Na rede

domingo, agosto 25, 2002

Ói nóis na fita!! Cora e Doc. Bons pais...

Como todo filho, o Ecologia Digital vai recebendo os incentivos e a formação de seus blog-genitores para ir ganhando espaço neste admirável mundo novo.

Não posso deixar de agradecer em público o "afago" de mamãe Cora, que resultou em inúmeras visitas.

E também gostaria de registrar (com aquele orgulho de quem faz algo parecido com o pai) que Doc Searls postou algo muito parecido com o "Buchicho na Blogosfera". Dê uma olhada: "An adult`s garden of clues" (juro que postei primeiro!).

Com o incentivo de mamãe e o exemplo de papai, tenho certeza que o Ecologia Digital está bem encaminhado. O editor, satisfeito, agradece...

sábado, agosto 24, 2002

Buchicho na Blogosfera: Fricção criativa embala o debate online

Poder ser animação de principiante, mas estou simplesmente fascinado com o nível e com o ritmo da conversa que se desenrola nestas paragens do universo web - a blogosfera. Para quem está chegando agora e não está ainda familiarizado com os conceitos e os personagens da cena do ativismo web, talvez seja bom dar uma atualizada no tema das ameaças à ecologia da rede, para não perder o fio da conversa que se desenrola abaixo.

Em 24 de julho último, Lawrence Lessig apresentou a já famosa conferência Free Culture (ótimo arquivo flash), na OSCON 2002 (O'Really Open Source Convention), onde avisou ao grande público presente que seria uma de suas últimas aparições neste contexto. E foi enfático ao desafiar geeks, coders e hackers a se envolverem mais diretamente no processo político que irá defender a inovação tecnológica e a liberdade da cultura no futuro. Chegou a ser rude ao afirmar que Washington não visita os blogs ativistas, e que depois de 6 anos de muitas campanhas inspiradas em lindas palavras de ordem e muito blá-blá-blá interno na comunidade, a batalha estava sendo perdida de goleada (o DMCA foi aprovado por unanimidade no senado americano) - e "ninguém estava fazendo nada" à respeito. Conclamou a hora de cada um sacar do próprio talão de cheques e injetar o necessário combustível para suportar os movimentos de defesa organizados - agir politicamente.

O primeiro a se indignar com os torpedos provenientes de Lessig foi Dave Winer (o da aposta blog com o NYTimes) do Scripting News, que contestou sua autoridade tecnológica. De fato, o posicionamento de Lessig, já devidamente expresso no sentido de reduzir o tempo de cobertura do copyright para softwares o coloca em rota de colisão com boa parte da comunidade de desenvolvedores, como mostra o artigo de Charles Cooper publicado no 'mainstream' News.com, da CNET.

No entanto, é interessante ver como Lessig não se faz de rogado e responde a altura em seu recém criado blog, e como a conversa não poderia ser mais aberta, o assunto se alonga e se aprofunda tecnicamente no blog de Doc Searls. Inspirada, simpática e bem-humorada é a resenha de Alex Golub , sugerindo a Lessig uma performance alternativa no evento (com direito a um show musical ao final).

Enquanto isso, em outro front, Declan McCullagh, também do News.com, resolveu defender o DMCA (Debunking DMCA myths). Seu artigo aponta que os ativistas da comunidade geek (geektivists), além de não conhecerem profundamente o texto da lei, pautam suas manifestações por um exagero que não costuma sensibilizar Washington. O comentário cita mais diretamente Ed Felten (veja artigo anterior), e classifica como desproporcional a reação de Princeton e de seu empregado diante das ameaças de enquadramento de ambos como infratores do DMCA, caso fossem reveladas as descobertas de Felten sobre o SMDI - McCullagh afirma que a possibilidade de Felten chegar a ser processado era quase nula. A discussão interessante e esclarecedora começou com uma resposta assinada por Felten, Ed Lazowska e Barbara Simons, enquanto McCullagh recebeu reforço logístico por parte de Alan Adler, da Association of American Publishers (APP). O debate está em pleno desenvolvimento - na última checagem o placar estava 2 X 1 para Felten e sua turma.

