Na rede

quinta-feira, novembro 28, 2002

US, and then...: Ecologia digital em imersão cognitiva na "terra da abundância"

Mas que ilustração bem sacada, hein? Uma super-metáfora do ambiente digital na temática blog.

Tive que abrir espaço para esta inspiração do Ray Vella, que está ilustrando uma matéria
sobre blogs
do NYTimes. A feminista de plantão tentou vender a idéia de que a blogosfera é machista, mas quem fez o filme foi o ilustrador...

Se alguém de vocês ainda não sabe, o conteúdo do NYT não é fechado, mas exige que se faça um cadastro. Vale à pena se registar pois, apesar da matéria sobre blogs ser muito ruim, este jornalzão é um fiel termômetro de como a grande mídia encara os temas do momento, e portanto é válido acompanhar.

By the way, para quem acomapanha o Ecologia Digital vou avisando que possivelmente estarei um pouco ausente nos próximos dias. Estou embarcando para San Francisco à noite (legal!), para encontrar amigos e participar de um evento da maior importância. Como disse no título,
trata-se também de um processo de imersão cognitiva dos conceitos da Ecologia Digital nos mecanismos e paradigmas da sociedade afluente, ou como diz meu amigo Lou Gold, compreender o que faz daquilo lá "the land of abundance".

Vou estar blogando no US, and then..., um blog de viagem experimental que pode ser visitado por quem tiver interesse em acompanhar os detalhes da jornada...

domingo, novembro 24, 2002

Ellen Feiss fala: Nossa musa quebra o silêncio em entrevista a jornal universitário


update 14/04/2007: o video do youtube substitui imagem original que ilustrava o post e se perdeu na deslinkania

Jornal Universitário da Brown University conseguiu o que Jay Leno, David Letterman e a MTV tentaram sem êxito: uma entrevista com a musa da Ecologia Digital, Ellen Feiss. Artigo da Wired no Terra complementa a informação. Para nós, finalmente fica esclarecido o mais importante - qual o tema do trabalho que o diabólico PC do pai de nossa heroína engoliu:

What was the paper about?

Ellen: "It was about Chinatown, and the formation of Chinatowns in America. I lost like three pages of it; it was terrible. It was a really, really good paper."


sexta-feira, novembro 22, 2002

Warchalking é roubo? A Nokia diz que sim...

O hobby geek preferido desde julho, o Warchalking, acaba de receber o primeiro golpe do mundo corporativo. Se ninguém tinha se manifestado até agora, é a Nokia a primeira a chiar. Veja matéria e comentários no site da BBC.

A empresa lançou um comunicado declarando que, qualquer pessoa que use serviços de rede sem a permissão da pessoa que paga por este serviço, está roubando. O comunicado surge logo após uma advertência do FBI sobre a "maluquice" wireless.

Warchalkers afirmam que estão realizando um serviço útil aos administradores de rede ao informar sobre as deficiências de segurança encontradas, e argumentam que se estivessem fazendo algo de intenção duvidosa, não estariam deixando rastros por aí. Por outro lado, se administradores de redes wireless deixam suas portas abertas em lugares públicos, não deveriam se surpreender se alguém entra para dar uma olhada. Deveriam estar agradecidos...

terça-feira, novembro 19, 2002

WWW novamente: Wi-Fi, Weblogs e Webservices renovam a utopia humanista da web

Decentralização é a palavra. Quando a Internet parecia sufocada pelo aparente fracasso da Nova Economia (um mito?), sob o ataque dos economistas conservadores do mercado, eis que surge um novo trio de Ws para recolocar o princípio básico de volta ao eixo central da revolução da web. Decentralização (veja Kevin Werbach). Mas a proposta não era esta desde o princípio? O que aconteceu no caminho?

Algumas perguntas podem ajudar-nos a compreender a questão: quais os setores da indústria sãos os "big players" da infraestrutura da rede? Tecnologia, telecomunicações e mídia, certo? E qual ideologia organizacional norteou a entrada desta turma no negócio da rede? A premissa de que poderosas estruturas centrais iriam dominar no desenvolvimeno deste espaço. Como resultado, na (a) TI empresarial tornam-se padrão os grandes servidores centrais operando com aplicações monolíticas, nas (b) telecomunicações vemos as operadoras em dificuldades por terem investido em enormes (e caras) infra-estruturas proprietárias (G3, por exemplo), e na (c) mídia vemos os proprietários de conteúdo brigando com seus clientes (chamando-os de ladrões) no intuito de aumentar o controle central sobre os canais de distribuição de conteúdo.

De acordo com este quadro, se a Nova Economia falhou foi por incapacidade destes setores da Velha Economia em compreender a dinâmica da Ecologia Digital. Ideologias centralizadoras irão falhar neste ambiente por 3 motivos: (1) dificuldade em crescer na escala que a web propõe, (2) dificuldade em se adaptar ao mundo real diferenciado, (3) dificuldade em perceber os efeitos da liberdade viabilizada pela fenômeno da web na consciência humana. A complexidade da equação "diverso + extenso + humano" inviabiliza sistemas centralizados atuando em redes na escala planetária.

A teconologia Wi-Fi (veja o timeline) talvez seja o melhor exemplo para demonstrar o que está dito acima (veja artigo NYTimes). Assim como a web, que floresceu sobre os padrões de comunicação livremente acessíveis da Internet, o padrão Wi-Fi tornou-se possível pelo fato do governo americano ter configurado uma porção de frequências de rádio para serem abertamente compartilhadas por qualquer pessoa que seguisse um conjunto simples de regras (especificação 802.11b).

Esta tecnologia revoluciona ao trazer a facilidade e omnipresença da conexão à rede em velocidades comparáveis às mais rápidas linhas de telefone digital ou cable modem, e desmonta estratégias gananciosas de operadoras que sonhavam oferecer este serviço proprietariamente.

Falaremos sobre os dois outros novos Ws
(Weblogs e Webservices) na sequência. Da análise acima fica a idéia de que o elemento que tem mantido a pressão por soluções decentralizadas é o fator humano na rede. As pessoas
vem percebendo que podem buscar novas formas de comunicar e colaborar além dos limites artificiais das organizações e da geografia, e que podem acessar a sua própria música, em seus próprios termos, da mesma forma como querem poder estar online de qualquer lugar, a qualquer hora.

" O processo de decentralização não é automático nem absoluto. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio - o tamanho ótimo dos grupos, os modelos viáveis e os compromissos sociais apropriados."
Kevin Werbach - (Tech's Big Challenge: Decentralization)

O importante, no âmbito da Ecologia Digital, é estarmos abertos à reorganização dos conceitos para não ficarmos falando bobagem, desperdiçando recursos, ou nos conformando com soluções limitadoras.

Decentralize, cause the Web is for the World, and it's Wide.
WWW again.

segunda-feira, novembro 18, 2002

O cumpadre cidadão João Arnolfo
Ecologista recebe título Honorário pelo ativismo ambiental em Brasília

Se
não fosse meu cumpadre, vizinho, amigo, irmão e companheiro de elocubrações
filosóficas sobre ecologias de todos os tipos, João
Arnolfo Carvalho de Oliveira
, candidato a Senador pelo PV-DF
nas últimas eleições majoritárias em Brasília,
ainda sim mereceria ser citado especialmente neste blog, na data de hoje. Já
teria conquistado a menção pela trajetória
destacada
em inúmeros ativismos e no ambiental especialmente, ainda
no tempo em que ecologia era um conceito alienígena.

Mas a significativa
cerimônia acontecida hoje pela manhã no plenário da Câmara
Legislativa do DF
, onde Arnolfo foi homenageado
com o título de Cidadão Honorário de Brasília, fez
da minha blogada pessoal uma notícia. Discursaram o senador eleito Cristóvam
Buarque
, o Deputado
Chico Floresta
(autor da moção), presidiu a mesa o chapa Rodrigo
Rollemberg
(meu candidato), e presentes estavam também representantes
do Forum das ONGs Ambientalistas do DF
(impulsionado pelo João), ativistas fardados da Patrulha
Ecológica
(João deu grande força), a turma da Comunidade
Céu do Planalto, que toca a Associação
Olhos D'Água de Proteção Ambiental - AOPA
(João
fundou), entre outros tantos grupos de ação ambiental.

