Na rede

quarta-feira, agosto 20, 2003

Mais Software Livre em Brasília, e tecnologia digital para a paz social

A seqüência do dia 19 na Semana de Software Livre no Legislativo ficou por conta de Marcelo
D'Elia Branco
, coordenador do PSL-RS e grande responsável pela realização do "conclave".
Assim foi denominado o evento pelo senador José Sarney, que disse ter sido convencido por Marcelo da importância do SL para o futuro do país em fortuito encontro entre ambos acontecido em evento na Europa, no início do ano. Temos que admitir que este encontro
pode ter sido decisivo para o futuro do SL brazuca.

A apresentação de Marcelo descreveu bem o quadro da economia no
setor tecnológico, após a revolução que possibilitou a convergência
das TICs
. Aproveitou a deixa de estar se dirigindo a parlamentares e alertou contra os perigos do DMCA, que estaria embutida no acordo da ALCA. Anunciou também o lançamento do Projeto Software Livre Brasil para amanhã (21/08).

De tarde, a principal atração era o painel da tecnologia digital para a paz social. O articulador de políticas digitais do MinC, Claudio Prado (que, dizem, foi quem botou LSD no discurso do Gil), estaria apresentando o esperado projeto das BACs - Bases de Apoio à Cultura. (vale à pena ver o Do In Antropológico visual).

A idéia foi gestada com a colaboração do grupo Articuladores, e vem ganhando simpatia em vários setores do governo como ação efetiva para a recuperação da auto-estima da juvetude excluída. O projeto promove o domínio das mídias digitais para produção de cultura local (surge o Hip-Hacker), fomentando a veiculação da multidiversidade cultural no ambiente digital - tudo baseado em Software Livre.

Na sequência foi a vez do Marketing Hacker Hernani Dimantas deslocar o foco do assunto para longe dos computadores, enfatizando a importância central da ética hacker e da conversação possibilitada pela Internet como pressupostos do novo paradigma digital. Destacou a importância das BACs no papel de fomento à produção de conhecimento local - caracterizando a terceira geração dos telecentros.

Hermano Viana, também assessor do MinC e especialista nos movimentos recentes da música brasileira, divulgou a intenção do ministro Gil em explorar as possibilidades das licenças da Creative Commons, que inclusive já estariam sendo traduzidas para o português. Destacou que a utilização dos samplers já influencia diretamente a maioria dos novos estilos musicais criados pelos jovens nas diversas regiões do país (a cibermúsica?), e portanto uma nova abordagem na questão dos direitos autorais é condição fundamental para o florescimento da cultura digital. Também os arquivos musicais brasileiros estão na mira da estratégia do ministro Gil, pois a execução de títulos com base nas licenças CC no âmbito internacional teria como resultado certo uma ampliação de mercado para música e músicos nacionais.

Para fechar o painel Luis Eduardo Soares, Secretário Nacional de Segurança Pública, apresentou um quadro forte para ilustrar a desesperada busca de reconhecimento por parte de um menor excluído socialmente ao ir de encontro à sua primeira experiência de violência (apontar uma arma para alguém). Demonstrou que, para os incluídos, jovens pobres são seres invisíveis - esta alienação surge da indiferença ou do preconceito, e torna-se funcional ao naturalizar a paisagem urbana intolerável para que possamos ter um mínimo de paz.

Neste momento primordial de violência, ao apontar a arma, o jovem estará trocando seu futuro por um momento de glória, que depende do olhar de reconhecimento do outro - o que demonstra a importância da dimensão intersubjetiva. De fato, este clamor pelo reconhecimento por parte da juventude excluída não encontra nenhuma resposta das políticas públicas até hoje implementadas, que tendem à homogeinização. Concluindo, Luis Eduardo afirma que a valorização da arte e cultura próprias são capazes de devolver a auto-estima estraçalhada:

"A possibilidade desses jovens demonstrarem virtudes e qualidades, realizando uma produção autônoma de sua própria especificidade em mídia digital, coloca as BACs como projeto singular neste contexto. E promove a centralidade da cultura e das políticas culturais para o desenvolvimento da paz social. Internet, redes de sociabilidade, possibilidade de ser reconhecido e obter respostas, assim constituindo o laço (vínculo) - arte, estética e música, acrescidos do diálogo
digital."

Depoi do painel ainda veio o Miguel de Icaza, que nem falou da compra da Ximian pela Novell... Mas aí também já não dava para captar coisa nenhuma.... Fim do dia.