Retomo a poesia da última postagem (abaixo) para saudar o frescor desse espaço de intercâmbio, cheio de vida e energia criativa.

segunda-feira, agosto 19, 2002

Mergulhando no mundo Blog: Estaremos diante do jornalismo do futuro? Tem gente apostando que sim...


Imagem original perdida. Nova imagem publicada em 30/12/2010

Por algum tempo desdenhei a ferramenta blog, que a começar pelo nome, me passava a impressão de algo pouco produtivo, ou de significado limitado. Confesso que a primeira vez que o termo blog me chamou a atenção foi em março último, no anúncio da aposta de 1 milhão de dólares que Dave Winer (Scripting News), CEO da Userland.com, fez com Martin Nisenholtz, CEO do NYTimes Digital. O desafio será decidido em 2007, tendo como critério cinco buscas a serem realizadas no Google - se um blog figurar na frente do NYTimes.com na lista de resultados em três ou mais buscas, Winer vence.

Em caso contrário, ou na hipótese das empresas de mídia se apropriarem do formato blog para publicar seu próprio conteúdo, e um blog no NYTimes figurar no topo das pesquisas em 2007, Nisenholtz vence. Esta e outras apostas "visionárias" podem ser acompanhadas no site LongBets.com.

Dave Winer e a comunidade blog apostam que, no prazo de 5 anos, pessoas bem conectadas e informadas passarão a buscar análises confiáveis em blogs.

Isto se daria como resultado da incapacidade da mídia tradicional em especializar seus reduzidos quadros de redatores e editores no acompanhamento do amplo espectro de assuntos circulando na rede. Ainda segundo esta visão, a web acostuma seus usuários a esperar "sempre mais", e o sucesso dos blogs é condicionado pela incapacidade da mídia tradicional em disponibilizar, sob variados ângulos e na agilidade necessária, a sempre crescente diversidade multi-dimensional dos temas. De fato, a independência, transparência e agilidade editorial dos bloggeiros pode realmente significar um golpe no vigente paradigma dos grandes veículos de mídia na rede. No entanto, nada impede que as grande corporações assimilem o formato e o adaptem favoravelmente para seu próprio uso - o que, se for realizado com êxito, significa vitória para o NYTimes na aposta a ser conferida em 2007. Como exemplo, o jornal britânico Guardian
já disponibiliza seu próprio weblog.

Mas, independentemente da disputa que me chamou a atenção, o fato é que ao fim de poucas horas de pesquisa me rendi completamente ao fenômeno e estou encantado com as possibilidades desse novo formato de mídia. Também saltam aos olhos, num primeiro momento, as formas de interatividade que estão sendo propostas pela comunidade engajada com o objetivo de conferir visibilidade aos blogs que surgem em profusão. Para não ficar olhando a festa do lado de fora, fui direto ao Blogger, referenciado como o melhor serviço de hospedagem de blogs na rede. Alguns momentos depois já estava devidamente "iniciado" - o feliz proprietário
de um blog novinho em folha.

Com alguns cliques configurei meu novo endereço, incluíndo comentários e estatística de visitação. Uma rápida olhada no Google me deu a dica de blogs relacionados ao tema que escolhi, aonde pude colher referências interessantes para ajustar minha idéia inicial às especificidades do formato. O estilo e a temática dos blogs de Doc Searls (um dos autores do Manifesto Cluetrain - veja entrevista em português) e de David Weinberger (JOHO), dois grandes ativistas do meio ambiente digital, serviram como ponto de partida.

O acompanhamento de diretórios como o Blogging Ecosystem me permitiu sentir o "clima" do que está rolando no meio bloggeiro mundial, e em termos nacionais não posso deixar de citar o simpático InternETC. da Cora Rónai como ótima fonte de inspiração.