Ainda
no sábado último, quando retornava do Seminário
das Rádios Comunitárias
, recebi a visita do cumpadre e filosofamos
um tanto sobre a importância dos movimentos sociais (e
outros ativismos
) se organizarem para que ocorra uma boa interlocução
na transição. E falamos sobre a Ecologia
Digital
, e sobre os mistérios da percepção humana que
ombro à ombro tantas vezes pesquisamos nas fileiras do Santo
Daime
, e mais uma vez insisti para que ele se iniciasse no mundo dos blogs.
Afinal o site da sua ONG ViaEcológica
e o jeitão de seu newsletter
já apresentam o estilo adequado - o João daria um ótimo blogueiro
ambiental. E seguimos nesta sintonia ecológica saudando o cumpadre cidadão.

domingo, novembro 17, 2002

Rádios Comunitárias na pauta: Evento da AMARC mobiliza agentes sociais por uma nova comunicação no país

O Seminário está se encerrando, e blogar offline realmente não é a "coisa real". Mas vou por aqui organizando os pensamentos ainda no clima de festa de um encontro efetivo e bem realizado. De onde estou vejo o Hudson Carlos da Rádio Favela (mais aqui) mandando ver no rap da Rádio Comunitária, acompanhado por Armando Coelho Neto, jornalista e Presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, que está lançando o livro "Rádio Comunitária não é crime" (Ícone Editora, tel. 11 - 3666.3095) .

A sensação que fica é que encontros deste tipo vão ser a boa onda da hora, e o entusiasmo da turma reflete a esperança que o novo governo inspira para os defensores da democratização das comunicações. Minha presença teve o objetivo de colocar a colher da Ecologia Digital neste caldo das Rádios Comunitárias, à princípio para conhecer a briga dessa turma pelo direito a comunicar, e na medida do possível apresentar as boas perspectivas do ambiente digital para o caso.

O peculiar momento político, acrescido da situação "estranha" do processo decisório do governo no setor da telecomunicação, indica que uma abrangente discussão sobre a democratização dos meios de comunicação é urgente. O programa do PT no âmbito da Comunicação Social, segundo informações no evento, está sendo formulado por Bernardo Kucinsky, o que tranqüiliza um pouco a turma. Mas a fragmentação política na abordagem a tão complexo tema indica que "as bases precisam ser ouvidas" (bordão do momento) para a definição do novo marco regulatório.

Nesta discussão tem papel de destaque o Conselho de Comunicação Social, que estava representado pela Berenice Mendes, integrante da Comissão de Trabalho do CCS e da Diretoria Executiva do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC). Ficou a idéia da AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias, promotora do evento) sugerir ao FNDC a realização de um evento abrangente que possa prover subsídios à formulação do programa de governo para o setor, assim como restabelecer o Fórum como espaço legítimo da discussão sobre a democratização da comunicação.

Mas existem questões práticas a serem atacadas, como as vozes, antenas e microfones (além de CDs, MDs, etc) ainda hoje retidos pela PF com mandatos da ANATEL, em virtude das distorções contidas na lei 9.612, que regulamenta o exercício das rádios comunitárias.

Para isso será lançada a campanha "Libertem nossos Presos", que estaremos apoiando diretamente aqui no Ecologia Digital. Formação de agentes comunicadores, advogados populares (para socorrer os comunicadores presos), e caravanas de visita entre as rádios para intercâmbio foram outras propostas surgidas em meio à animação do final da festa.

De nossa parte, a surpresa foi perceber que éramos o único notebook presente ao evento, e que apenas poucas das rádios representadas fazem alguma utilização das possibilidades da web para a integração de sua atuação. Fiquei sabendo da situação indesejável da lei que atualmente regulamenta o funcionamento das RC, que limita frequência, potência, e ainda por cima veta (!) a formação de redes.

Liberdade de rede seria o primeiro ponto onde poderíamos colocar a colher da Ecologia Digital no caldo das Rádios Comunitárias. Sugestões da comunidade?

Estaremos ligados nos resultados que irão surgir em decorrência deste evento, agradecendo o vibrante entusiasmo da Taís Ladeira da AMARC - Brasil (cérebro, motor e graça do evento) pela oportunidade de conhecer esta turma tão interessante da Rádio Magnífica (Goiânia), que também participa da seção local do Centro de Mídia Independente, da Rádio Bicuda (RJ), Rádio Muda (Campinas), Rádio Rala Coco (Brasília), TV Viva, Rádio Terra (Uberaba), etc...

Acesse os textos do Seminário aqui.

sexta-feira, novembro 15, 2002

Regulamentando a Comunicação Social Eletrônica: Rádios Comunitárias querem influir na política de CS

Hoje estou blogando diretamente do Seminário Nacional de Legislação e Direito à Comunicação: Regulamentando a Comunicação Social Eletrônica. É a minha primeira experiência de blogar um evento, e aos poucos vou me acostumando com os "detalhes" da função.

O evento reúne em Brasília representantes de 17 estados brasileiros, todos eles envolvidos de alguma forma com as rádios comunitárias e as atividades sociais relacionadas. Fiquei sabendo do Seminário pelo informativo do RITS, e confesso que me espantei pelo fato do evento não dispor de um site - apenas e-mail!

O primeiro painel do dia foi o mais interessante. O professor Murilo César Ramos, Diretor da Faculdade de Comunicação da UnB, esboçou um histórico interessante do desenvolvimento da ideologia na comunicação social no Brasil. O departamento que dirige foi criado nos anos 70, quando o enfoque era "comunicação e desenvolvimento", e esta diretriz funcional e instrumental foi, segundo ele, determinante na estruturação do curso.

O professor destaca que políticas nacionais de comunicação arrojadas foram concebidas no âmbito da UNESCO nos anos 80, resultando no Relatório McBride . A aliança neoliberal homogênica da era Reagan / Tatcher tratou de articular a saída dos EUA da UNESCO, esvaziando a discussão. Nesta época se estabelece a ideologia de CS que dá ao cidadão o direito de ser informado, mas não de informar - consumir informação, e não produzir.

O professor Murilo Ramos, que acompanha de perto o funcionamento recente do Conselho de Comunicação Social, defende que a formulação de uma real política nacional de CS carece de um marco regulatório. A dispersão e fragmentação do processo decisório entre os poderes, nas questões relativas à CS, impossibilita que o assunto seja abordado de forma integrada.

O final da apresentação trouxe uma frase forte: Toda nova tecnologia traz uma promessa civilizatória. A lógica do mercado têm pervertido estas iniciativas.

O segundo a se manifestar seguiu no mesmo nível, Márcio Iório, Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Regulamentação das Telecomunicações e professor de direito da UnB. Iniciou demonstrando como a concepção jurídica brasileira sobre o regime público configura e determina a forma como se desenvolve o negócio da comunicação. Esta especificidade explica, por exemplo, o fato do sucesso da TV aberta no Brasil, diferentemente dos EUA.

Explicou também que o futuro governo não terá tanta autonomia para transformar a atual situação no setor, já que os contratos com empresas prestadoras delimitam direitos cuja revisão dependerá de avaliação do congresso.

Novas categorias foram incluídos recentemente, como o Serviço Multimídia regulamentado pela Anatel em 2001, e o conceito de Comunicação Social Eletrônica introduzido pela Emenda Constitucional 36. Este último, segundo o professor Márcio, cria as condições para que se evite a fragmentação e descompromisso dos atores envolvidos nestas iniciativas.

O recado principal que percebi foi de que o direito à comunicação exercido pela radiodifusão comunitária ligada a políticas públicas sociais poderá criar o ambiente necessário para que novas e mais interessantes categorias jurídicas possam aparecer.

Bem, isto foi o que eu pude captar, e os links eu faço amanhã pois agora estou bem ocupado.

quinta-feira, novembro 14, 2002

Para sua segurança
- Boicote os discos com proteção anti-cópia

A
galera do Metáfora está
agitando mais um movimento, e o dpádua que não perde tempo já
lançou até o banner (ao lado):


"Discos com proteção anti-cópia restrigem os consumidores e são uma
grande ameaça à memória da cultura nacional. Os consumidores de discos devem
dar um enfático não a estes produtos mutilados que nem ao menos podem ser chamados
de CDs. Esta é uma convocação de boicote aos produtos culturais com limitações
anti-cópia
."


Saiba mais sobre o assunto aqui. O "Tribalistas" é um dos CDs que está sendo comercializado com esta proteção. Saiba detalhes sobre o que acontece com o CD mutilado aqui.

terça-feira, novembro 12, 2002

Hollywood orgulhosamente apresenta: Movielink
- Para bom entendedor, não passa de estratégia de relações públicas

Depois de anos de desenvolvimento, cinco dos sete maiores estúdios de Hollywood (Universal,
Paramount, Sony,
Warner Bros. e MGM) estão anunciando o lançamento do Movielink, o site "oficial" de video-on-demand - certamente o de maior acervo, começando com 175 filmes. Arquivos para download custam entre US$1.99 a $4.99, expiram a validade 24 horas depois de executado pela primeira vez, podem ficar guardados em um hd por 30 dias, só irá rodar na máquina que fez o download, mas poderá ser pausado, avançado e retrocedido à vontade. Os títulos só estarão disponíveis no site 6 semanas após terem sido lançados em DVD e VHS.

