Na rede

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Ainda sobre a Cúpula, e o aviso de Dan Gillmor

Aqui vai mais uma tradução de artigo que considero importante para compor as informações que nos levarão a entender melhor a discussão que envolve a governança da Internet -- tema quente da recente Cúpula Mundial da Sociedade da Informação.

Chegou a haver algum barulho na rede sobre o fato da delegação brasileira estar aliando-se a interesses 'pouco democráticos' ao defender a descentralização da autoridade na rede conforme praticada hoje. Parece que a heresia causadora do ruído é o fato do Brasil ter ousado liderar um 'desafio o papel predominante exercido pelos Estados Unidos', o que poderia 'deformar a Internet'.

Sobre o tema podemos citar a avaliação de Gustavo Gindre, membro eleito do Comitê Gestor da Internet - CGIBr representando o terceiro setor, sobre a participação da delegação brasileira no evento:

"O Brasil teve atuação destacada nas negociações sobre a governança da Internet durante a CMSI. Liderou uma aliança com diversos países descontentes com a política norte-americana e ainda conseguiu anular a resistência de várias delegações (particularmente de governos totalitários) à participação da sociedade civil no Internet Governance Forum (IGF). Por fim, negociou uma aliança com a União Européia que terminou isolando os Estados Unidos."
Boletim Prometheus Especial - Tunis 2005, por Gustavo Gindre

Quanto ao risco de 'deformação' que a rede sofre hoje, me pareceu oportuno traduzir artigo do Dan Gillmor (referências? 01, 02, 03, 04) publicado recentemente no Financial Times, que ilustra o cenário atual de um dos fronts no qual os defensores da 'rede aberta' terão de batalhar para manter os princípios fundamentais da Internet. Penso que é especialmente importante para nós aqui no Brasil percebermos que o cenário descrito abaixo serve para ilustrar a movimentação das telecoms e de tellywood lá no norte, o que certamente é indicativo dos planos das corporações análogas por aqui.

De forma alguma indico que tenhamos que ver nos colegas norte-americanos a força precursora que busca 'deformar' a rede -- pelo contrário, sabemos que a turma lá está na ponta da inovação libertária que possibilitou tudo isso. Apenas demosntro que a postura brasileira no assunto é inteligente e sensível o bastante para considerar que, independentemente de qualquer bandeira, o que se defende é um modelo de governança (conforme o brasileiro) representativo para a rede, que além das representações de governos assegure também a participação da sociedade civil, do setor empresarial e da academia -- de todos os países. Esta é a rede da qual estamos falando.

Sobre o tema da Cúpula, também vale à pena ver:



Dan Gillmor: Levantem-se contra a opressão dos EUA
Financial Times - 22/11/2005

A 'Internet aberta' está sob ataque como nunca esteve antes, e os agressores são os suspeitos de sempre: governos e os gigantes das telecomunicações. Infelizmente a suspeita se aplica também aos Estados Unidos da America. Falando em 'Internet aberta' quero signigicar a rede onde usuários utilizam a banda de frequência da forma como bem entendem, e não como os oligopólios querem definir. É claro que o que os usuários desejam não é especialmente relevante
para os burocratas e executivos que estão trabalhando duro para recuperar o controle.

Não é surpresa ver governos autoritários e opressores, especialmente aqueles que controlam as operações de telecomunicações, atuar de forma a suprimir a vitalidade e espontaneidade do livre fluxo viabilizado por esta nova mídia.

O controle político não é a única dimensão em jogo -- empresas gigantescas e interesses bilionários complementam o cenário.

Entretanto, é desalentador observar os EUA caminhando nesta direção. A nação que concebeu e difundiu a Internet está renunciando a alguns valores básicos de todo o processo.

Considere, em particular, a recente entrevista na revista Newsweek, onde Ed Whitacre, chefe-executivo da SBC Communications, deixou claro sua preferência pelos dias quando as companhias telefônicas americanas eram monopólios. (Agora que a SBC está comprando a AT&T e deve assumir o novo nome, festeja juntamente com outras telecoms aquisidoras o início do retorno daqueles dias felizes -- para os monopolistas!).