Uma vez publicado, o blog carece de um item importantíssimo - visibilidade - , e é exatamente neste quesito que a comunidade blog apresenta as idéias mais criativas. Para começar, cada blog dispobiliza o seu "blogrolodex", ou listas que indicam as recomendações do autor, e linkar outros blogs nos próprios textos disponinilizados também é prática usual, fazendo do universo bloggeiro uma grande corrente. Mas o marketing dos blogs não para por aí: vasculhando nas ferramentas de divulgação deparei com o BlogTree, um serviço gratuito aonde você pode registrar os "pais" conceituais do seu blog. E então, ganhei inúmeros irmãos (filhos dos mesmos blogs que registrei como pais). Ao testemunhar no universo blog tamanha dinâmica e apelo aos nossos instintos editoriais, percebo que minha aventura na área está apenas começando...

quarta-feira, agosto 14, 2002

Defcon reúne 'hackers', 'geeks' e 'coders' em Las Vegas: Evento consagra os novos conceitos que fundem o ativismo digital no concreto

Dando um descanso para o tema das ameaças ciberbéticas (voltaremos oportunamente a elas), vamos falar um pouco sobre os "cerébros" da resistência libertária na rede - hackers, os legítimos - e de seu "braço armado": a comunidade geek.

*Geek = alguém que faz uso social do seu computador (chat, multiuser games, grupos, blogs, sites etc.). Quem só trabalha com computador não é Geek.

E o momento é propício pois aconteceu em Las Vegas, entre os dias 2 e 4 deste mês, o Def Con 10, conhecido como "o maior encontro underground de segurança na Internet do planeta". Algo assim como a convenção internacional dos hackers.

Vários temas na pauta, desde a possibilidade de tranformar um Dreamcast (console de videogame) numa ferramenta para invasão de sistemas corporativos, apresentada por Chris Davies, da RedSiren Technologies, até a discussão ética sobre possíveis "contra-ataques" cibernéticos a servidores que emitem vírus através de seus protocolos de e-mail, promovida por Timothy Mullen, da AnchorIS.

Desafiando o FBI, que no ano passado neste mesmo evento, e por muito menos, "grampeou" o nosso simpático russo Sklyarov, Adam Bresson mostrou ao público como fazer cópias caseiras de DVDs e vídeos com um aparelho chamado Canopus. A mensagem é a mesma: todos têm direito de fazer cópias de trabalhos que adquiram legalmente, e este direito está sendo ameaçado pelas proteções que estão sendo desenvolvidas pelas corporações do entretenimento. A palestra foi devidamente gravada por Adam e seus advogados para uso em possível ação judicial.

Mas o assunto do momento, na Def Con e nos sites da comunidade "geek", são mesmo as redes sem fio (Wi-Fi) que operam com base no padrão 802.11b. Esta tecnologia tornou-se muito competitiva em termos de preço nos últimos meses (Cheap Residential Gateways), e na pressa de se livrarem dos cabos de conxão, empresas, indivíduos, e seus respectivos ambientes de rede estão se tornando vulneráveis a um novo tipo de intrusão. O fato é que o novo contexto tem criado novos comportamentos, e todo mundo mundo só fala em "war driving", "warchalking" e "redes públicas de Wi-Fi". O que é isso? Aí vai uma pequena atualização para os que ainda não estão familiarizados com os conceitos.

Ao transitar por qualquer cidade relativamente bem aparelhada em termos tecnológicos, e neste caso estamos falando principalmente de Estados Unidos e Europa, você estará entrando e saindo das chamadas "bolhas" de conectividade. Se você entrar em algumas dessas "bolhas" e estiver portando um PDA ou um notebook equipado com um cartão Wi-Fi (conexão sem fio), um pequeno ícone irá aparecer em algum lugar da sua tela informando que, epa!, você está conectado à rede - e de graça!

Mas afinal, porque estas bolhas de conectividade estão dando sopa? As bolhas são projetadas por pontos de acesso Wi-Fi nos prédios ao redor, e são ocasionadas por dois tipos de administrador de sistemas:

  1. o relapso, que foi incapaz de configurar a capacidade do ponto de acesso em eliminar o acesso não-autorizado, e
  2. o altruísta, que acredita na "distribuição da riqueza" e por vezes instala potentes antenas para aumentar o raio de alcance de sua própria bolha, e assim disponibilizar acesso gratuito a mais gente.