O serviço está disponível apenas para os EUA, e mesmo assim exclui todos os usuários Mac (ou Mozilla, ou Opera, ou qualquer coisa que não seja Windows). Sem banda larga, nem pense em usar o serviço, e mesmo assim pode ser mais rápido ir até o vídeo clube da esquina do que "baixar" 500 Mb. A menos que você tenha seu computador ligado à TV, vais ficar pendurado na frente do seu monitor assistindo o tal filme, e a economia não é significativa em relação ao pay-per-view das operadoras a cabo. O marketing do Movielink, segundo porta-vozes, está voltado para os jovens, mas será que este público já não está bem distraído "pirateando" filmes no Kazaa na mesma semana em que são lançados?

A pergunta é: o que faz Hollywood gastar munição com um negócio para o qual à princípio não existe demanda? HudsonHawk.com, no Slate, sugere que o site e os milhões de dólares ali enterrados pelos estúdios configuram estratégia de RP para evitar a comparação com os executivos da indústria da música no seu retumbante fracasso em atualizar seu modelo de negócio às demandas do público da Internet. O principal objetivo seria demonstrar que Hollywood está disponibilizando uma alternativa legal aos cine-piratas da web.

A primeira iniciativa de video-on-demand na web foi o Intertainer, mas entre os muitos equívocos de seu modelo de negócio, além da já citada falta de demanda, estava a dependência em relação aos estúdios para o licenciamento de títulos. O site fechou recentemente, e está processando alguns dos estúdios fornecedores por suposto boicote com intenção de promover antecipadamente o Movielink. Situação típica do conceito de broadcasting mal adaptado aos princípios de funcionamento
da web.

Bem mais de acordo com a Ecologia Digital, o MovieFlix é por enquanto o único site que está conseguindo manter um negócio viável oferecendo filmes online. Disponibiliza títulos já em domínio público e produções independentes, os quais tem custo (quase) zero para o licenciamento. Isto parece indicar que, à parte do fenômeno P2P, o mercado para video-on-demand na web está mais para iniciativas de menor escala que explorem nichos de conteúdo.

quinta-feira, novembro 07, 2002

A nossa Ecologia Digital, e a outra...
- Nós defendemos o mundo novo,eles buscam refúgio da overdose de dados da web

Ao girar pesquisas no google, uma em especial me chamou a atenção, destacando um artigo sobre Ecologia Digital de Javier Castañeda, do portal Baquia.com. O autor considera que estamos "sucumbindo ante os encantos da Era da Informação", e que precisamos de defesas que nos preservem "do ruído e do stress da comunicação permanente" - por isso, afirma que a ecologia digital (dele) é extremamente necessária pois irá salvar a humanidade desta triste situação.

Mas que overdose de informação é essa? E afinal, o que realmente é a web? Dave Weinberger me socorre tão pertinentemente com este artigo que só posso traduzir (quase) na íntegra:

"Passo a maior parte do dia na web, e sabes quanto tempo gasto lidando com informação? Em um bom dia, nada. Eu leio, escrevo, me relaciono com pessoas que conheço
ou passo a conhecer, processo e-mails, evito trabalho, etc. Informação é a última coisa que tenho em mente, e portanto soa estranho que o foco do assunto seja informação quando estamos falando do real substrato da web.

É fácil entender como esta abordagem foi concebida: a Teoria da Informação reduziu a comunicação humana a sinal e ruído, como uma forma de entender matematicamente o desafio
de mover padrões de A para B. Então vieram as bases de dados que reduziram ainda mais o significado da informação, registrando-a como a correlação de dados armazenados em linhas e colunas. Informação passou a ser considerada "coisa de computador".
...
Mas qual a importância desta discussão? Talvez tenha tudo a ver com a forma como experienciamos a Internet, e assim, com o que pensamos que seja a sua real utilidade, e o que consideramos que deva ser feito com a rede. A velha idéia de que trata-se de uma "Information Highway" foi adequada para governos e corporações em um determinado momento, mas obscureceu o fato de que a web está mais para conexão do que para transferência de dados. Está mais para um espaço onde humanos pouco organizados produzem toda a sorte de coisas que podem ser realizadas com palavras, figuras e sons, do que para um local onde seres racionais estão engajados em pesquisas. E é este o motivo pelo qual a Internet é um mundo, e não apenas uma mídia. Mídias se encarregam de mover bits, bytes, fatos
e informação de A para B. Um mundo é um rico contexto, irredutível e imprevisível - provedor do espaço onde seus habitantes podem arrancar os cabelos, se inflamarem ou se apaixonarem.

A informação que aparece na web é parte do mundo da web. Mas você nunca chegará ao mundo da web começando apenas com informação.

Como você usa a web? Meramente para transferências?"

Espero que tenha ficado claro de que Ecologia Digital estamos falando.

Agradecimento à comunidade
- Testemunho da calorosa acolhida do universo do blog-ativismo

Assim como quando o Ecologia Digital foi citado pela Cora, não poderia agora deixar de destacar a receptividade da blogosfera nacional à nossa presença no ambiente.

O Hernani
Dimantas do Marketing Hacker já havia linkado uma vez destacando a definição de Ecologia Digital, e depois outra sobre o nosso artigo (Eldred vs. Ashcroft) no MetaOng que inaugurou a seção específica do tema. Desde que comecei a circular no pedaço pude perceber a importância da atuação do hdhd na mundo blog nacional, e seu papel no reconhecimento da competência brazuca pelos 'pros' da rede. Merecem destaque suas participações em projetos como o Manifesto Cluetrain, Buzzine, Metáfora, e nos power blogs Gonzo-Engaged (Marketing Muito Maluco) e Small Pieces (Para que serve a web) - diga-se de passagem, todos extremamente sintonizados com os princípios da Ecologia Digital.

Teve também muito significado ser citado nos fluxos do Daniel Pádua, a quem já havia anteriormente declarado meu reconhecimento devido à sua especial presença neste admirável espaço novo. O Blogchalking já é um fenômeno consagrado, mas o cara manda bem também em outras investidas como o GASLI (Grupo de Argumentação
para o Software Livre) que está formulando colaborativamente um guia técnico para respaldar a Bancada do Software Livre no Congresso a criar problemas para Bill Gates aqui na Microsoftlândia, e o PROVOS, que propõe ações descentralizadas de mídia tática (entre elas o ZineProvos,
em Wiki, onde já meti minha colher). É dele também o manifesto do Projeto Metáfora, e foi sua
citação
o impulso necessário para que eu pudesse me apresentar melhor à galera metafórica.

Ativismo real se conectando através do ambiente tecnologicamente determinado. Ecologia Digital.


UPDATE 26/02/2003: Felipe Fonseca define o Metáfora "para quem ainda não entendeu".

sábado, outubro 19, 2002

Uma questão de estilo
- Dois anúncios colocam Apple e Microsoft em evidência. Pior para Bill Gates.

Paralelamente ao evento MacWorld New York 2002 em julho último, a Apple lançou uma campanha denominada Switch (troca), onde são mostradas pessoas comentando vantagens do Mac sobre o PC. Os anúncios na TV mostram relatos convincentemente espontâneos de pessoas (até um tanto estranhas) que optaram recentemente pelos produtos da maçã. O que não se esperava é que uma das peças veiculadas se tornasse um tremendo sucesso, elevando sua protagonista ao status de estrela ´cult´ em pleno verão americano.

Trata-se de Ellen Feiss, estudante de 14 anos que aparece criticando o PC-Windows de seu pai por ter "devorado" o seu trabalho de escola. Até aí tudo bem. Acontece que Ellen atua como se tivesse, como dizem os americanos, "under the influence".
(veja vídeo original, aqui também / montagem).

Traduzindo, todo mundo fica com a impressão que Ellen estava na 'maresia' ("stoned"), e seguindo a onda 'legalize' que floresce em toda parte, a peça ganhou notoriedade imediata (Wired / Guardian / NYTimes). Fã-clubes de Ellen estão se espalhando pela rede (#1 e #2), e a musa virou a estrela da campanha da Apple. "Ellen Feiss, o verdadeiro motivo para mudar (switch)", está entre as muitas frases que aparecem nas discussões sobre o assunto da rede.