Na entrevista, Whitacre anuncia sua intenção de favorecer determinados serviços que transitam informação nos cabos providos por sua companhia. Em certa altura ele reclama do Skype, a companhia de voz-sobre-IP, dizendo: "Eles usam nossa rede de graça"; e indicou fortemente que pretende forçar o Skype (ou seus usuários) a pagar para usar 'sua' rede. A arrogância contida nesta declaração apenas ilustra o equívoco essencial que a fundamenta. O que é provido pelo empresas é banda: mover pacotes de informação de lá para cá. Não cabe a estas empresas, ou não deveria caber, decidir o que é enviado, e em que ordem.

Em função da lógica de Whitacre, que infelizmente é apoiada por nossas políticas públicas, a ele é permitido instalar 'quebra-molas', 'bloqueios' ou 'pedágios' no caminho de todos os provedores de conteúdo da rede.

A auto-imputação de autoridade do chefe-executivo da SBC sobre que tipo de informação pode passar por 'seus' cabos -- adquiridos inicialmente através de monopólios garantidos pelo governo -- tem um 'quê' de realidade, em parte por causa da atual política governamental. Reguladores federais, sem pensar nas implicações, estão incentivando os conglomerados das telecomunicações e da tv a cabo a pensar que não precisam compartilhar seus cabos com os competidores.

Tem havido também alguns murmúrios por parte de reguladores sobre requerer o que os partidários da competitividade denominam 'acesso aberto' (open access), que vem a ser a não discriminação sobre conteúdo que transita nos cabos da rede. Mas praticamente todas as regulações boicotam tal diretriz.

Em julho eu denunciei esta tendência nesta coluna, ao analisar uma decisão da Suprema Corte em um caso denominado 'BrandX' pelo fato do nome de um provedor de serviço a internet ter sido bloqueado por uma linha de companhia de cabo. Preocupou-me a decisão, que tornou-se aderente à lei vigente, como mais um passo no sentido de dar às telecoms controle absoluto sobre a informação que transita nos cabos que controla, além do serviço de provisão de acesso propriamente dito.

O congresso americando parece pronto para sacramentar o dano. A legislação que está sendo preparada para atualizar o marco legal de telecomunicações ameaça o princípio básico da Internet que valoriza 'as pontas da rede'. Segundo explica Vint Cerf, um dos 'founding fathers' da Internet, é este princípio que "permite que pessoas em todos os níveis da rede estejam livres para inovar, sem a possibilidade de um controle central".

Em carta remetida a um comitê do Congresso, Cerf (agora um contratado vip do Google) declarou que tal proposta de legislação, se entrar em vigor, "irá causar grande dano à Internet como a conhecemos". Conceber uma regulação que permita aos operadores da rede discriminar em favor de certos tipos de serviços, e potencialmente interferir com outros, irá colocar os provedores de banda no controle da atividade online.

Não é apenas o Google que está por trás destas manifestações. Também a Microsoft e outras empresas que não detém infra-estrutura de rede estão igualmente preocupadas.

Não deveríamos culpar Whitacre e seus colegas do mundo das telecoms, igulamente sedentos de poder, por buscar a retomada do poder que tinham e que a rede em tão pouco tempo desconstruiu. Está no DNA deles querer pautar quais serão as nossas escolhas, e quais inovações irão acontecer - e a que velocidade de implementação.

Mas o DNA da Internet é precisamente o oposto de tudo isso. A rede permite que as pessoas comuns, nas pontas da teia, produzam novas possibilidades e realizem as suas próprias escolhas. Este é o motivo pelo qual a rede têm crescido de forma tão poderosa, e razão também de ter se tornado este vibrante ecossistema que aos poucos vai se constituindo na plataforma para o futuro da comunicação humana. Ela é nossa, coletivamente, e não deles.


quinta-feira, novembro 17, 2005

O dia em que o 'broadcast' morreu

David Berlind fala sobre o casamento do protocolo de assinatura RSS com a programação de TV disponível na rede, que cria um cenário capaz de eliminar o que hoje conhecemos como distribuição de programação televisiva através de canais. E demonstra também como setores da indústrias estão se mobilizando para impedir esta evolução natural da rede.

