thiago Novaes, em expedição pelo velho mundo). Parece claro que a batalha é política, e que faz todo sentido ao movimento ambientalista digital aparelhar-se devidamente para atuar neste contexto. Algumas conversas interessantes -- ativadas por simpáticos narizes vermelhos -- ocorridas durante o iSummit no Rio já indicavam este caminho, e desde então coisas interessantes vêm acontecendo.

    [Em nome da transparência blogueira, neste ponto devo declarar aqui que trabalho no Ministério da Cultura, coordenando a infra-estrutura web, e que minha avaliação em relação às posições do 'chefe' Gil podem estar influenciadas. Mas a meu ver, como de costume, foi ele quem enxergou mais longe ao reverberar sabiamente (de dentro do governo) a noção de que para o bem de todos, decisões sobre TV digital não deveriam ser tomadas em ano eleitoral.]

    A novidade que volta a animar o debate da TV digital no Brasil é a Ação Civil do Ministério Público Federal questionando a legalidade do decreto que pretendeu implantar o SBTVD optando pelo padrão japonês de modulação. Trata-se de fruto da articulação eficiente dos coletivos de comunicação social no país, e a iniciativa me parece um caminho interessante para questionar a adequação do procedimento efetuado pelo executivo. Será que já estaríamos em plena reforma política? Daqui torcemos (e trabalhamos) por um debate nacional -- sobre a cadeia do audiovisual digital e principalmente sobre infra-estrutura pública de banda-larga -- amplo e livre de influências oportunistas.

    Falando de iSummit, ação política, vídeo na rede, e narizes vermelhos, não poderia deixar de registrar um feliz encontro ocorrido no evento no Rio, onde tive a oportunidade de conversar com John Perry Barlow e Steven Starr (foto). O Barlow todo mundo conhece -- um dos meus ídolos na net desde sempre --, e o Steve é o cara do Revver, um Youtube alternativo que apresenta proposta extremamente ecológica de disponibilização de vídeo na rede -- que o FFF descreve bem:

    Revver é um serviço fantástico, do qual o Tupi já tinha me falado. Conversei bastante com o Steve, fundador e CEO do sistema, que antes de tudo é ativista ligado ao indymedia e um monte de outros projetos interessantes. A idéia é a seguinte: eu pego os vídeos que faço e mando pro sistema deles, que vai publicar o vídeo, mas com um espaço para anúncios no final. O interessante é que o criador controla todo o processo: quais anúncios aparecem, quantas pessoas assistem ao vídeo, quantas pessoas clicam no anúncio. Da mesma forma que sistemas como o adsense e text link ads, cada clique gera alguns trocados para o autor. A grana é dividida meio a meio. Interessante, principalmente no sentido em que propõe um outro ciclo econômico pra produção audiovisual."
    iSummit - FFF

    Enquanto a turma do estúdio livre agitava os corredores demonstrando o potencial das ferramentas de produção multimídia dos pontos de cultura, pude relatar ao Barlow e ao Steve um pouco da minha experiência como morador de uma comunidade do Santo Daime em Brasília. O debate sobre o uso socialmente integrado de substâncias psicoativas e a proposta comunitária em torno de princípios pan-ecológicos embalou longo e animado intercâmbio, e ao final tive a promessa de receber visitas ilustres lá no Céu do Planalto.

    E por fim os narizes vermelhos, que chegaram a motivar alguns narizes torcidos no iSummit, acredito terem motivado reflexões e atualizações coletivas. Espontaneamente foram reconhecidos pelos participantes estrangeiros no evento como símbolo da abordagem tropical à subversão que o ambiente digital tem provocado nos poderes estabelecidos. Para o ativismo digital brazuca, no meu entendimento, o nariz de palhaço pode simbolizar o início de uma convergência e de uma articulação política que precisa se consolidar e se organizar o quanto antes, em prol da real promoção do equilíbrio ambiental na rede.

    sexta-feira, junho 23, 2006

    iSummit 06: Gilberto Gil reúne Microsoft e Creative Commons

    Um dos lançamentos previstos para acontecer no iSummit 06 no Rio é o do 'Creative Commons Add-in for Microsoft Office', um plugin que instala nos aplicativos do Office (Word, Excel, etc, por agora somente na versão XP ou 2003) uma funcionalidade de registro de direito autoral que facilmente adiciona licenças Creative Commons aos trabalhos criados nestas ferramentas.