Enquanto isso, em Redmond, incomodados com a provocação da campanha da Apple, a turma de Bill imagina uma estratégia de contra-ataque, e publica no site da empresa (veja o capture) o relato e a foto de uma suposta escritora (anônima) que após 8 anos usando Mac, estaria migrando para o Windows XP e vendo grandes vantagens na troca (switch).

Estaria tudo normal - a Microsoft em mais um plágio - se o relato fosse verdadeiro, mas a turma do Slashdot descobriu no mesmo dia que a foto da tal escritora era uma "stock image" disponível para ser alugada no site Getty Images (veja a semelhança). Com esta evidência de que algo estava errado com o anúncio da Microsoft, a blogosfera se mobilizou para desvendar quem afinal seria a tal escritora. E a turma não demorou a descobrir que tratava-se de Valerie G. Mallinson, funcionária de uma empresa de RP contratada pela Microsoft. Se os blogueiros não perdoam a Microsoft, a mídia também não deixou de registrar o mico (Wired / The Register / Salon / Geek.com).

As diferenças de estilo entre Jobs e Gates sempre foram bem conhecidas, mas o que salta aos olhos é que o público parece sempre torcer contra a Microsoft, e rir do mico deles é sempre mais gostoso. Por outro lado, será que a Internet e especialmente a blogosfera estão nos aparelhando no sentido de estarmos mais resistentes ao marketing desonesto? Certamente é um novo tipo de jornalismo.

We love Ellen Feiss. She rocks. Veja também no LATimes.

sexta-feira, outubro 11, 2002

O usuário contra-ataca
- Manifesto propõe que paremos de comprar música comercial e de ir ao cinema por 6 meses.

"Se não cortarmos a fonte de renda da indústria do entretenimento, eles cortarão nosso acesso à Internet"

O manifesto (It's Time to Stop the Music) é de Alex Herrel, o head lemur:, e foi escrito quando o site da RIAA foi hackeado (veja como ficou!) em final de agosto último. O lemur afirma que o ataque não
se justifica, pois negar o à RIAA o direito de publicar livremente o que quiser é negar a liberdade essencial da Internet. Mas informa que o nível de dificuldade da ação foi muito baixo, e que portanto o ataque foi um alerta instrutivo à deficiente segurança implementada. E, afinal, "isto é o que se recebe por chamar seus clientes, que são
a razão de sua existência, de ladrões e mentirosos."

"O computador pessoal mudou dramaticamente a forma como utilizamos nosso tempo livre. A criação da Web, construída sobre a plataforma da Internet
tornou a publicação de palavras, música, e mesmo vídeo, uma atividade que não mais requer uma "Indústria de Publicação" para a sua produção. Podemos fazer tudo isso em nosso computador
pessoal, em casa e agora mesmo. Mas depende de nós a manutenção desta possibilidade."

A web é uma fonte renovável que combina as habilidades de milhões de participantes, e conecta um verdadeiro forum democrático com possibilidades que há 10 anos não eram sequer sonhadas. A indústria do entretenimento falha em encontrar seu espaço neste novo ambiente, e passa a atacar seus usuários em atitudes desesperadas.

"O fim do mundo chegou para esta turma. Nada mais fácil para um servidor web
do que registrar arquivos acessados, e se os artistas buscarem por alguém disposto a prestar um bom serviço em contar estes downloads e administrar a entrada da grana, by by gravadoras. Temos a tecnologia rip, mix and burn (grave, mixe e queime), e o Napster e seus sucessores já demonstraram que queremos música, mas queremos nós mesmos empacotá-la. Todo mundo que conheço gosta de 1 ou 2 músicas em um CD, somente as gravadoras parecem não perceber..."

Talvez já seja tarde. Aproveitando para citar uma frase poderosa do nosso manifestante:

"O usuário é uma criatura que evolui muito rapidamente, sendo constantemente redefinido pela possibilidade".

quinta-feira, outubro 10, 2002

Procura-se o Kazaa
- Como é difícil achar o que está em todo lugar, e em lugar nenhum...

Update
(02/09/2003)
: Alerta
ambiental no espaço da rede


Donos do Kazaa usam o DMCA para censurar o Google

O Napster foi uma presa fácil. Tinha servidores próprios baseados em solo norte-americano e portanto caiu nas garras inapeláveis do DMCA.

O Kazaa, a grande curtição em P2P do momento, conta uma outra estória. Integrado como uma verdadeira rede distribuída, não possui nenhum servidor central - funciona com o conceito de "super-nós" (super-nodes), que cumprem papel semelhante mas de fato são meros usuários individuais que concordam em desempenhar a função.

A Sharman
Networks
, baseada na Austrália mas registrada em um ilha do pacífico sul chamada Vanuatu, é a dona do software. Seu código fonte foi visto pela última vez na Estônia, e acredita-se que seus desenvolvedores estejam sediados na Holanda, apesar dos servidores registrados da empresa estarem operando na Dinamarca.

As gravadoras (RIAA), percebendo que o inimigo está bem preparado para a batalha, estão abrindo múltiplas frentes de ataque para impedir que uma nova onda da "Cultura Livre" se estabeleça na rede.

Por um lado, tentam imputar à Sharman a responsabilidade sobre as cópias digitais não autorizadas, acionando-a por perdas e obrigando-a a parar imediatamente com a distribuição do software. A empresa nega a pertinência da ação afirmando que o negócio não funciona "realmente" nos EUA, e que a corte não tem jurisidição sobre suas atividades. Argumenta que a decisão de um juiz de Los Angeles iria afetar indiscriminadamente 60 milhões de usuários em 150 países - um contrasenso. Os
argumentos das partes serão ouvidos no próximo dia 18 de novembro.

Em outra frente, a RIAA ataca a Verizon, grande provedora de Internet dos EUA. A ação busca obrigar a empresa a informar quais usuários fazem uso do serviço, e como - tem como alvo inicial os chamados "super-users". Neste caso, usuários poderiam ser "delatados" com provas irrefutáveis da contravenção cometida, e as gravadoras teriam alcançado uma vitória significativa na questão. A Verizon têm lutado bravamente para não ser obrigada a "entregar" seus clientes, mas o resultado desta batalha ainda depende do grau de mobilização dos usuários e da conscientização da mídia e da sociedade em geral para a questão das liberdades individuais no ambiente digital.

Jogando pesado, a RIAA também patrocina o congressista americano que tenta aprovar lei que permite à indústria "hackear" o computador do cidadão comum em busca de arquivos "ilegais", bem no estilo "Big Brother". E em estratégias menos divulgadas, tem tentado infiltrar arquivos mp3 defeituosos nos diretórios Kazaa, a fim de atrapalhar a festa da "Cultura Livre". Quanta violência, hein?

Para a Ecologia Digital, este caso ilustra a necessidade de uma revisão geral do paradigma legal nas questões ambientais da rede. Até quando os tribunais americanos estarão dando o tom de como devemos conviver na Internet, sobrepondo-se sobre regulações (e especificidades) locais?

Viva a liberdade do Kazaa!!

quarta-feira, outubro 09, 2002

Eldred vs. Ashcroft ao vivo
- Acompanhe os comentários na blogosfera

O Lawmeme, da Yale Law School está acompanhando ao vivo a apresentação dos argumentos das partes no caso Eldred vs. Ashcroft. Isto significa Lawrence Lessig na Suprema Corte americana (foto) defendendo a Ecologia Digital.

Copyfight está também fazendo boa cobertura, e destaca um relato das atividades do dia (em ScotusBlog):

"Não
há um vencedor claro hoje e os juízes expressaram ceticismo ante ambas as exposições.
A questão tocante à Primeira Emenda (liberdade de expressão) foi pouco explorada, e não parece que vai desempenhar papel importante na sequência do processo. É uma pena pois embasa o argumento mais forte, e a jurisprudência
da interação entre a Cláusula do Copyright (Copyright Clause) e a Primeira emenda está muito necessitada de revisão e melhora.
Mas de uma forma geral, sem que nenhum dos dois lados tenha marcado pontos relevantes, fica difícil imaginar a Corte revertendo a decisão do Congresso. Existem provavelmente alguns votos em favor da reversão, mas o benefício da dúvida geralmente vai para o Congresso."

Mais
informações de última hora em Slashdot, um relato e um comentário no NYTimes, e um bom artigo novo de Matthew Haughey. Lessig também deverá blogar algo, não é mesmo? Estamos ligados.

