Na rede

terça-feira, novembro 12, 2002

Hollywood orgulhosamente apresenta: Movielink
- Para bom entendedor, não passa de estratégia de relações públicas

Depois de anos de desenvolvimento, cinco dos sete maiores estúdios de Hollywood (Universal,
Paramount, Sony,
Warner Bros. e MGM) estão anunciando o lançamento do Movielink, o site "oficial" de video-on-demand - certamente o de maior acervo, começando com 175 filmes. Arquivos para download custam entre US$1.99 a $4.99, expiram a validade 24 horas depois de executado pela primeira vez, podem ficar guardados em um hd por 30 dias, só irá rodar na máquina que fez o download, mas poderá ser pausado, avançado e retrocedido à vontade. Os títulos só estarão disponíveis no site 6 semanas após terem sido lançados em DVD e VHS.

O serviço está disponível apenas para os EUA, e mesmo assim exclui todos os usuários Mac (ou Mozilla, ou Opera, ou qualquer coisa que não seja Windows). Sem banda larga, nem pense em usar o serviço, e mesmo assim pode ser mais rápido ir até o vídeo clube da esquina do que "baixar" 500 Mb. A menos que você tenha seu computador ligado à TV, vais ficar pendurado na frente do seu monitor assistindo o tal filme, e a economia não é significativa em relação ao pay-per-view das operadoras a cabo. O marketing do Movielink, segundo porta-vozes, está voltado para os jovens, mas será que este público já não está bem distraído "pirateando" filmes no Kazaa na mesma semana em que são lançados?

A pergunta é: o que faz Hollywood gastar munição com um negócio para o qual à princípio não existe demanda? HudsonHawk.com, no Slate, sugere que o site e os milhões de dólares ali enterrados pelos estúdios configuram estratégia de RP para evitar a comparação com os executivos da indústria da música no seu retumbante fracasso em atualizar seu modelo de negócio às demandas do público da Internet. O principal objetivo seria demonstrar que Hollywood está disponibilizando uma alternativa legal aos cine-piratas da web.

A primeira iniciativa de video-on-demand na web foi o Intertainer, mas entre os muitos equívocos de seu modelo de negócio, além da já citada falta de demanda, estava a dependência em relação aos estúdios para o licenciamento de títulos. O site fechou recentemente, e está processando alguns dos estúdios fornecedores por suposto boicote com intenção de promover antecipadamente o Movielink. Situação típica do conceito de broadcasting mal adaptado aos princípios de funcionamento
da web.

Bem mais de acordo com a Ecologia Digital, o MovieFlix é por enquanto o único site que está conseguindo manter um negócio viável oferecendo filmes online. Disponibiliza títulos já em domínio público e produções independentes, os quais tem custo (quase) zero para o licenciamento. Isto parece indicar que, à parte do fenômeno P2P, o mercado para video-on-demand na web está mais para iniciativas de menor escala que explorem nichos de conteúdo.