"HOJE é o dia que as redes de TV e rádio em todo o mundo sempre temeram que chegasse. É o dia em que alguém casou o protocolo de assinatura RSS com Bittorrent, de tal forma que transforma a Internet em uma grande, enorme e grátis, máquina TiVo. Como anunciado
por Steve Rubel
ontem, "alguém encontrou uma forma de assinar shows de TV em Bittorrent e baixá-los como um feed RSS". Em outras palavras, uma vez que um show de TV tenha sido digitalizado e armazenado em Bittorrent, não somente as redes de broadcast de rádio e TV terão sido excluídas da intermediação, mas também todo o modelo de negócio baseado em publicidade. Da mesma forma como com o TiVo, podemos simplesmente avançar por sobre os anúncios. E muito melhor do que TV por satélite, a arquitetura da rede pavimenta o caminho
para o recebimento de conteúdo originária de qualquer parte do mundo.

Distribuição de programação de televisão pela Internet era inevitável. O problema é que este não é exatamente o caminho evolutivo planejado por aqueles que se prepararam para estar no topo do darwinismo da mídia. Neste caso, os donos de empresas como a Verizon com seus serviços de IPTV (vide Telemar), que requerem um intermediário; e os senhores do cartel do entretenimento ('Tellywood' - 'hoje televisão e estúdios de cinema (Hollywood - vide Globo) são essencialmente a mesma indústria'), que têm um modelo de negócio a defender. Eles tem planos diferentes, desenhados para controlar toda a experiência do usuário (o horizontal e o vertical). No entanto, em função dos princípios que norteiam a Internet (onde as pontas da rede é que detém o controle), este controle está escapando por seus dedos como areia.

Então, parece que é o triunfo da Internet afinal?

Talvez não. O homem gosta de interferir com a evolução, e esta situação específica não parece ser diferente. Tellywood não pretende deixar que uma coisa boba e pequena como a Internet lhe force a aceitar um caminho específico de evolução, não favorável. Em seu compromisso com a própria existência, Tellywood não está tentando interferir com a inovação trazida pela web de forma isolada, mas convocou seu poderoso lobby para compor estratégia de defesa em aliança com outros dois dinossauros: o FCC (Federal Communications Commission) e o congresso americano. Mas ainda há tempo para agir. Além de boicotar conteúdo e tecnologias que promovem a adoção de tecnologias de DRM (Digital Restrictions Management), aqui está o que pode ser feito agora (e rápido, pois há um prazo fatal em 01/12/2005)".

Longo hiato

Quase envergonhado ao observar a data do último post, venho por este argumentar que foram muitos os motivos pelos quais estive ausente deste blog. O primeiro motivo, ao mesmo tempo grande e pequeno (ou pequena - Elisa) está aí na foto ao lado. Quem já cuidou de bebê (mesmo sendo o 4º filho) sabe que poucos assuntos podem vencer em prioridade as demandas de um pequeno ser que depende da sua atenção. Neste ponto concordo inteiramente com os postulantes da 'Economia da atenção' - eis o bem realmente escasso em nosso presente século.

Outros projetos no MinC também estão tomando o resto de tempo disponível: a nova Intranet (xemelenta e jabberizada), a concretização do conceito dos Fóruns de Cultura no site institucional do ministério (especialmente Cultura e Pensamento, Indústrias Criativas, Capitalismo Cognitivo e Cultura Digital), e ainda a concepção de um layout totalmente novo para os sites do Ministério, do Programa Monumenta e da Fundação Palmares, para entramos o ano com uma boa proposta de integração web para todo o sistema MinC. Isto sem falar nas interfaces que estas propostas apresentam com os demais projetos...

Espero estar mais presente por aqui, já que a visitação teima em se manter constante mesmo com a minha inconstância. Saudações aos visitantes!

terça-feira, junho 28, 2005

Os juízes americanos querem matar o p2p
- o que temos nós com isso?

Para muitos de nós hoje é dia de lamentar a decisão da Suprema Corte americana dando vitória aos estúdios de hollywood no processo contra os desenvolvedores de aplicativos p2p para compartilhamento de arquivos, que diz basicamente o seguinte: os estúdios MGM podem processar a Grokster Co. se suas redes forem comprovadamente utilizadas para roubar música, filmes e outros conteúdos protegidos -- e houver evidência de intenções ilegais por parte dos desenvolvedores do software (esta parte da decisão é importante para entender a estratégia dos juízes). Para os criadores de tecnologia, e para os grupos de defesa dos usuários, esta é uma decisão que irá congelar a inovação e resultar em inúmeros processos legais análogos por parte das grandes corporações ('gargalos') de mídia para 'matar' novas idéias e possibilidades tecnológicas.