Update: - Bom relato da seção por Kwindla Kramer do AllAfrica

O futuro das rádios da Internet
- Acordo com gravadoras está perto, mas artistas reclamam

O ambiente digital tem outro assunto quente esta semana, que é o acordo entre os Webcasters (transmissores digitais de áudio, ou popularmente, rádios da Internet) e a poderosa Recording Industry Association of America (RIAA). O acordo fechado nesta segunda-feira (07/10) regulamenta que as rádios pagarão retroativamente a 1998, início de vigência do DMCA,
royalties baseados nas receitas das empresas. As cláusulas acordadas abandonam o formato de cobrança "per-play" proposto pelas gravadoras.

As rádios irão repassar 8% de sua receita ou 5% de suas despesas ou um mínimo de US$2.000 (qual seja o maior valor) pela atividade de 1998 a 2000. Pelos próximos 2 anos irão pagar 10% sobre receitas até US$250.000 and 12% por até US$500.000. Qualquer webcaster com receitas superiores a US$500.000 no primeiro ano e US$1.25 milhão no segundo ano
irá pagar as taxas arbitradas pelo Copyright Arbitration Royalty Panel (CARP) este ano. O acordo foi chamado de Small Webcaster Amendment Act, e os recolhimentos devem iniciar em janeiro.

Kevin
Shively
, da Beethoven.com afirma que as rádios não aceitariam este acordo se não estivessem sob o risco de fecharem se obrigadas a pagar as taxas da CARP. Por outro lado, as organizações dos artistas reclamam que o acordo deve implicar em retenções de pagamentos, e portanto alguns ajustes deverão ser necessários para a aprovação do acordo.

No momento, "ótimas" rádios como a SomaFM e RadioParadise festejam o resultado da semana, mas Doc afirma que este é "o acordo que não será". Notícias de útlima hora dão conta de que o acordo não está sendo apoiado no Senado americano.

terça-feira, outubro 08, 2002

Billy the Kid


O ano era 1977, e hoje o mundo poderia ser diferente se Billy não tivesse escapado...
***

segunda-feira, outubro 07, 2002

Eldred vs. Ashcroft
Um caso que pode ajudar a redefinir o conceito de copyright para o ambiente digital

Nesta quarta-feira (09/10) a Suprema Corte americana irá analisar de perto pela primeira vez, diante da nova situação imposta pelo paradigma da comunicação digital (leia-se Internet), o poder constitucional que permite a autores, inventores e outros agentes de criação, "por tempo limitado", o exclusivo direito sobre as próprias obras (veja no LATimes) - o copyright. Serão apresentados os argumentos de ambas as partes no caso
Eldred vs. Ashcroft.

A primeira legislação dos EUA sobre direitos autorais e patentes instituiu em 1790 o período de 14 anos de reserva de copyright para o autor. No entanto, desde o advento da indústria cinematográfica o Congresso americano tem extendido o tempo de reserva repetidamente, de forma que hoje as obras criadas por grupos (filmes) são protegidas por 95 anos, e os direitos de trabalhos individuais se extendem por 70 anos após a morte do autor.

Os ativistas da Ecologia Digital, tendo Lawrence Lessig à frente, argumentam que o estado atual da legislação distorce a função essencial do copyright na Constituição, que seria promover o progresso e a inovação. A extensão dos termos de copyright faz com que apenas alguns clássicos permaneçam disponíveis ao público em cópias impressas, CDs ou DVDs, enquanto mais de 400.000 títulos de livros, filmes e músicas tornam-se inacessíveis por contrato, e assim permanecem até 2019. Outro resultado palpável das extensões dos termos de copyright tem sido o de enriquecer os herdeiros de antigos autores, e também manter as margens de lucro da Disney e outros estúdios.

O caso Eldred começa em 1995 quando Eric Eldred resolveu auxiliar suas filhas em uma solicitação da escola. A tarefa era ler "The Scarlet Letter" de Nathaniel Hawthorne, e como as meninas acharam o texto desinteressante, Eldred achou que poderia ajudar buscando referências na Internet, onde acabou encontrando o texto completo mas com muitos erros de formatação e diagramação.

Escaneou o texto, reformatou, revisou erros, adicionou notas e glossário e também uma resenha escrita em 1879, e como o texto de Hawthorne é melhor entendido no contexto de suas outras obras, escaneou a obra completa complementando-a com os novos recursos e publicou tudo isto em um endereço na rede (www.eldritchpress.org). Ao final do trabalho seu site já estava recebendo 3.000 visitas diárias, e foi saudado como uma ótima ferramenta pelos estudiosos em Hawthorne -
chegou a receber uma comenda da National Endowment for the Humanities. Ninguém mais teria dificuldades em acessar Hawthorne.

Mas em 1998 entram em cena os políticos, e o Congresso americano aprova o "Sonny
Bono
's Copyright
Term Extension Act
", que homenageia o falecido cantor / político / ex-marido da Cher, que costumava declarar que "o copyright deveria ser para sempre". Ao extender o termo de proteção por mais 20 anos, o CTEA frustrou os planos de Eldred que já programava ampliar o seu projeto e lançar títulos de 1923, como "Three Stories and 10 Poems", de Hemingway.

Deprimido com a injustificável mudança nas regras do jogo, Eldred resolveu trilhar o caminho da desobediência civil mantendo o plano de publicar obras datadas de 1923 e 1924. Foi preso, fechou seu site, escreveu cartas, e se tournou um ativista. Foi assim que Lessig ouviu falar do caso, e tendo forte conceito formado sobre a inconstitucionalidade da extensão dos termos de copyright pelo Congresso, procurou Eldred e deu início ao caso em seu nome.

Lessig, em sua famosa conferência "Free Culture" de julho último (Buchicho na Blogosfera), destaca quatro pontos que traduzem bem a encruzilhada da sociedade organizada frente ao paradigma colocado pela possibilidade de livre distribuição
de conteúdo digital de um lado, e as forças conservadoras que buscam manter um status quo nos moldes de uma época que já passou, de outro:

  • Criatividade e inovação sempre são construídas
    sobre o passado.
  • O passado sempre tenta controlar o processo de criação sobre seus conteúdos.
  • Sociedades livres viabilizam o futuro ao limitar este poder do passado.
  • A nossa sociedade é cada vez menos uma sociedade livre.

Vamos acompanhar aqui o desenrolar desta novela e, conforme já comentado neste blog, a grande mídia parece já estar percebendo "algo estranho" na argumentação de Hollywood sobre a questão. Pode-se conferir aqui,
aqui, e aqui, e aqui também. E deu também na Exame.

quarta-feira, outubro 02, 2002

Ecologia Digital
Revisitando o conceito

Vasculhando referências e apontadores, encontrei um bom desenvolvimento do conceito de Ecologia Digital introduzindo uma seção de notícias (ou seriam artigos?) específicas do site do World Information.org. Com o patrocínio da Unesco e vários outros parceiros, a WIO apresenta um bom modelo de funcionamento e certamente será acompanhada de perto à partir de agora por este blog. Abaixo, a tradução do texto que acrescenta bons elementos ao que já haviamos apresentado (aqui, e aqui):

"A Ecologia Digital trata de entender os ecossistemas de informação. Ecossistemas de informação são constituídos por fluxos de informação sendo processados através de variados tipos de mídia. A informação tem se digitalizado amplamente, transformando-se em recurso a ser explorado, produzido e transformado de maneiras similares aos recursos naturais.

As tecnologias da informação, como meios essenciais de produção de valor, desenvolvem papel central na configuração e formatação das formas de comunicação, assim como em todos os aspectos da vida individual e social. Durante as últimas décadas a informação tornou-se o mais importante fator para o desenvolvimento cultural, social e econômico.

A Ecologia Digital estuda a produção, distribuição, armazenamento, acessibilidade, propriedade, seleção e o uso da informação em ambientes tecnologicamente determinados.

Um tema ecológico fundamental consiste na preservação e na promoção do valor de uso da informação para a humanidade como um todo, e de suas propriedades não-comerciais em oposição ao valor de troca. Esta aí incluída a questão da diversidade cultural e da qualidade de vida em um ambiente crescentemente baseado na informação digitalizada.

Forças econômicas e intervenções políticas colocam em risco o ecossistema da infosfera. Em ambos os casos, a oportunidade de se promover o pluralismo e a variedade de expressões culturais possibilitadas pela informação digital e as tecnologias de comunicação está sendo perdida.

A Ecologia Digital busca preservar e promover a diversidade cultural e a qualidade de vida no ecossistema informacional."

Novidades Google II
Algoritmos hackeáveis e as marolas do Gnews (ou Noogle) no cenário da mídia online

Sempre o Google. Quando fiz o link no post Após um mês...(o número #1 no Google na busca do termo "Ecologia Digital"), fiquei intrigado uma vez ao acessar e descobrir que meu Weblog não era mais o primeiro item, e sim o terceiro. Mais tarde, ao acessar novamente para checar, lá estava de volta à primeira posição. No mesmo dia voltou a ficar mais para trás, na sétima ou oitava posição, e depois
retornou ao primeiro lugar. Agora permanece lá, mesmo porque, Após um mês..., retomei a atividade e acho que isto ativa alguma coisa nos algoritmos do Google.