    O primeiro documento a ser originado com esta licença é precisamente o arquivo word do texto da conferência que o Ministro Gil irá apresentar amanhã no evento, do qual selecionamos um trecho que consideramos pertinente:

    "Ingenuidade minha? Sei muito bem do outro lado da moeda, das terríveis relações de poder que fazem desaparecer originalidades culturais todos os dias e impõem padrões de consumo em escala planetária visando apenas o lucro fácil. Mas quero encarar de frente o desafio que a indústria cultural global nos propõe, tanto que até hoje também trabalhei dentro dessa indústria, tentando usar seu poder para meus objetivos artísticos. Não sei se consegui criar o meu espaço dentro de suas leis. Mesmo assim continuo cultivando esse estranho e provocador gosto de juntar conceitos que pareciam estar destinados ficarem eternamente separados. Como parabólica e camará. Gosto de ver o mundo ecoando como uma cabaça de berimbau. Gosto de juntar diferenças."
    Gilberto Gil - Ministro da Cultura - Conferência - iSummit 06 Rio
    Não sabemos ao certo o grau de responsabilidade que a inspiração do ministro tem com este interessante encontro entre uma potência do mundo corporativo -- Microsoft -- e um movimento de valorização do 'comum' -- Creative Commons. Em outros tempos, o agora quase aposentado Bill Gates referiu-se ao movimento copyleft como "uma versão moderna de comunismo" (creative commies) que pretendia eliminar o ganha pão de músicos, cineastas e desenvolvedores de software. Seu sucessor indicado, Ray Ozzie, vem demonstrando intenções bem diferenciadas e já saúda a cooperação da Microsoft com Lawrence Lessig, que assim blogou a caminho do Rio para o iSummit:
    "Antes de entrar no avião ontem, eu estive em alguns encontros com a imprensa sobre o anúncio. Muitos estavam surpresos que Creative Commons e Microsoft iriam colaborar em um projeto. Em minha ingenuidade de professor de direito, me surpreendo com esta surpresa. O Office é uma ferramenta de criação. Dar ao criador maior controle sobre sua criatividade é uma forma de tornar a plataforma Office mais valiosa para os criadores. E ao incorporar as licenças CC, estará tornando-a mais valiosa para o público em geral."
    A CC plug-in for MSFT Office - Lawrence Lessig

    Estarão presentes ao evento outros 'ingênuos' como os Wikipedians, as turmas do Software Livre, os garotos da Cultura Livre, heróis do livre acesso ao conhecimento e outros, compartilhando experiências sobre as implementações que cada um tem conseguido realizar no ambiente digital, sintonizando colaborações e articulando parcerias para além do imaginado.

    A Ecologia Digital estará realizando alguma cobertura, reportando neste blog ou em algum outro ponto da blogosfera. Inté...

    BlogBlogs.Com.Br

    quarta-feira, maio 17, 2006

    Overturma faz o dever de casa

    Estiveram reunidos no Rio, nos dias 15 e 16 deste maio, overmanos, overmanas e demais overpitaqueiros para avaliar detalhadamente e em conjunto os vários aspectos dos primeiros meses de funcionamento do Overmundo -- novo coletivo virtual e promissor canal alternativo de expressão da cultura brasileira. Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e cia. ativaram o debate entre os 27 overmanos (mistura de blogueiro, jornalista, produtor cultural, artista e filósofo) que compõem a rede representando todos os cantos da federação. Dentre o universo de assuntos que pintaram, destaco a busca de melhor interface para o site, idéias sobre os procedimentos da inovadora 'sala de edição' virtual, novas formas de intervenção analógica (não-digital) nas ações da cultura local, estratégias de difusão dos conceitos da cultura digital, e também alternativas de sustentabilidade para o projeto no futuro.