"Esta decisão dá aos detentores de conteúdo um tremendo poder de ditar o tipo de tecnologia que será permitida aos consumidores utilizar." declarou Jason Schutz, da EFF, na Wired.
Uma observação menos apaixonada da decisão, sugerida por John Palfrey, indica que os Juízes supremos deram uma tacada corporativista, ao mesmo tempo em que agradaram -- de certa forma -- os big players de ambas as partes (indústria dos entretenimento x indústria tecnológica). Os grandes da tecnologia tinham medo de ver revertida a decisão de 1989 do caso Sony, que foi mantida, e podem agora dormir tranquilos. Apenas terão que se perguntar, de agora em diante, se ao distribuir uma nova tecnologia estão agindo de forma razoável no que diz respeito à mensagem passada aos usuários sobre as possibilidades daquela inovação. Ou seja, advogados bem remunerados serão necessários para sabermos: será que o meu modelo de negócio induz terceiros a violar direitos autorais? que tipo de publicidade pode me causar problema? que fazer para impedir usos ilegais de minha tecnologia? Como diz o Lessig, sempre os advogados! Para os big players, com suas margens de lucro gordurosas nos mercados globais, contratar mais advogados não faz muita diferença -- afinal são cidadãos americanos que precisam trabalhar... Ou seja, uma grande decisão, onde todos (principalmente os advogados) saem felizes.

A notícia deu até no Jornal Nacional - uma chamada incompreensível (!) para quem não acompanha o assunto, mas um sinal de como o tema é caro nas trincheiras da 'big mídia' por aqui. De nossa parte, seguimos empunhando a bandeira da Ecologia Digital contra a influência das corporações, dos advogados, e de governos inescrupulosos no ambiente da rede. Sabemos que nossos garotos vão continuar inventando possibilidades neste ambiente open source tupiniquim, e certamente não terão que contratar os tais advogados para descobrirem se estão mal-intencionados -- pelo menos por enquanto. De fato, não vejo razão para que o Brasil coopere com a aplicação de leis que não condizem com o nosso contexto de desenvolvimento e com nossas interpretações e escolhas. Diante de tudo isso, parece que Richard Florida tem razão em seu livro 'The flight of the creative class', onde prevê que os EUA estão avançados no processo de deixar de ser o principal centro de inovação tecnológica no mundo. Por mim, tô nem aí.

Scoble tem ótimos links no tema, e vale conferir o debate interativo no WSJ.

update 28/06: Veja também Siva Vaidhyanathan na Salon; Mike Godwin na Reason; e também Mark Cuban; uma síntese geral da reação na blogosfera pelo Eric Goldmann; e a avaliação pós resultado do Fred von Lohmann (EFF).

sexta-feira, março 18, 2005

Novo site do MinC no ar
- Conceitos em prática

Foram alguns meses de ralação, mas finalmente lançamos o novo site do Ministério da Cultura!! Congratulações à turma da Gerência de Informações Estratégicas (eu mesmo, metal e dpádua) do MinC, e agradecimentos a todos os colaboradores (Letícia, Thati, Acco, Cadu, Hugo, Uirá, Claudio Prado, Ananias, Raquel, Clélia, Márcia, Sheila, Turiba, e daí por diante... até o Ministro Gil, pela oportunidade).

Começando pelo contato, ainda no ano passado, com o Maratimba (André Passamani) lá na Prefeitura de Sampa (gestão anterior), o projeto sempre procurou implementar os conceitos de liberdade e autonomia promovidos pela Ecologia Digital. Nos aliamos ao projeto Waram, cujo histórico credenciava-o como solução de acordo com o plano traçado: configurar um CMS (preferencialmente em PHP/MySQL, para aproveitar a base de desenvolvimento em ASP nativa na esplanada) em parceria com uma comunidade de desenvolvimento (preferencialmente com demandas parecidas às do MinC), de forma a criar condições de reponder às demandas do discurso hacker do ministro.