Estando eu a filosofar sobre a ocorrência, esbarro com uma discussão quente no Doc sobre GRankings.
- traduzindo: rankings baseados no ordenamento da resposta de uma busca no Google. O assunto é quente pois na medida em que o Google se torna referência na web para se medir a pertinência de uma url em relação a um determinado tema, imaginar que possam existir alguns truques que favoreçam um melhor posicionamento pode render uma longa discussão.

Vaí por também aí o comentário do post
anterior
, sobre a possibilidade de se hackear o algoritmo do novo news service com o objetivo de beneficiar determinadas notícias ou veículos. E por falar nisso, o bochicho sobre o efeito do lançamento do Google News continua: CNet dá a maior força,
desdenhando o editor, e o Yahoo acusa o golpe anunciando o contrataque dos portais. Sempre o Google.

segunda-feira, setembro 30, 2002

Novidades Google
Novas ferramentas reforçam a posição da marca como paradigma da Web

Postei o comentário
anterior
sobre o artigo
da BusinessWeek
linkando para a notícia
traduzida para o portugês
pela ferramenta
de idiomas
do Google. Foi a primeira vez que usei o recurso, mas tive aquela
sensação de estar fazendo algo que significa um salto. A notícia
traduzida para o portugês tem um link! (e reside no servidor Google!).
E não é só isso: você pode acessar a versão
completa da BusinessWeek online em português
!! Advogados de plantão na lista online news afirmam que isto certamente viola direitos autorais... ou seja, mais um item jurídico a ser repensado diante de uma nova situação criada pelos serviços Google.


E na semana passada (ou séculos atrás) a empresa lançou
seu news service, trazendo inovações
que sacodem o ambiente das notícias online. A principal novidade é
que os itens são compilados diretamente de 4000 fontes e a interface
é consolidada unicamente por algoritmos matemáticos, sem nenhuma
intervenção humana - nenhum editor. O WPost já tinha dado
o sinal
na semana passada, e há apenas 2 horas (segundo o próprio
Gnews), a Time em sua versão online focaliza
o assunto
. Steve
Outing
aprofunda o tema na perspectiva dos editores, e rolou também
uma discussão no Doc sobre a possibilidade de se "hackear" o algoritmo para beneficiar determinadas notícias / veículos.


Vitória a vista?! BusinessWeek sinaliza mudança de humor da mídia em relação ao ativismo digital

Foi no último dia 27, há uma eternidade portanto, mas vale registrar pelo significado. A BusinessWeek publicou o artigo "Um Caso para definir a Idade Digital" (A Case to Define the Digital Age) onde se coloca claramente a favor dos ativistas capitaneados por Lessig contra os interesses corporativos na questão dos direitos autorais. O artigo foca o debate no caso Eldred vs. Ashcroft, que é uma confrontação direta ao CTEA (Copyrights Term Extension Act), que extendeu a proteção por mais 20 anos, totalizando 70 anos após a morte do artista.

Está marcado para o próximo dia 9 de outubro a sessão da Superma Corte sobre o caso, e pela primeira vez há chances claras de vitória para o ativismo dos direitos digitais. O enfoque da análise dos juízes será questionar se a extensão do termo de proteção tem como resultado efetivo a promoção do progresso das ciências e das artes. Uma decisão contra o CTEA abala diretamete os fundamentos jurídicos do DMCA.

Doc afirma que o artigo pode ser um sinal significativo da virada de jogo nesta disputa entre Hollywood e o resto do mundo digital. Até então só havíamos colecionado derrotas nas cortes americanas, e ícones como Napster, Audio Galaxy e Aimster foram atropelados por decisões judiciais que refletiram o resultado do articulado lobby dos estúdios em Washington.

A filosofia de Doc parte do princípio de que o Business precisa de mercados, e adora "Grandes Mercados". Mercados são formados por pessoas, grandes mercados são formados por milhões de pessoas - nada como um mercado gigante onde as pessoas se sintam à vontade. Nesta equação pode estar a dica para entendermos porque a causa de Hollywood começa a ficar tão impopular na grande mídia. Veja também na Wired, no SF Gate, no Pacific News e no LA Times.

Estando em sampa desde a sexta-feira para a "jam session" da Luiza e do Miguel (meus filhos que moram aqui), e sendo hoje 30 - dia de concentração - vou ativando o contato para subir o Pico do Jaraguá e me juntar aos irmãos do Céu de Maria, do amigo Glauco.

quinta-feira, setembro 26, 2002

Após um mês... Retornando a atividade blog... e lembrando

Depois de um mês de retiro para avaliação, retoma a atividade bloguística o Ecologia Digital. Depois das primeiras blogadas fez-se urgente esta parada para tomar pé da situação, e quem sabe, redirecionar algumas diretrizes editoriais.

O fato de ter alcançado o número #1 no Google na busca do termo "Ecologia Digital" me fez pensar que o espaço merecia algo mais do que escrita experimental. Por outro lado, as características específicas da edição blog facilitam uma liberdade de expressão que nos afugenta da objetividade e personaliza o discurso, e assim acabamos ficando demasiadamente honestos na manifestação. Os resultados começam a ficar um tanto imprevisíveis...

Empacado nesta encruzilhada, eis que vejo a notícia do passamento de Bob Wallace, uma grande figura a quem conheci fortuitamente em Manaus 1996, no Congresso Internacional de Psicologia Transpessoal. Ele me foi apresentado como o dono da Mind Books, editora especializada na literatura psicodélica, e fundador da Promind Foundation, dedicada à pesquisa e a educação no tema das substâncias psicoativas. E o contexto de nosso encontro foi uma cerimônia do Santo Daime realizada como atividade paralela para os participantes do Congresso.

Após a (fantástica) sessão, tivemos a oportunidade de uma conversa sobre a beleza do cenário (a floresta amazônica) e a força do sagrado avivada pelo ritual, e desde então tenho acompanhado suas postagens para a ayahuasca mailing list, e assim sempre mantive viva a sua lembrança. Para minha surpresa, ao ver seu obituário no New York Times (!), e no Seattle Times, descubro que Mr. Wallace foi um dos fundadores da gigante Microsoft!!!.

E não só isso! Foi o primeiro dos fundadores da empresa a abandonar o barco - saiu com 400 ações que depois vieram a valer 15 milhões de dólares(!). Mais tarde em uma entrevista sobre sua saída, comentou que sua filosofia era "trabalhar para ganhar a vida, e não a morte" ("I want to make a living, not a killing"). E tem mais! Foi o criador do conceito "shareware", significando software distribuído de graça no qual usuários voluntáriamente pagam posteriormente se aprovam o produto. A empresa que fundou com base nesta filosofia, a Quicksoft, tem hoje receita de mais de 2 milhões de dólares ao ano. Que grande ativista da ecologia digital!

Perceber o significado e a influência de uma personalidade como Bob Wallace em ambos os universos, concreto e digital, trouxe-me alguma reflexão crítica sobre o conceito de Ecologia Digital. Tê-lo conhecido da forma como o conheci e acompanhar sua atuação no ambiente digital da comunidade psicodélica foi um prazer. Saber de sua importância histórica na indústria do software foi uma surpresa e trouxe-me uma constatação: a expansão da consciência está intimamente ligada ao rompimento de paradigmas.

A partir daqui, Ecologia Digital expande um pouco mais a sua temática...

domingo, agosto 25, 2002

Ói nóis na fita!! Cora e Doc. Bons pais...

Como todo filho, o Ecologia Digital vai recebendo os incentivos e a formação de seus blog-genitores para ir ganhando espaço neste admirável mundo novo.

Não posso deixar de agradecer em público o "afago" de mamãe Cora, que resultou em inúmeras visitas.

E também gostaria de registrar (com aquele orgulho de quem faz algo parecido com o pai) que Doc Searls postou algo muito parecido com o "Buchicho na Blogosfera". Dê uma olhada: "An adult`s garden of clues" (juro que postei primeiro!).

Com o incentivo de mamãe e o exemplo de papai, tenho certeza que o Ecologia Digital está bem encaminhado. O editor, satisfeito, agradece...

sábado, agosto 24, 2002

Buchicho na Blogosfera: Fricção criativa embala o debate online

Poder ser animação de principiante, mas estou simplesmente fascinado com o nível e com o ritmo da conversa que se desenrola nestas paragens do universo web - a blogosfera. Para quem está chegando agora e não está ainda familiarizado com os conceitos e os personagens da cena do ativismo web, talvez seja bom dar uma atualizada no tema das ameaças à ecologia da rede, para não perder o fio da conversa que se desenrola abaixo.