E aí chegamos em "war driving", derivado de "war dialing" - que consiste na ultrapassada estratégia hacker de programar o sistema para chamar milhares de números de telefones em busca de conexões dial-up desprotegidas. WarDriving, termo cunhado por Peter Shipley, é circular pelas ruas da cidade de notebook com cartão de conexão Wi-Fi ligado a uma antena Lucent, e um receptor GPSanexo para anotação das coordenadas - em poucas horas este kit hacker pode localizar mais de 80 redes abertas para conexão numa cidade como San Francisco.

A Def Con 10, como não poderia deixar de ser, promoveu um concurso de WarDriving paralelo aos Foruns e às (famosas) FESTAS (foto ao lado) que caracterizam o evento. Os resultados assinalando os locais e as características das redes detectadas, os quais ainda serão consolidados para melhor divulgação, já podem ser acessados na rede. Não passou desapercebida aos simpáticos contraventores inscritos no concurso de WarDriving a tentativa do FBI em monitorar seus passos - interceptaram mensagem de um agente alertando a corporação sobre o plano da turma.

E a novidade agora é WarChalking, pois melhor seria se estas bolhas de alguma forma se tornassem visíveis aos usuários. E se de repente, andando pela rua, você encontra sinais marcados em giz (chalk) lhe dando todas as dicas sobre como conectar a rede ali disponível? Warchalking (www.warchalking.org) é um movimento para mobilizar a comunidade "geek" a decidir uma iconografia padrão para a "rede Wi-Fi pública". Partindo da iconografia hobo, que marcou época nos EUA como meio informal de comunicação para viajantes, a turma do WarChalking já está mapeando a "rede pública" e gratuita de acesso à Internet de posse dos cartões (modelo ao lado) que são disponibilizados em arquivo pdf.

Não estamos realmente diante de um novo meio ambiente? No caso do WarChalking, a esfera digital se confunde com o concreto e manifesta a a sua virtualidade nas paredes e muros das grandes cidades. Sinais do futuro?

sexta-feira, agosto 09, 2002

As ameaças ao meio ambiente digital (1)

Hoje começarei a explicitar quais as ameaças ao ambiente digital justificariam a formação de um movimento ecológico preservacionista para a rede. Vamos enumerá-las em capítulos, começando pelo vilão mais conhecido - o DMCA.

O"Digital Millenium Copyright Act" (DMCA) é um ataque violento, sob a forma de lei, ao renovado domínio público proporcionado pela Internet, e está em vigor desde 1998.

É claro que estamos falando de uma lei americana, que vale por lá, mas é bom ter em mente que as regras que padronizam o funcionamento de hardware, de software, da rede e dos copyrights para os EUA terão grande chance de se tornarem hegemônicas no mundo. Ou não?! Comentários?

O fato é que em seus quase quatro anos em vigor, o DMCA tem possibilitado inúmeros ataques à livre expressão, ao justo direito de livre uso à obras adquiridas, e ao desenvolvimento da pesquisa científica. Maiores detalhes sobre os efeitos indesejáveis do DMCA podem ser conferidos em: "Unintended Consequences: 3 Years under DMCA" (arquivo pdf) - Relatório de Fred von Lohmann, consultor de propriedade intelectual do "Eletronic Frontier Foundation" (o mais importante movimento organizado no assunto). Vamos citar os fatos mais relevantes para o entendimento da questão, e também as devidas referências:

Liberdade de Expressão e a pesquisa científica sofrem constrangimento sob
a seção 1201 do DMCA:

(1) Ação judicial contra a 2600 Magazine (veja as últimas
atualizações sobre o caso
), pela publicação do código do programa DeCSS, desenvolvido por Jon Johansen (foto). Trata-se de um simples aplicativo Windows que permite a decifração do CSS ("Content Scrambling System"), que é o sistema de encriptação mais usado pelos DVDs comerciais,
tornando possível a cópia dos arquivos contidos no original para o HD pessoal. Ou seja, um aplicativo que permite que se manipule a nível privado conteúdos adquiridos de forma justa e legal no momento da compra
do DVD. No entanto, sob as premissas do DMCA foi engendrada a ação contra a revista e a prisão de Jon, nosso "nerd" de plantão, na Noruega.