Era fundamental criar a capacidade interna de desenvolver e configurar novas possibilidades na plataforma de publicação selecionada, e que esta pudesse ser posteriormente implementada de forma fácil e com baixo custo nos sites das unidades vinculadas do ministério, criando assim o ambiente ideal para a integração das diferentes instâncias do projeto web do sistema MinC, e respectivos programas e ações. Tirando partido das conexões (eternamente vivas) originárias do Projeto Metáfora, conseguimos importar dois reforços de peso para o bunker da GIE/SE (sigla esplanádica) -- Daniel Pádua e Marcelo Metal.

Várias madrugadas, alguns fins-de-semana, disque-giraffas / habbibs colado no monitor, muitos cronogramas estourados, mas agora tá lá: www.cultura.gov.br. Páginas comentadas (Câmaras Setoriais), XML funcionante, e principalmente, engajamento do ministério na viabilização do site como instrumento de gestão / comunicação / diálogo. O site institucional como "superfície porosa" de contato entre o órgão e seus usuários, e não mais um gargalo restringido por ditaduras ténicas ou clichês defuntos de 'Public Relations'.

E isto é só o começo. A galera já está animada a partir prá cima da intranet (com jabber e blogs), waram 2.0 (alô Maratimba!), interfaces xemelentas com Conversê e Pontos de Cultura, e outras iniciativas de dinamização e democratização do acesso aos bens da cultura. E vamo que vamo.

Bônus Link: aproveito o ensejo e a oportunidade para divulgar uma outra ecologia inovadora, bem sacada pelo colega Elias Ulrich. Viva a Ecologia Cognitiva!! (via Psicotropicus). Saudações blogueiras!

E VIVA SÃO JOSÉ!!!

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Quem é que Pod-e?
- Reverberações do fenômeno Podcasting na ecologia digital

O que é Podcasting? O texto do Rodrigo Stulzer no Dicas-L tem as palavras mais bem colocadas para introduzir uma noção geral:

Podcasting, você ainda vai ouvir muito esta palavrinha.

Explicação técnica: rss de áudio.

Explicação normal: É uma espécie de rádio via Internet, mas não é ao vivo. E esta é a grande vantagem! Você escolhe o que quer escutar, instala um programa no seu computador e ele baixa automaticamente, todos os dias, os programas que você escolheu. Daí você escuta no próprio computador, mas se tiver um mp3player qualquer (iPod), pode escutar na rua, no trânsito, no ônibus, etc. ... Com o podcasting você terá não uma, mas centenas de "rádios" para escolher, sobre os mais diversos assuntos... E o que pode acontecer daqui para a frente? Milhares de "estações" de podcastings espalhadas pela Internet; cada um falando sobre o que gosta para uma audiência que compartilha das mesmas coisas. Programas mais fáceis de mexer e que comunicam diretamente com o seu telefone celular, que por acaso também pode tocar mp3. Você simplesmente seleciona os programas que gosta, pluga seu celular no computador (ou recebe tudo via bluetooth) e bingo! Horas e horas de áudio da maior qualidade, e o que é mais importante, do que te interessa!

Rodrigo Stulzer - Dicas-L (Unicamp)

O significado do Podcasting, esta nova modalidade(?) de mídia(?), pode ser dimensionado pela rapidez com que o termo se espalhou na rede. Em setembro do ano passado, quando Doc Searls publicou 'DIY radio with podcasting' ('Faça você mesmo o rádio com Podcasting'), o termo 'podcast' retornava 24 itens no Google; duas semanas depois já eram 53.200; hoje (20 semanas, ou 140 dias depois), está lá: 1.740.000 e subindo (veja como acompanhar estes índices). Deu até no NYTimes...

E tudo isso sem campanhas corporativas de marketing, nenhuma pesquisa tecnológica proprietária, e também nenhuma estratégia industrial. Não dá mesmo para imaginar reuniões departamentais discutindo o podcasting; equipes de TI brigando por ideologias da interoperabilidade, times de advogados explicando porque o conceito estaria infringindo esta ou aquela regulação internacional. Não daria certo, não seria viável.

