Na rede

terça-feira, outubro 21, 2003

Bons sinais para o ambiente digital nacional: Sérgio Amadeu e Gilberto Gil rumo à digitalização tropicalizada

Comentários de Sérgio Amadeu (ao lado), Diretor-Presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação - ITI, em sua apresentação na 1ª Oficina de Software Livre do Ministério de Ciência e Tecnologia, que está sendo transmitida ao vivo pelo site do MCT:

"O Governo brasileiro (ainda) não segue o mercado."
Sobre o grande uso de aplicativos gerados na plataforma asp nos órgãos publicos, o que impede a utilização do servidor Apache, o qual é utilizado por 66,8% dos servidores web no mundo.

"Não temos nenhum interesse em olhar o código, se ele permance fechado."
Sobre a oferta da Microsoft de permitir que governos revisem o código fonte do Windows para apaziguar questões de segurança envolvendo o sistema operacional.

"Estamos pensando, talvez, em um novo artigo na lei de software
brasileira, do ponto de vista dos direitos do consumidor, para assegurar o suporte aos softwares oriundos de comunidades de desenvolvimento."

Sobre as preocupações do governo em criar o ambiente ideal para o florescimento de um novo mercado baseado em software livre.

Enquanto isso, no blog de Lawrence Lessig sai o anúncio das novas licensas Creative Commons para casos de sampling (reprocessamento de áudio com uso de sampler), que foram inspiradas diretamente pelo nosso ministro Gilberto Gil (ao lado, na memorável jam com Kofi Annan) em parceria com o Direito da FGV. O desenvolvimento da idéia geral foi gestado em lista de discussão.

Como anteriormente destacado no EcoDigital, a utilização dos samplers já influencia diretamente a maioria dos novos estilos musicais criados pelos jovens nas diversas regiões do Brasil (a cibermúsica?), e portanto uma nova abordagem na questão dos direitos autorais é condição fundamental para o florescimento da cultura digital.

Também os arquivos musicais brasileiros estão na mira da estratégia do ministro Gil, pois a execução de títulos com base nas licenças CC no âmbito internacional teria como resultado certo uma ampliação de mercado para música e músicos nacionais. Dá gosto acompanhar algumas iniciativas do governo Lula, principalmente ao perceber na estratégia governamental relacionada às TICs e ao ambiente digital uma posição ideológica consistente, que demonstra consciência da importância do domínio público do código, e de novos conceitos para o gerenciamento da propriedade intelectual.

Os avanços concretos deixam claro que não existem muitas concessões a serem feitas às concepções proprietárias no novo paradigma das TICs nacionais, infra-estrutura primordial de nossa sociedade da informação tupiniquim - devidamente tropicalizada.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Sobre os insatisfeitos da rede
- A tensão entre EFICIÊNCIA e SIGNIFICADO no mundo web

Há algum tempo me registrei num mailing list legal chamado NetFuture
onde o editor, um cara bem interessante chamado Steve
Talbot
, propõe um olhar além dos "riscos" geralmente
detectáveis no uso da rede, tais como violações de privacidade,
acesso desigual, censuras, etc. De fato, suas análises procuram alcançar
aqueles níveis mais profundos onde, de maneira subliminar, formatamos
a tecnologia e somos formatados por ela.


Na última edição, fiquei parado no artigo "Reflexões
sobre os insatisfeitos da Internet
", e providenciei uma tradução
para o Ecologia Digital.
Vale à pena conferir, e para mim é especialmente pertinente a
especulação sobre algumas qualidades inerentes ao cenário
digital:



Sim, o mundo - o mundo Web, com suas indubitáveis e agora essenciais
maravilhas - nas pontas de nossos dedos. Mas estar a um click de distância
de todos lugares leva-nos a estar em nenhum lugar em particular, e isso significa
que tornar a Internet um lugar saudável para as crianças não
é uma meta realisticamente alcançável no presente momento.
Não há "lugar" para tornar saudável, nenhum
lugar onde as pessoas se relacionam, onde o desenho das casas com seus quartos
privados e comuns, o desenho das ruas, a localização dos negócios,
escolas, parques, a estrutura construída ao longo de anos dos relacionamentos
familiar e comunitário, os ritmos de trabalho, estudo, comércio,
jantar, recreação e conversação, a realidade terrena
do Sol, brisas, chuva e mosquitos - não há lugar onde estes
e outros milhares de fatores podem se juntar para dizer, 'Aqui está
você. Seu nome está escrito neste lugar. Você pertence
aqui, e está seguro.'"



Esta constatação me fez reavaliar algumas premissas sobre as
qualidades de permanência do ambiente digital, sobre identidade digital
e gerenciamento de reputação. E também gerou uma reavaliação
dos princípios que movem os projetos de inclusão digital, na base
do questionamento da equação EFICIÊNCIA X SIGNIFICADO.



"Assim é o "mundo" para o qual tantos têm
desejado transferir os locais de trabalho de nossa sociedade, prefeituras,
escolas, clubes de recreação. Não tenho dúvidas
de que alguma transferência de funções é inescapável
e adequada atualmente. Mas o equivalente a uma louca corrida por terra - neste
caso, encorajada pelo governo, com incentivos fiscais, corrida de consumidores
para terra nenhuma - será catastrófica, senão por outras,
pelo menos pelas duas causas que mencionei: o impacto destrutivo sobre os
casos de mecanismos cujas recomendações primordiais são
sua eficiência; e a desorientação resultante da
perda do lugar real, com seu complexo papel de nos firmar, estruturar e dar
significado a nossas vidas."



E o último parágrafo no artigo é contundente, pois imagina
a possibilidade de um futuro no qual, ao invés do ambiente digital promover
os princípios libertários e democráticos dos quais estavam
imbuídos seus idealizadores, vir a tranformar a sociedade num subproduto
da homogeinização perversa baseada na eficiência. Nada menos
ecológico do que isso, e por isso devemos estar alertas e ter muito CUIDADO.



"O problema com o idealismo exagerado da Net dos primeiros tempos
foi que ele estava vestido de poderes redentores da tecnologia. Isto estava
fadado ao desapontamento. Um idealismo puro ganha voz na expressão
de nossos próprios ideais quando encontramos dentro de nós mesmos
os recursos para colocá-los em prática, na Internet e em todos
os lugares. À medida que fazemos isso, podemos esperar descobrir um
caminho entre nossos insatisfações atuais e fazer da Internet
uma expressão valiosa, ainda que presumivelmente limitada, de uma sociedade
saudável. A alternativa é observar a sociedade tornando-se uma
expressão doentia da Internet."



Alguém tem algo a contribuir? Qual a sua idéia a respeito? Comente.