    Na minha perspectiva, o projeto Overmundo é um laboratório único para avaliar os problemas e os desafios que a implementação de um verdadeiro projeto de 'jornalismo cidadão' a nível nacional podem apresentar, e para mim foi uma oportunidade ótima poder acompanhar o debate. Um aspecto fundamental do projeto é o foco na difusão pragmática das novas formas de licensiamento de conteúdo e gerenciamento de direitos autorais (Creative Commons). Durante o evento Ronaldo Lemos apresentou um 'discurso padrão' a ser apropriado pelos overmanos, e por quem mais quiser, para contextualizar e disseminar a utilização prática das novas licensas. Disponibilizamos aqui o áudio em mp3 e a apresentação (alguém aí sabe sincronizar um ppt com um mp3 num arquivo mpg?).

    Recentemente houve algum ruído na blogosfera sobre o fato do Overmundo ser um projeto viabilizado por captação de recursos através da lei de incentivo cultural, e também por assemelhar-se ao digg. Entende-se o sentimento dos blogueiros, adeptos do 'do it yoursef', sobre a alavancagem de um volume alto de recursos para se montar um site. Afinal, aprendemos todos que basta uma idéia na cabeça e um blog gratuito na web para que coisas interessantes comecem a acontecer. Mas o ataque à turma que vislumbrou algo mais adiante, se mobilizou, montou o projeto, conquistou os recursos, e agora está trabalhando duro para que a idéia de uma rede colaborativa de âmbito nacional dê certo, cheira a 'dor de cotovelo' mal resolvida.

    "Fazer site colaborativo com drupal? Claro, monto um em menos de uma hora, cheio de recursos interessantes. Mas sempre falta alguma coisa, porque eu não tenho grana pra contratar equipe, não tenho tempo pra me dedicar, porque um módulo específico ainda não está à altura do que eu preciso. E, com exceção de casos como o próprio china, o site vai ser fatalmente abandonado depois de alguns meses, por falta de saco. Já passei por essa situação meia dúzia de vezes, e fiquei realmente feliz de ter visto o overmundo encontrar uma maneira de trilhar outro rumo. ... não acho que desqualificar o primeiro site que conseguiu articular um caminho viável seja uma boa estratégia. É tiro no pé. É dar razão pra quem acha que o estado não deve investir em cultura, que produção colaborativa é coisa de cumuna, e que dinheiro da Petrobras tem é que sustentar barretão e companhia. Meu inimigo está em outra parte, e a guerra é outra, maior do que se imagina."
    Felipe Fonseca - comment no BR.BR-101.org
    Como bem colocado pelo FF, todos os que já se viram engajados em projetos colaborativos na rede sabem por experiência própria que falta neste contexto modelos inovadores de financiamento que possam viabilizar o constante aperfeiçoamento tecnológico, e o impulso à rápida replicação e implementação dos conceitos e atitudes pertinentes na ecologia analógica -- ou seja, nas interações do mundo real. Afinal, quem poderia patrocinar tal iniciativa? As empresas de mídia no Brasil ainda não conseguem enxergar a tendência mundial da rede, e portanto cabe ao estado induzir iniciativas que julgue pertinentes para alavancar inovação em setores estratégicos. Veja a dica do Sílvio Meira (de blog novo) na questão:

    "ron bloom, fundador do podshow, aposta que em cinco anos 50% do conteúdo será gerado pelo público e não pelas produtoras e artistas “clássicos”. pode até ser que sites como overmundo, “coletivos virtuaiscapazes de manter viva uma discussão sobre rock na amazônia por 45 dias, sejam arautos de novos modelos de criação e propagação de conteúdo cultural"
    em 5 anos, 50% - blog. meira.com

    O Overmundo não é um site. Quem o enxerga dessa forma reducionista perde a visão do contexto maior onde se insere esta movimentação, e basta alguma interação com os overmanos para sacar o diferencial. O Overmundo é um coletivo aberto, uma rede colaborativa de difusão cultural, e talvez a única iniciativa relevante de jornalismo cidadão no país. Vale à pena acompanhar e colaborar com esta turma.