'Geralmente, quando uma idéia tem grande significado, ela é, digamos, óbvia... e nem mesmo parece tão interessante à princípio. Não aparenta ser uma inovação, mas sim uma adaptação (um hack) de conceitos e tecnologias amplamente disponíveis, fáceis de entender e gratuitos. E quase sempre não foram concebidas em reuniões ou precisaram de qualquer planejamento para o seu desenvolvimento. Mas então, alguém observa aquele 'hack' e pensa à respeito. E então surge uma metáfora inspirada para descrevê-la. E então a onda começa. E é uma onda porque ninguém está no controle, exceto as pessoas que entendem como a metáfora funciona, e podem surfar a onda -- os 'experts' raramente captam estes significados, e quase nunca sabem surfar. '

Rex Hammock - 'The reason you've heard of podcasting'

Entretanto, este tsunami metafórico parece necessitar de alguns ajustes estratégicos para enfrentar o previsível contra-ataque das corporações da mídia tradicional (mainstream media). Quinze dias após publicar o manual do rádio "faça você mesmo", Doc declara abertamente que 'Podcasting não é rádio' (e não é 'webcasting', e também não é 'rádio pirata'):

'Há uma distinção a ser feita aqui, e é crítica se queremos manter o podcasting livre do regime regulatório que inviabilizou as Radios da Internet. Atenção: rádio é 'ao vivo'. Podcasting não é. No centro da questão está a definição de rádio na Internet -- 'streaming' -- como "performance" de uma "perfeita" cópia digital de conteúdos protegidos por direito autoral, e sujeita a regulamentações extremas que incluem extensivo (e caro) relatório de ouvintes e audições, de forma que as estações possam ser cobradas por stream, e por ouvinte, para cada música que eles venham a transmitir. E assim foi determinado o fim das rádios na Internet. Mas neste caso vocês estão falando de 'streaming', né? Podcasting é outra coisa.'

Doc Searls - 'Why podcasting isn't radio'

Bem, para pegar o real sentido do que está acontecendo só botando a mão na massa. A comunidade 'podcasting' é vibrante e conectada, cheia de novas idéias, e não para de crescer. Ainda não temos muitos podcasters tupiniquins, mas isso certamente vai mudar nas próximas semanas, e aí pod-eremos avaliar melhor o alcance da idéia, e analisar como a mídia nacional irá lidar com a novidade. Aqui vão alguns links básicos para quem está se introduzindo no pedaço. Você também Pod-e! (horrível essa...):

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Tags e a gentenomia
- Classificação cooperativa e identidade digital

Caramba! Comecei este post depois de ver a página de tags do CCMixter, e sacando a boa idéia de visualmente escalar as tags na relação 'tamanho x itens' (inspirada no del.icio.us e nas famosas TechnoratiTags). Aí me toquei da proximidade fonética de "tag" e "taxonomia" (tagsonomia?). Rewinding... primeiro foi o del.icio.us e depois o flickr, e o gmail fez o mesmo mas chamou de "label". E de repente estamos todos "tageando" tudo que passa pelo firefox. O Joho descreve assim os elementos básicos do movimento de socialização da classificação:

"Graças ao del.icio.us e depois o flickr em particular, centenas de milhares de pessoas têm sido introduzidas ao tagueamento "de-baixo-para-cima": Apenas 'taque'(!) uma tag em algo, e este algo ganha um valor social, não apenas individual"

David Weinberger - "The tagging revolution continues..."

O movimento já tem nome: folksonomy, ou gentenomia - neologismo para definir a prática de categorização colaborativa utilizando tags. A criação de metadados (dados sobre dados) através da folksonomia / gentonomia vem a ser a terceira (revolucionária?) via no assunto:

"A definição de metadados tem sido abordada geralmente de duas formas: criação profissional e criação autoral. Em bibliotecas e outras organizações, definir metadados -- primariamente na forma de registros catalográficos -- é tradicionalmente o domínio de profissionais dedicados trabalhando com regras detalhadas e vocabulário complexo. O problema principal com esta abordagem é a escalabilidade, e a impossibilidade de ser utilizada em vastas quantidades de conteúdo sendo produzidas e acessadas, especialmente no caso da web."