(2) As ameaças ao professor Edward Felten e sua equipe, de Princeton, que aceitaram (e venceram) um desafio proposto pelo SMDI (Secure Digital Music Initiative) - organização encarregada de criar mecanismos anti-pirataria nos CDs de áudio através de marcas-d'água
digitais. A tarefa do desafio era decifrar o código e retirar as marcas que impediam a cópia, e aos vencedores estava reservado um prêmio em dinheiro, com a condição de se manter sigilo sobre o que fosse descoberto. O professor Felten considerou que seria mais interessante compartilhar sua descoberta com a comunidade de desenvolvedores, o que ajudaria a expor as contradições do DMCA - que tem como resultado o bloqueio ao avanço de novas tecnologias de segurança. Em função desta decisão, o pesquisador passou a ser ameaçado por advogados corporativos. O caso
gerou a disputa Felten v. RIAA (Recording Industry Association of America, o todo poderoso cartel das gravadoras), que contesta a constitucionalidade do DMCA em permitir a censura a divulgação de conhecimento científico.

(3) A perseguição do FBI ao programador russo Dmitri Sklyarov foi o primeiro caso criminal a ser conduzido com base no DMCA, que deve prosseguir com a audiência marcada para o próximo dia 26 deste mês. Dmitri ajudou a desenvolver o software Advanced E-Book Processor para a empresa russa Elcomsoft, e foi preso em Las Vegas em julho de 2001 num dos encontros DEFCON (encontro mundial de hackers) sob a acusação de distribuir produto destinado a burlar medidas de proteção de direito autoral.

O software permite aos possuídores de eBooks (formato proprietário da Adobe Systems)
traduzir do formato "seguro" para o formato pdf, facilitando sua re-instalação em outra máquina e possibilitando o justo re-aproveitamento do conteúdo do eBook para fins pessoais. Após 6 meses preso nos EUA longe dos familiares, Dmitri (foto com a família) hoje aguarda em Moscou o desenrolar do processo.

Continua...

quinta-feira, agosto 08, 2002

Ainda sobre o termo Ecologia Digital


Depois de publicar o Blog ainda fiquei em dúvida sobre o título: Ecologia Digital.

Mais em dúvida fiquei ao rever a referência que deixei na publicação sobre Domínio Público, de ontem: "comuns
informacionais"
(information commons). Muito difícil de
traduzir para o português... (sugestões)

Parece que estamos diante de uma real escassez de termos adequados para bem denominar e comunicar nossas percepções a respeito do meio ambiente digital. De acordo com Laurence Lessig (a principal estrela internacional de nosso tema, autor do livro "Future of Ideas"*), é necessário desenvolver um vernáculo próprio ao novo contexto para que possamos discutir as políticas do ciberespaço.

Foi James Boyle, autor de "A Politics of Intellectual Property: Environmentalism For the Net?", quem em 1997 primeiro lançou o termo "ambientalismo da rede". Usando de analogia com o movimento ambientalista cita que Rachel Carson, Aldo Leopold e outros ativistas dos anos 40 / 50, perceberam a necessidade de se formular um discurso que popularizasse a compreensão em relação ao desastre ecológico para onde a sociedade se dirigia. Objetivamente, o surgimento do ambientalismo como movimento cultural e político se tornou possível através de uma nova linguagem, que permitia que os abusos diversos ao ambiente fossem percebidos de uma forma unificada. Foi canonizado o conceito de "meio ambiente" (environment), que passou a delimitar o espaço onde se discutem as políticas relacionadas ao assunto - uma mesa de negociação onde sentam-se interlocutores tão heterogêneos como o Greenpeace e as grandes corporações petrolíferas. Sem a criação deste espaço específico, seria difícil estabelecer as conexões temáticas para uma compreensão adequada dos novos paradigmas por parte do público, e também viabilizar os foruns de decisão legítimos e representativos para o assunto.

Daí surgiu a idéia de Ecologia Digital. Um movimento que advoga um equilíbrio neste novo ambiente criado no espaço digital, mas que tem como tarefa inicial conceber e popularizar conceitos que possam bem representar e descrever esta nova topografia cultural e econômica de nosso tempo.