    UPDATE: Não deixem de conferir a apresentação do Ronaldo Lemos (slides + áudio) 'Conteúdo Colaborativo: uma crise, uma novidade, e a questão do controle'.

    sábado, maio 06, 2006

    Sobre a 'desconferência' da gangue da identidade digital

    A delicada questão da identidade digital foi 'especialmente' debatida esta semana no Internet Identity Workshop 2006, que ocorreu no Computer Hisotry Museum em Mountain View - California. O evento teuniu luminares do tema - blogueiros da A-list, conhecidos figurões das grandes empresas e experts das fronteiras da inovação no campo do gerenciamento de identidade. Entretanto, e esta é a característica 'especial' do evento, nenhum deles estava lá para apresentar conferências, não havia palco - todos falaram, escutaram, tiraram dúvidas e responderam a questionamentos, numa configuração interativa com hierarquia plana.

    O novo formato de interação é chamado 'Unconference' (desconferência?), e foi desenhado em sua forma atual por Dave Winer, o criador (entre outras coisas) do RSS. O workshop foi realizado no âmbito do coletivo 'Identity Gang', que é patrocinado pelo Berkman Center e reúne indivíduos e organizações que mobilizam esforços em torno de uma missão em comum: 'Apoiar a contínua conversação sobre o que é necessário para o desenvolvimento de um 'metassistema' de identidade que possa atender a todo o mercado, especialmente aos indivíduos'.

    De acordo com a ampla e positiva cobertura que o evento alcançou na blogosfera, os sinais de que já estão ocorrendo as necessárias mudanças para a correta abordagem do tema foram claramente percebidos nas seções de 'desconferência' no evento. A principal responsável pelo sucesso da implementação do espaço aberto de debate foi a 'Identity Woman' Kaliya Hamlin (foto), que juntamente com Phill Wendley conseguiu criar o ambiente adequado para a inédita troca aberta de informações.

    Parece não haver mais qualquer dúvida de que é necessária a adoção de uma meta-narrativa na condução dos debates sobre a identidade digital, e de que a missão neste momento é descobrir como convergir os vários projetos em desenvolvimento. Tais esforços partiram de variados contextos de uso e demanda, e foram iniciados com objetivos extremamente heterogêneos, o que vinha causando enorme divisão e competição até então. Mas desta vez foi perceptível a intenção coletiva de 'pular no barco', e o movimento de cada grupo em introduzir seus objetivos específicos na matriz cronológica e de especificações construída colaborativamente como resultado das 'desconferências'.Recentemente o Sílvio Meira(que finalmente! colocou RSS em seu blog) fez um bom diagnóstico do que vinha acontecendo no debate sobre o identidade na rede:

    "... os atores apropriados não estão se sentando nas mesmas mesas e tendo as longas conversas que deveriam... o que os leva a disparar salvos contra os outros com muita freqüência, como se “um” lado fosse ganhar a disputa e o “outro”, desaparecer. A experiência da internet deveria ensinar que “o” lado que ganha a disputa é o do usuário, que está à procura de uma experiência simples, rica, eficiente, eficaz e, ainda por cima, que justifique os reais que custa. Simples. Mas até chegarmos, todos, a este entendimento, veremos muita gente boa vivendo, em público, a crise de identidade de não saberem o que são, num mundo convergente... simplesmente por não entenderem o que ele, de fato, é."
    Crise de Identidade - Meira.com

    Será que o clima está mudando? Estarei em Recife na próxima semana e espero re-encontrar o Sílvio e poder trocar boas idéias. Quem sabe gravar um podcast. Alô Síííllllvio!!

    UPDATE: Tom Maddox disponibiliza em seu blog vários podcasts sobre o Internet Identity Workshop 2006. Os dois com Doc Searls são especialmente interessantes -- Doc indica que a junção da identidade digital com um mecanismo como o Creative Commons poderia criar um ambiente de mercado completamente revolucionário - a economia da intenção.

    terça-feira, maio 02, 2006

    O mundo pergunta: "Mídia da Crise ou Crise da Mídia?"