- "Folksonomies - Cooperative Classification and Communication Through Shared Metadata"

Mas é o próprio Weinberger que linka para uma imperdível blogada da Shelley 'Burningbird' apresentando uma outra visão ao tema:

"Acredito que o interesse em folksonomias desaparecerá da mesma forma que a maioria dos memes, que são interessantes como brincadeira. Eventualmente estamos interessados em projetos que não racham, lascam, ou tropeçam no dia do lançamento.

... não importa quantos truques se criem com esta coisa de tags, você só pode retirar daí a quantidade de conteúdo que foi colocado.

... a web semâmtica será construída "pelas pessoas", mas não será construída no caos. Em outras palavras, 100 macacos digitando por tempo indeterminado NÃO irão escrever Shakespeare; e nem 100 milhões de pessoas formando associações de forma randômica irão criar a web semântica
".

in Joho - "Burningbird on why tagging can't violate the Second Law of Thermodynamics"

Nem tão , nem tão . Em frente a tanta especulação sobre o futuro de algo que surgiu agora (mês passado, ou meio século/web atrás), em termos práticos tenho a dizer que me importo fundamentalmente com a autoridade de quem está por trás das tags. Não deixo de valorizar a reputação e autoridades coletivas, mas no contexto da busca de informação, valorizo mais quando tenho a condição de saber e escolher "quem tagueou", ou conceituou. Isto nos remete à questão da identidade, autoridade e reputação na rede -- de novo. Mas a conversa continua.

Bônus links: Delicious Mind Map Maker, (para visualizar suas tags em MindMap), e Delicious Tag Stemmer (para debugar sua lista de tags).

domingo, janeiro 30, 2005

Balanço do FSM: Referências e comentários

O Forum Social Mundial certamente não vai aparecer em sua TV, e portanto é necessário recolher os links que irão dar uma idéia mais aproximada do que ocorreu por lá.

Sobre o os painéis em destaque na Ecologia Digital, na V Ciranda encontram-se bons relatos (também do RITS). O texto apresentado pelo Manuel Castells ("Innovation, Information Technology and the Culture of Freedom") está no PSLBrasil. E o Lessig bloga novamente sobre Porto Alegre, sublinhando o que ele viu acontecendo na prática:

"Após o almoço visitei o Acampamento da Juventude do FSM, onde 50.000 barracas e 80.000 garotos participam dos eventos. No centro havia um laboratório de software livre com 50 máquinas rodando GNU/Linux, e aulas constantes sobre como configurar sistemas, como trabalhar com edição de áudio e vídeo, como participar em comunidades de software livre. O movimento era todo organizado pelos garotos -- máquinas em caixotes, o chão de barro e palha, cabos e caixas prá todo lado.

Tive a oportunidade de falar com um dos organizadores de uma parte do laboratório. Barlow e eu bombardeamos os garotos com perguntas enquanto descreviam os seus "mil pontos de cultura" -- projeto de criar mil locais espalhados pelo Brasil onde ferramentas de software livre estejam disponíveis para criar e remixar cultura. O foco é vídeo e áudio, e ninguém está muito interessado em aplicações Office ou coisas do tipo. É um extraordinário movimento de raiz devotado a um ideal (o software livre) e a uma prática (torná-lo real)."

Lessig Blog: "returning home"

E enquanto Lula em Davos recusava o convite de Gates para um encontro, no rescaldo do FSM Sérgio Amadeu (entrevista em áudio) e o ministro Gilberto Gil ("Convocação pela Liberdade Digital") dão o tom do discurso governamental na questão do conhecimento livre, onde se misturam software e cultura. O "encontro no acampamento" na visita surpresa do ministro e comitiva ao Laboratório de Conhecimentos Livres ficou famoso (veja o vídeo no CMI, e o relato via PlanetaPortoAlegre), recebendo eco no BoingBoing.

A questão do software livre no FSM chama a atenção do mundo. Foi destaque no vale do silício, em Seattle, no Canadá, na Turquia e na BBC.