Information Commons, ou "communs informacionais", é a proposta de David Bollier (Diretor do Projeto Information Commons e co-fundador da Public Knowledge) para denominar o novo ambiente de domínio público viabilizado pela Internet e suas múltiplas possibilidades de interação e comunicação.

Sugestões? Comentários? josemurilo@yahoo.com
Depois continuamos...

quarta-feira, agosto 07, 2002

Parem com a privatização do conhecimento: O domínio público em perigo

O mais ameaçado e menos reconhecido bem comum em nossos dias é o domínio público de obras de criação e informações. O domínio público sempre foi concebido como um peculiar "ferro-velho" cultural, instalado na periferia da sociedade afluente. De acordo com a visão corrente, é o lugar onde o explorador de antigüidades pode encontrar inúmeras jóias culturais misturadas a livros, ilustrações e música merecidamente esquecidos.

O domínio público é geralmente visto como uma coleção estática de obras cujos direitos autorais (copyrights) e patentes expiraram, ou que não puderam ser registrados à princípio, como documentos governamentais e teorias científicas. Segundo a lei, o domínio público consiste também de objetos que não podem ser protegidos legalmente, como estórias populares, títulos, temas e fatos. O domínio público, de acordo com o senso comum, não é visto como uma fonte de muito valor criativo ou econômico.

No entanto, tem se tornado cada vez mais claro que o domínio público não é estático, marginal ou trivial. Milhões de pessoas hoje possuem seus próprios websites, utilizam software de código aberto (open source), interagem através de jogos online e sites colaborativos, e compartilham arquivos de dados livremente.

Agora que a Internet disponibilizou o poder de cada usuário tornar-se um criador, e rapidamente compartilhar informação com outros, o abrangência do domínio público tem aumentado consideravelmente. Este é o motivo para que vários especialistas nesta nova questão venham usando o termo "information commons" (comuns informacionais). Querem com isso enfatizar que a comunicação pública na era digital possui dinâmicas radicalmente novas, tornando ainda mais difícil - porém importante - preservar aberto o acesso ao compartilhamento da informação.

Para maiores e melhores informações sobre o conceito de "Information Commons", acesse o site http://www.info-commons.org/.

Pois bem! Estamos inaugurando este espaço de informações (em português) sobre a Ecologia Digital

O objetivo principal é acompanhar os movimentos e fatos que atuem direta ou indiretamente na promoção da noção de domínio público para os bens comuns da informação disponíveis no ambiente digital.

O que é Ecologia Digital?*
A Ecologia Digital trata de entender os ecossistemas informacionais. Estes são constituídos por fluxos de informação sendo processados através de mídias variadas. A informação tem passado por um amplo processo de digitalização e se transformou em recurso a ser explorado, produzido e transformado de forma semelhante aos recursos materiais.

As tecnologias da informação como meios de produção de valor estão protagonizando o papel de formatadoras das novas formas de comunicação, assim como de muitos outros aspectos da vida individual e social. Nas últimas décadas a informação tornou-se o mais importante fator de desenvolvimento cultural, social e econômico.

A Ecologia Digital busca entender a produção, distribuição, armazenagem, acessibilidade, propriedade, seleção e uso da informação em ambientes tecnologicamente determinados.

Uma questão ecológica fundamental está relacionada à preservação e a promoção do valor de uso da informação para a humanidade como um todo, e de suas propriedades não-comerciais, em oposição ao seu valor de troca. Inclue-se aqui a questão da diversidade cultural e da qualidade de vida num ambiente crescentemente baseado em informação digitalizada.

Forças econômicas e intervenções políticas ameaçam o equilíbrio do ecossistema da infosfera. Em ambos os casos, o pluralismo e variedade de expressões culturais oferecidas pelas tecnologias de informação e comunicação estarão sendo desperdiçados.

A Ecologia Digital busca preservar e promover a diversidade cultural e a qualidade de vida no ecossistema informacional.

(*) elementos desta definição podem ser consultados em World-Information.org, que tem uma seção de notícias (em inglês) especializada em Ecologia Digital.

ps: a imagem à direita não tem muito a ver com o tema, mas eu tinha que testar os recursos do blog...