    O Seminário 'Crise da Mídia ou Mídia da Crise?', realizado nos dias 26, 27 e 28 de abril pela Escola de Comunicação da UFRJ em parceria com a Rede Universidade Nômade e com o apoio da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura e da RNP para a transmissão ao vivo pela web, terá uma oportuna continuidade no âmbito internacional.

    Nos próximos dias 3 e 4 de maio acontecerá em Londres o evento 'We Media Global Forum', organizado pelo 'The Media Center' -- unidade do 'American Press Institute - API' dedicado à pesquisa sobre a mídia e seus novos formatos, e com o patrocínio das agências internacionais BBC e Reuters.

    O evento irá reunir a vanguarda da sociedade conectada -- pensadores, inovadores, investidores, executivos e ativistas que buscam realizar o potencial das redes digitais em conectar todos, em todos os lugares. O objetivo principal será captar as perspectivas dos líderes da indústria e dos príncipais ativistas em relação à questão mobilizadora introduzida pela organização do fórum, e que é colocada tanto em relação à mídia tradicional como também frente ao nascente 'jornalismo cidadão':

    Nós confiamos na mídia?
    (Do we trust the media?)

    O evento começa amanhã, mas pode ser acompanhado desde já no site específico, nos blogs do 'media center', da BBC e da Reuters, e em outros locais da blogosfera.

    Como o tema do forum é 'confiança', os principais patrocinadores (BBC e Reuters) estão realizando uma pesquisa online para avaliar a 'atitude das pessoas em relação à confiança e mídia'. Os resultados da pesquisa só serão anunciados oficialmente no primeiro dia do forum, mas alguns indícios coletados já estão disponíveis online. Interessante observar em quais instituições os cidadãos depositam maior confiança no sentido de realizar as ações necessárias para a construção do bem comum (abaixo).


    E, por falar em 'mídia' e 'confiança', não posso deixar de destacar uma passagem na recente apresentação de Paulo Henrique Amorim no seminário 'Mídia da Crise ou Crise da Mídia?', onde ele descreve a preleção de Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope, no Fórum Empresarial realizado em Comandatuba no fim de semana anterior.

    "...convocado para uma das preleções previstas pelo programa, falou de pesquisas e fez observações interessantes a respeito das próximas eleições, mas seu pronunciamento passou em branca nuvem nas páginas impressas e no vídeo. Arrisquemos um palpite: desta feita Montenegro não agradou à mídia e seus patrões. Exibiu números que confirmam o favoritismo de Lula e admitiu a chance de sua vitória já no primeiro turno, caso o PMDB não apresente candidato. E Montenegro dobrou a dose, e esclareceu que o próximo pleito se apresenta como confronto entre ricos e pobres, e estes estão, organicamente, com Lula."
    Mino Carta - 'Os pobres contra os ricos' - Carta Capital

    Ou seja, dados que anunciam o favoritismo e a radical mudança na composição do eleitorado de Lula para as eleições presidenciais de 2006 são apresentados para cerca de '320 CEOs de grandes empresas nacionais e multinacionais, dois Ministros de Estado, além de governadores, deputados e senadores' (composição do público em Comandatuba), entre eles certamente os principais dirigentes das maiores corporações de mídia, e mesmo assim tais informações continuam restritas ao comentário de Mino Carta e à cobertura universitária do 'mídia / crise'. Tenho que complementar o post com outro registro pertinente da fala de Paulo Henrique Amorim no seminário da UFRJ:

    "95% da imprensa tenta abreviar ou desestabilizar o governo Lula; os outros 5% restantes se referem à revista Carta Capital."
    Cobertura do 'Mídia da Crise ou Crise da Mídia?' - Felipe Musa

    Vamos acompanhar o evento em Londres e seguir referenciando com o debate. Um diferencial importante a ser notado é que os patrocinadores do 'We Media Global Forum' são BBC e Reuters - duas das principais agências de notícias internacionais. E as nossas, o que estão fazendo?