Em 24 de julho último, Lawrence Lessig apresentou a já famosa conferência Free Culture (ótimo arquivo flash), na OSCON 2002 (O'Really Open Source Convention), onde avisou ao grande público presente que seria uma de suas últimas aparições neste contexto. E foi enfático ao desafiar geeks, coders e hackers a se envolverem mais diretamente no processo político que irá defender a inovação tecnológica e a liberdade da cultura no futuro. Chegou a ser rude ao afirmar que Washington não visita os blogs ativistas, e que depois de 6 anos de muitas campanhas inspiradas em lindas palavras de ordem e muito blá-blá-blá interno na comunidade, a batalha estava sendo perdida de goleada (o DMCA foi aprovado por unanimidade no senado americano) - e "ninguém estava fazendo nada" à respeito. Conclamou a hora de cada um sacar do próprio talão de cheques e injetar o necessário combustível para suportar os movimentos de defesa organizados - agir politicamente.

O primeiro a se indignar com os torpedos provenientes de Lessig foi Dave Winer (o da aposta blog com o NYTimes) do Scripting News, que contestou sua autoridade tecnológica. De fato, o posicionamento de Lessig, já devidamente expresso no sentido de reduzir o tempo de cobertura do copyright para softwares o coloca em rota de colisão com boa parte da comunidade de desenvolvedores, como mostra o artigo de Charles Cooper publicado no 'mainstream' News.com, da CNET.

No entanto, é interessante ver como Lessig não se faz de rogado e responde a altura em seu recém criado blog, e como a conversa não poderia ser mais aberta, o assunto se alonga e se aprofunda tecnicamente no blog de Doc Searls. Inspirada, simpática e bem-humorada é a resenha de Alex Golub , sugerindo a Lessig uma performance alternativa no evento (com direito a um show musical ao final).

Enquanto isso, em outro front, Declan McCullagh, também do News.com, resolveu defender o DMCA (Debunking DMCA myths). Seu artigo aponta que os ativistas da comunidade geek (geektivists), além de não conhecerem profundamente o texto da lei, pautam suas manifestações por um exagero que não costuma sensibilizar Washington. O comentário cita mais diretamente Ed Felten (veja artigo anterior), e classifica como desproporcional a reação de Princeton e de seu empregado diante das ameaças de enquadramento de ambos como infratores do DMCA, caso fossem reveladas as descobertas de Felten sobre o SMDI - McCullagh afirma que a possibilidade de Felten chegar a ser processado era quase nula. A discussão interessante e esclarecedora começou com uma resposta assinada por Felten, Ed Lazowska e Barbara Simons, enquanto McCullagh recebeu reforço logístico por parte de Alan Adler, da Association of American Publishers (APP). O debate está em pleno desenvolvimento - na última checagem o placar estava 2 X 1 para Felten e sua turma.

Retomo a poesia da última postagem (abaixo) para saudar o frescor desse espaço de intercâmbio, cheio de vida e energia criativa.

segunda-feira, agosto 19, 2002

Mergulhando no mundo Blog: Estaremos diante do jornalismo do futuro? Tem gente apostando que sim...


Imagem original perdida. Nova imagem publicada em 30/12/2010

Por algum tempo desdenhei a ferramenta blog, que a começar pelo nome, me passava a impressão de algo pouco produtivo, ou de significado limitado. Confesso que a primeira vez que o termo blog me chamou a atenção foi em março último, no anúncio da aposta de 1 milhão de dólares que Dave Winer (Scripting News), CEO da Userland.com, fez com Martin Nisenholtz, CEO do NYTimes Digital. O desafio será decidido em 2007, tendo como critério cinco buscas a serem realizadas no Google - se um blog figurar na frente do NYTimes.com na lista de resultados em três ou mais buscas, Winer vence.

Em caso contrário, ou na hipótese das empresas de mídia se apropriarem do formato blog para publicar seu próprio conteúdo, e um blog no NYTimes figurar no topo das pesquisas em 2007, Nisenholtz vence. Esta e outras apostas "visionárias" podem ser acompanhadas no site LongBets.com.

Dave Winer e a comunidade blog apostam que, no prazo de 5 anos, pessoas bem conectadas e informadas passarão a buscar análises confiáveis em blogs.

Isto se daria como resultado da incapacidade da mídia tradicional em especializar seus reduzidos quadros de redatores e editores no acompanhamento do amplo espectro de assuntos circulando na rede. Ainda segundo esta visão, a web acostuma seus usuários a esperar "sempre mais", e o sucesso dos blogs é condicionado pela incapacidade da mídia tradicional em disponibilizar, sob variados ângulos e na agilidade necessária, a sempre crescente diversidade multi-dimensional dos temas. De fato, a independência, transparência e agilidade editorial dos bloggeiros pode realmente significar um golpe no vigente paradigma dos grandes veículos de mídia na rede. No entanto, nada impede que as grande corporações assimilem o formato e o adaptem favoravelmente para seu próprio uso - o que, se for realizado com êxito, significa vitória para o NYTimes na aposta a ser conferida em 2007. Como exemplo, o jornal britânico Guardian
já disponibiliza seu próprio weblog.

Mas, independentemente da disputa que me chamou a atenção, o fato é que ao fim de poucas horas de pesquisa me rendi completamente ao fenômeno e estou encantado com as possibilidades desse novo formato de mídia. Também saltam aos olhos, num primeiro momento, as formas de interatividade que estão sendo propostas pela comunidade engajada com o objetivo de conferir visibilidade aos blogs que surgem em profusão. Para não ficar olhando a festa do lado de fora, fui direto ao Blogger, referenciado como o melhor serviço de hospedagem de blogs na rede. Alguns momentos depois já estava devidamente "iniciado" - o feliz proprietário
de um blog novinho em folha.

Com alguns cliques configurei meu novo endereço, incluíndo comentários e estatística de visitação. Uma rápida olhada no Google me deu a dica de blogs relacionados ao tema que escolhi, aonde pude colher referências interessantes para ajustar minha idéia inicial às especificidades do formato. O estilo e a temática dos blogs de Doc Searls (um dos autores do Manifesto Cluetrain - veja entrevista em português) e de David Weinberger (JOHO), dois grandes ativistas do meio ambiente digital, serviram como ponto de partida.

O acompanhamento de diretórios como o Blogging Ecosystem me permitiu sentir o "clima" do que está rolando no meio bloggeiro mundial, e em termos nacionais não posso deixar de citar o simpático InternETC. da Cora Rónai como ótima fonte de inspiração.

Uma vez publicado, o blog carece de um item importantíssimo - visibilidade - , e é exatamente neste quesito que a comunidade blog apresenta as idéias mais criativas. Para começar, cada blog dispobiliza o seu "blogrolodex", ou listas que indicam as recomendações do autor, e linkar outros blogs nos próprios textos disponinilizados também é prática usual, fazendo do universo bloggeiro uma grande corrente. Mas o marketing dos blogs não para por aí: vasculhando nas ferramentas de divulgação deparei com o BlogTree, um serviço gratuito aonde você pode registrar os "pais" conceituais do seu blog. E então, ganhei inúmeros irmãos (filhos dos mesmos blogs que registrei como pais). Ao testemunhar no universo blog tamanha dinâmica e apelo aos nossos instintos editoriais, percebo que minha aventura na área está apenas começando...

quarta-feira, agosto 14, 2002

Defcon reúne 'hackers', 'geeks' e 'coders' em Las Vegas: Evento consagra os novos conceitos que fundem o ativismo digital no concreto

Dando um descanso para o tema das ameaças ciberbéticas (voltaremos oportunamente a elas), vamos falar um pouco sobre os "cerébros" da resistência libertária na rede - hackers, os legítimos - e de seu "braço armado": a comunidade geek.

*Geek = alguém que faz uso social do seu computador (chat, multiuser games, grupos, blogs, sites etc.). Quem só trabalha com computador não é Geek.

E o momento é propício pois aconteceu em Las Vegas, entre os dias 2 e 4 deste mês, o Def Con 10, conhecido como "o maior encontro underground de segurança na Internet do planeta". Algo assim como a convenção internacional dos hackers.