UPDATE (31/01/2005): nossa valorosa NovaE também publica sobre o painel (aqui, e aqui), assim como o Intermezzo. Fora isso, a parada foi "slashdoted", mesmo porque já saiu na foxnews e gerou matéria (áudio) na NPR (National Public Radio) noticiando a "troca". ("The government of Brazil says it will switch 300,000 government computers from Microsoft's Windows operating system to open source software like Linux")

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Gil no FSM
- Lessig estava lá e viu

Lawrence Lessig reporta a passagem de Gil no acampamento da juventude do FSM:

"Nós chegamos no meio de um concerto. Pediram para Gil falar, e quando ele pegou no microfone, a tenda silenciou. Centenas de pessoas estavam apertadas em um espaço muito pequeno. Gil começou a descrever o trabalho do governo Lula em apoiar o software livre, e a cultura livre, quando o debate esquendou. Não falo português, mas um brasileiro traduziu para mim e Barlow. O garoto estava questionando sobre rádio livre. Após dois minutos de diálogo, 8 mascarados subiram em cadeiras desfraldando banners demandando rádios livres. Uma grande discussão explodiu, com o ministro Gil entrando em conversa direta com inúmeras pessoas. Após 20 minutos a discussão cessou. A banda tocou novamente, e então Gil foi convidado a cantar. Por mais outros 20 minutos, este estraordinário artista cantou sua música acompanhado por toda a audiência (exceto Barlow e eu)."

"Mas o mais incrível é a dinâmica desta democracia. Barlow tirou a foto acima, que em certo sentido captura tudo. Aqui está um ministro do governo, cara a cara com simpatizantes e oponentes. Ele fala, as pessoas protestam, e ele dialoga com o protesto. De forma passional e direta, o ministro se mantém no nível da argumentação. Não há distância. Não há uma "zona de livre manifestação". Ou melhor, o Brasil é a zona de livre manifestação. Gil pratica as regras desta zona."

(Lessig Blog: different worlds)

UPDATE: o Bica, e não deixa o Lessig falando sozinho.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Reativando: porque a rede está mesmo muito quente!

O blog adormeceu por algumas semanas, em meio a muito serviço, férias offline, meninos que não saem da frente do(s) teclado(s) - vide ao lado - e outras variáveis. Mas a frequência das vibrações na rede vêm subindo exponencialmente desde os abalos do tsunami -- que vieram demonstrar novamente que uma rede inteligente (ou 'citizen journalism', como queiram) excede em eficiência e alcance qualquer empreendimento proprietário em comunicação -- e a Ecologia Digital não poderia deixar de reportar.

O FSM é a bola da vez e os picos, além da movimentação da mídia alternativa com o Fórum Copyleft e o Laboratório de Conhecimentos Livres, são as mesas da Revolução Digital:

Em meio a tudo isso a VEJA ("o PT deixou o Brasil mais burro?") continua forçando a barra, e "ecoa a pretensa incultura do governo encabeçado por um ex-metalúrgico, quem sabe inclinado à revanche de deliberado sabor esquerdista em relação aos doutores". Em boa hora temos Mino Carta assinalando que "a mídia nativa tem sido muito eficaz na proposição de clichês, prontamente engolidos pela distinta platéia, mesmo porque os próprios mestres midiáticos acreditam no que dizem"("Quando Miami vira a Meca" - CartaCapital, 26 de Janeiro de 2005 - Ano XI - Número 326).

E o que a Ancinav tem a ver com isso? Tudo. Bônus link: "Estante Clandestina"

E depois das últimas ( ! ) ( ? ) de Bill Gates, não posso deixar de destacar (via HD) a nota do governo (ITI, como não?) afirmando que a "pirataria é incentivada pelo preço proibitivo" dos softwares. E também a cruzada do Marcelo Thompson (também ITI, claro), que resultou na posição da PGR (veja íntegra do parecer) em defesa da constitucionalidade da lei gaúcha sobre o uso preferencial de SL (suspensa pelo STF, para estranheza da AGU e todos nós).

Ao fim, a nota triste deste dia 26 de janeiro de 2005.

Às nove horas da manhã, no Céu do Mapiá (AM), a Madrinha Cristina Raulino da Silva fez a passagem para a dimensão espiritual, deixando toda a irmandade do Santo Daime saudosa de sua presença amorosa:"Nossa bem amada Madrinha viajou hoje, para se encontrar com nosso abençoado Padrinho Sebastião, Mestre Irineu e todos nossos queridos companheiros que neste momento devem estar festejando sua chegada.
hinodasemana