    UPDATE - Veja os vídeos de dois dos painéis apresentados (Google Vídeo):

    • Midiocracia (imperdível) - Como a democracia se constitui em aliança, conflito e composição com os meios de Comunicação. Democracia pela mídia e governo dos meios de comunicação.

      Palestrantes
      : Wanderley Guilherme dos Santos - Cientista Político e Professor da UFRJ e da Universidade Cândido Mendes . José Dirceu - ex-ministro da Casa Civil . Paulo Henrique Amorin - Jornalista da TV Record . Ricardo Kotscho - Jornalista e representante da Rede Globo do Projeto Globo/ Universidade . Giuseppe Cocco - Professor da UFRJ e representante da Rede Universidade Nômade


    • Midiativismo - Os novos intelectuais e atores políticos que utilizam a mídia e suas linguagens como forma de ativismo político e estético. A política do simbólico.

      Palestrantes
      : Franco Berardi - Professor da Universidade de Bolonha (Itália) Raul Sanchez - Professor da Universidad Nomada de Madrid (Espanha) Wallace Hermann - representante das Rádios Comunitárias e PontoComSaúde Geo Brito - representante do Centro de Teatro do Oprimido e da Universidade Nômade Giuliano Bonorandi - representante da Ação Cultura Digital e Rádio Interferência

    quarta-feira, abril 12, 2006

    Rumo ao 'comum' digital global, no Rio


    iSummit será no Rio de Janeiro, de 23 a 26 de junho de 2006

    Lawrence Lessig explica em seu blog:


    "O objetivo do iCommons vai muito além da infraestrutura que está sendo construída pelo Creative Commons. A proposta é reunir no Rio, além do crescente grupo de entusiastas do CC, uma ampla coleção de novas pessoas e grupos - incluíndo os Wikipedians, as turmas do Software Livre, os garotos da Cultura Livre, heróis do livre acesso ao conhecimento, e outros - para que possam "se inspirar e aprender uns dos outros, estabelecendo relações de trabalho mais próximas em torno de um conjunto de projetos incubados"

    Ele segue explicando que o iCommons é uma empreitada distinta do Creative Commons, e também dirigido por outras pessoas - tem o blogueiro Joi Ito como presidente. A missão do iCommons será determinada pelas conversas que acontecerão em junho no Rio entre as várias correntes que compõem a comunidade internacional do conhecimento livre (‘free and open source software’, ‘open access’, ‘open content’ e ‘open science’, entre outros).

    Além da presença de Jimmy Wales (fundador da Wikipedia) e James Boyle (criador do 'ambientalismo cultural'), está confirmada também a performance do ministro Gilberto Gil, que tem desempenhado papel importante no desenvolvimento e divulgação do modelo alternativo de gerenciamento de direitos autorais Creative Commons no Brasil, -- foi o idealizador da licença CC para sampleamento de conteúdo original.

    No anúncio do evento, e da presença de Gil, Lessig destaca a pertinência e sintonia do programa 'Pontos de Cultura' , do MinC, com toda a movimentação em torno da cultura e do conhecimento livres, da qual é principal articulador:


    "O projeto dos 'pontos de cultura' almeja construir mil locais distribuídos por todo o Brasil, onde ferramentas de software livre estejam disponíveis para que as pessoas possam criar e remixar a cultura. O foco é vídeo e áudio, ninguém está muito interessado em aplicações do tipo Office ou semelhantes. É um extraordinário movimento de base, devotado primeiramente a um ideal (o livre acesso à cultura) e também a uma prática (torná-lo(a) real)."
    Lawrence Lessig - returning home (from Brazil)

    Estão previstas diversas atividades (confira a programação), e no workshop 'Create', os participantes poderão experimentar algumas das ferramentas desenvolvidas pelos 'Pontos de Cultura', e mais um conjunto de outras soluções e projetos de outras organizações voltadas para o estabelecimento de 'pontos de criatividade' em 'coffe shops', centros comunitários e comerciais.

    Para quem está na área, e no tema, não dá para perder.