Vários temas na pauta, desde a possibilidade de tranformar um Dreamcast (console de videogame) numa ferramenta para invasão de sistemas corporativos, apresentada por Chris Davies, da RedSiren Technologies, até a discussão ética sobre possíveis "contra-ataques" cibernéticos a servidores que emitem vírus através de seus protocolos de e-mail, promovida por Timothy Mullen, da AnchorIS.

Desafiando o FBI, que no ano passado neste mesmo evento, e por muito menos, "grampeou" o nosso simpático russo Sklyarov, Adam Bresson mostrou ao público como fazer cópias caseiras de DVDs e vídeos com um aparelho chamado Canopus. A mensagem é a mesma: todos têm direito de fazer cópias de trabalhos que adquiram legalmente, e este direito está sendo ameaçado pelas proteções que estão sendo desenvolvidas pelas corporações do entretenimento. A palestra foi devidamente gravada por Adam e seus advogados para uso em possível ação judicial.

Mas o assunto do momento, na Def Con e nos sites da comunidade "geek", são mesmo as redes sem fio (Wi-Fi) que operam com base no padrão 802.11b. Esta tecnologia tornou-se muito competitiva em termos de preço nos últimos meses (Cheap Residential Gateways), e na pressa de se livrarem dos cabos de conxão, empresas, indivíduos, e seus respectivos ambientes de rede estão se tornando vulneráveis a um novo tipo de intrusão. O fato é que o novo contexto tem criado novos comportamentos, e todo mundo mundo só fala em "war driving", "warchalking" e "redes públicas de Wi-Fi". O que é isso? Aí vai uma pequena atualização para os que ainda não estão familiarizados com os conceitos.

Ao transitar por qualquer cidade relativamente bem aparelhada em termos tecnológicos, e neste caso estamos falando principalmente de Estados Unidos e Europa, você estará entrando e saindo das chamadas "bolhas" de conectividade. Se você entrar em algumas dessas "bolhas" e estiver portando um PDA ou um notebook equipado com um cartão Wi-Fi (conexão sem fio), um pequeno ícone irá aparecer em algum lugar da sua tela informando que, epa!, você está conectado à rede - e de graça!

Mas afinal, porque estas bolhas de conectividade estão dando sopa? As bolhas são projetadas por pontos de acesso Wi-Fi nos prédios ao redor, e são ocasionadas por dois tipos de administrador de sistemas:

  1. o relapso, que foi incapaz de configurar a capacidade do ponto de acesso em eliminar o acesso não-autorizado, e
  2. o altruísta, que acredita na "distribuição da riqueza" e por vezes instala potentes antenas para aumentar o raio de alcance de sua própria bolha, e assim disponibilizar acesso gratuito a mais gente.

E aí chegamos em "war driving", derivado de "war dialing" - que consiste na ultrapassada estratégia hacker de programar o sistema para chamar milhares de números de telefones em busca de conexões dial-up desprotegidas. WarDriving, termo cunhado por Peter Shipley, é circular pelas ruas da cidade de notebook com cartão de conexão Wi-Fi ligado a uma antena Lucent, e um receptor GPSanexo para anotação das coordenadas - em poucas horas este kit hacker pode localizar mais de 80 redes abertas para conexão numa cidade como San Francisco.

A Def Con 10, como não poderia deixar de ser, promoveu um concurso de WarDriving paralelo aos Foruns e às (famosas) FESTAS (foto ao lado) que caracterizam o evento. Os resultados assinalando os locais e as características das redes detectadas, os quais ainda serão consolidados para melhor divulgação, já podem ser acessados na rede. Não passou desapercebida aos simpáticos contraventores inscritos no concurso de WarDriving a tentativa do FBI em monitorar seus passos - interceptaram mensagem de um agente alertando a corporação sobre o plano da turma.

E a novidade agora é WarChalking, pois melhor seria se estas bolhas de alguma forma se tornassem visíveis aos usuários. E se de repente, andando pela rua, você encontra sinais marcados em giz (chalk) lhe dando todas as dicas sobre como conectar a rede ali disponível? Warchalking (www.warchalking.org) é um movimento para mobilizar a comunidade "geek" a decidir uma iconografia padrão para a "rede Wi-Fi pública". Partindo da iconografia hobo, que marcou época nos EUA como meio informal de comunicação para viajantes, a turma do WarChalking já está mapeando a "rede pública" e gratuita de acesso à Internet de posse dos cartões (modelo ao lado) que são disponibilizados em arquivo pdf.

Não estamos realmente diante de um novo meio ambiente? No caso do WarChalking, a esfera digital se confunde com o concreto e manifesta a a sua virtualidade nas paredes e muros das grandes cidades. Sinais do futuro?

sexta-feira, agosto 09, 2002

As ameaças ao meio ambiente digital (1)

Hoje começarei a explicitar quais as ameaças ao ambiente digital justificariam a formação de um movimento ecológico preservacionista para a rede. Vamos enumerá-las em capítulos, começando pelo vilão mais conhecido - o DMCA.

O"Digital Millenium Copyright Act" (DMCA) é um ataque violento, sob a forma de lei, ao renovado domínio público proporcionado pela Internet, e está em vigor desde 1998.

É claro que estamos falando de uma lei americana, que vale por lá, mas é bom ter em mente que as regras que padronizam o funcionamento de hardware, de software, da rede e dos copyrights para os EUA terão grande chance de se tornarem hegemônicas no mundo. Ou não?! Comentários?

O fato é que em seus quase quatro anos em vigor, o DMCA tem possibilitado inúmeros ataques à livre expressão, ao justo direito de livre uso à obras adquiridas, e ao desenvolvimento da pesquisa científica. Maiores detalhes sobre os efeitos indesejáveis do DMCA podem ser conferidos em: "Unintended Consequences: 3 Years under DMCA" (arquivo pdf) - Relatório de Fred von Lohmann, consultor de propriedade intelectual do "Eletronic Frontier Foundation" (o mais importante movimento organizado no assunto). Vamos citar os fatos mais relevantes para o entendimento da questão, e também as devidas referências:

Liberdade de Expressão e a pesquisa científica sofrem constrangimento sob
a seção 1201 do DMCA:

(1) Ação judicial contra a 2600 Magazine (veja as últimas
atualizações sobre o caso
), pela publicação do código do programa DeCSS, desenvolvido por Jon Johansen (foto). Trata-se de um simples aplicativo Windows que permite a decifração do CSS ("Content Scrambling System"), que é o sistema de encriptação mais usado pelos DVDs comerciais,
tornando possível a cópia dos arquivos contidos no original para o HD pessoal. Ou seja, um aplicativo que permite que se manipule a nível privado conteúdos adquiridos de forma justa e legal no momento da compra
do DVD. No entanto, sob as premissas do DMCA foi engendrada a ação contra a revista e a prisão de Jon, nosso "nerd" de plantão, na Noruega.

(2) As ameaças ao professor Edward Felten e sua equipe, de Princeton, que aceitaram (e venceram) um desafio proposto pelo SMDI (Secure Digital Music Initiative) - organização encarregada de criar mecanismos anti-pirataria nos CDs de áudio através de marcas-d'água
digitais. A tarefa do desafio era decifrar o código e retirar as marcas que impediam a cópia, e aos vencedores estava reservado um prêmio em dinheiro, com a condição de se manter sigilo sobre o que fosse descoberto. O professor Felten considerou que seria mais interessante compartilhar sua descoberta com a comunidade de desenvolvedores, o que ajudaria a expor as contradições do DMCA - que tem como resultado o bloqueio ao avanço de novas tecnologias de segurança. Em função desta decisão, o pesquisador passou a ser ameaçado por advogados corporativos. O caso
gerou a disputa Felten v. RIAA (Recording Industry Association of America, o todo poderoso cartel das gravadoras), que contesta a constitucionalidade do DMCA em permitir a censura a divulgação de conhecimento científico.

(3) A perseguição do FBI ao programador russo Dmitri Sklyarov foi o primeiro caso criminal a ser conduzido com base no DMCA, que deve prosseguir com a audiência marcada para o próximo dia 26 deste mês. Dmitri ajudou a desenvolver o software Advanced E-Book Processor para a empresa russa Elcomsoft, e foi preso em Las Vegas em julho de 2001 num dos encontros DEFCON (encontro mundial de hackers) sob a acusação de distribuir produto destinado a burlar medidas de proteção de direito autoral.

O software permite aos possuídores de eBooks (formato proprietário da Adobe Systems)
traduzir do formato "seguro" para o formato pdf, facilitando sua re-instalação em outra máquina e possibilitando o justo re-aproveitamento do conteúdo do eBook para fins pessoais. Após 6 meses preso nos EUA longe dos familiares, Dmitri (foto com a família) hoje aguarda em Moscou o desenrolar do processo.

Continua...